Livro ressuscitado
Há 53 anos atrás, com muita coragem e – por que não – desassombro -, resolvi escrever um livro. Nos meus 32 anos de idade, casado com Shirley e pai de Janine, Jaqueline e Fernanda, bacharel em Direito, cursando História na UCP, funcionário do Banco do Estado do Rio de Janeiro S/A, ator e dirigente do Teatro Experimental Petropolitano, integrante do movimento hoquista no Atlântico Hóquei Clube, colaborador na imprensa local com artigos e produção poética, soube que o Departamento de Cultura do Estado do Rio de Janeiro lançara um concurso literário, de âmbito nacional, em comemoração ao centenário de nascimento do grande político fluminense Nilo Peçanha. Pouco sabia sobre ele mas possuía valioso acervo sobre o expressivo homem público que meu pai colecionara, já que fora “nilista” devotado, admirador do tribuno e que ocupara a cadeira nº 5, na Academia Petropolitana de Letras que tinha por patrono Nilo Peçanha, da própria escolha de Joaquim Heleodoro III quando idealizou a Associação de Ciências e Letras e participara efetivamente na transformação do sodalício em Academia. Livros e documentos e o preciosíssimo discurso de posse de meu pai animaram a que tentasse, em 20 dias, escrever e montar uma obra literária sobre o centenário homenageado. Madrugadas e o dedilhar frenético do texto na máquina de escrever, em 5 vias carbonadas, e lá foi minha esposa Shirley, no dia fatal, 20 de setembro de 1967, inscrever o trabalho, que tomou o nº 5. Fui o vencedor, recebi uma soma em dinheiro e a promessa da edição do livro “Nilo Peçanha, vulto inconfundível” pela Imprensa Oficial do Estado.
Transcorreu meio século, o departamento de cultura estadual perdeu o original e as cópias e eu fiquei lambendo a triste lembrança de haver meu livro desaparecido para sempre. Eu só me lembrava do título, que havia tomado emprestado do discurso de posse de meu pai na A.P.L.
Porém, divina providência atenta, estava eu em Niterói, no Teatro Municipal João Caetano, representando o personagem Fontes, na peça de Ricardo Meirelles “A Noite de Teresa Cibalena” compondo o elenco com minha filha Janine Meirelles (Teresa) e o ator Roberto Carvalho (Paulo) e, no final do espetáculo – que foi um sucesso! – se apresentou diante de mim o escritor Latour Arueira, para os cumprimentos e ele me perguntou se havia sido eu o vencedor do concurso sobre Nilo Peçanha. ” – Sim, foi o que respondi. E ele: “Pois fique sabendo que integrei o júri do concurso e guardei uma cópia do seu livro!”
Devo ter escalado as cortinas do palco e me pendurado nas gambiarras de luz de tanta felicidade.” – Verdade, sr. Latour?”. ” – Verdade e ele – o livro – foi publicado? – perguntou.
Esclareci a Latour o imbróglio da perda de toda a obra e ele, feliz, risonho me reintegra a esperança que estivera tão abalada: ” – Me dê seu endereço que enviarei os originais para você!”
E foi o que fez e recuperei a obra. Sem condição financeira de editar e sabendo não contar com a tal Imprensa Oficial do Estado, guardei em meu arquivo aquele sonho do 1º livro editado.
(Na próxima semana, a narrativa feliz da publicação do livro em Campos dos Goitacazes)