Liturgia
A palavra tem origem no grego “leitourgos,” servia para descrever alguém que fazia serviço público, presidia ou dirigia uma cerimônia sagrada, portanto uma compilação de ritos e cerimônias a serviço do ofício divino, sobretudo das igrejas cristãs. Não obstante a ênfase ao conjunto dos elementos e práticas do culto religioso quais sejam missa, cerimônia, orações, comunhão, etc. instituídos pela igreja a liturgia está presente nos diversos cargos e funções, cerimoniais e cumprimento de formalidades e rituais desde os paramentos e insígnias. Revivo o fim dos anos noventa e início do ano dois mil quando cursamos com o inesquecível Dr. Jorge Ferreira Machado dentre os amigos que ainda hoje povoam nossos corações as aulas no Curso de Teologia no Instituto Teológico Franciscano. O Corpo Docente era de alta envergadura e nessa disciplina os Freis José Oriovaldo da Silva, Fernando Araújo Lima e Alberto Beckäuser estetas incansáveis no ministério curricular. Em meio às alocuções nos lembravam de que o homem desde a antiguidade buscou um contato com a divindade sejam na expressão corporal, cantos, danças, genuflexões, prostrações, e inclinações. Nesse limiar as plantas, os animais e as flores faziam parte do ritual a serviço da celebração. Criaram neologismos, frases, palavras e homilias ao celebrar a vida. Ao perscrutar a palavra celebrar, sua importância a resumimos na exaltação, tornar célebre em honra, cercado de cuidado e benquerer. A liturgia se faz presente em várias fases da vida. A liturgia está nas orações unindo o humano ao divino e do céu o Criador as acolhe. É o diálogo entre Deus e seu povo na celebração do mistério e memorial da salvação. A Eucaristia celebra a morte de Cristo em nosso favor se constituindo em ação de Cristo e ação da Igreja. São sinais sensíveis, onde os gestos e palavras nos comunica uma realidade invisível, mas, real nas Pessoas do Pai, Filho e Espírito Santo. A liturgia sem a fé seria mero espetáculo vazio aos objetivos cristãos. Ao deitar ou se levantar a imagem, o terço, os textos sagrados que estão à mesa de cabeceira não são mero adorno, eles reportam ao espiritual. A palavra é o veículo comum nas comunicações entre pessoas. Na igreja o espaço celebrativo, a ornamentação, os objetos litúrgicos, paramento, expressão corporal e símbolos fazem parte do conjunto harmônico na liturgia. Nesse mesmo diapasão a postura, sentados ou de pé, prostrados, ajoelhados ou em genuflexão, estaremos cumprindo a liturgia. Há quem pense que o silêncio seja a inexistência da palavra, no entanto, ele é, sobretudo, uma atitude de fé e reverência ao Deus Uno e Trino em Cristo Ressuscitado. Ele nos permite introspecção ao mistério, conforta e alimenta. Na Santa Missa há vários momentos em que nos recolhemos ao profundo silêncio a exemplo do “Oremos”; depois da homilia, durante a Consagração Eucarística a ausência de ruídos é imprescindível. Profundo silêncio em adoração sem manifestações musicais ou palavras dos fieis naquele instante! Muitos desejam saber o que é ostensório, ambão ou estola. O tempo e a dedicação se encarregam de nos habituar com a âmbula, chamada também de cibório ou píxide, aspersório, caldeirinha, castiçal, cálice, candelabro, galhetas, custódia, círio pascal, corporal, hóstia, incenso, patena, pala, manustérgio, Pia Batismal, naveta, andores, luneta, partícula, turíbulo, teca, sanguinho. Durante a Santa Missa invocamos o “aleluia” principalmente na aclamação do evangelho ao louvarmos ao Senhor, exceto na quaresma. Todos os objetos usados a serviço do altar são conhecidos como alfaias. Quando dizemos “amém” é o mesmo que “assim seja”, “de acordo”, “sim” é, no dizer de Santo Agostinho “a nossa assinatura”, “o nosso compromisso.” Ele expressa a ideia principal. O cânon da missa, epiclese, epístola, doxologia, epístola são parte da liturgia que nos permite a beleza de convivermos com o ritual da compreensão da “fração do pão”. Esta divagação Senhor é um pedido de piedade neste momento em que revivo as aulas e, sobretudo, uma invocação a Vossa misericórdia por intermédio deste inesgotável tema asseverando que viver é uma sagrada liturgia.