• Literatura: centenário de João Cabral

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  • 17/01/2020 12:42

    Neste mês de janeiro, ocorre o centenário natalício do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920- 1999). Incontestavelmente exemplar, cuja produção poética se alçou, ao longo dos anos, a um nível de excelência raras vezes atingido em nossa poesia, João Cabral deixou uma obra que prima pela concisão e pelo despojamento anti-sentimental, buscando expressar-se sem emoção, numa postura racional e bastante lúcida.

    Nenhum poeta antes dele, e nenhum depois, conseguiu fazer poesia com linguagem tão enxuta, tão desprovida de ornatos dispensáveis e que acabou por servir de paradigma: o antilirismo de Cabral significou uma tomada nova para a poesia brasileira, influenciando decisivamente a Poesia Concreta.

    Autor de dezenas de volumes de poesia, cabe mencionar aqui os principais: Pedra do Sono (1942), livro de estréia onde já aparecem a linguagem enxuta, bem como a imagética basicamente visual; O engenheiro (1945) e Psicologia da Composição com a Fábula de Anfion e Antiode (1948) são os livros seguintes, representando a maturidade criativa do poeta; O cão sem plumas (1950), O Rio (1954) e a coletânea Duas Águas (1956) significaram a abertura do poeta para a vertente social; em Duas Águas incluem-se dois poemas seminais: ‘Uma faca só lâmina’ onde o tema é próprio processo de composição no qual, “o encadeamento de imagens cria níveis sucessivos de afastamento do real” (Antônio Carlos Secchin, em João Cabral: uma fala só lâmina, 2014, p. 127); e o poema dramático Morte e Vida Severina, que constituiu a expressão máxima da vertente social no poeta.

    Em A Educação pela Pedra (1966), Cabral abandona o metro de sete sílabas; os metros são mais amplos e quase todos os poemas se compõem de duas partes simétricas, nas quais convém salientar as dos poemas intitulados “The Country of the Houyhnhnms” e “A Educação pela Pedra”. Daí em diante, definitivamente consagrado nacional e internacionalmente (está traduzido em espanhol, alemão, francês, inglês, italiano, holandês, romeno, tcheco e catalão), publicou mais alguns volumes, sobretudo A Escola das Facas (1981), Agrestes (1985), Crime na Calle Relator (1987), Sevilha Andando (1989), além de novo poema dramático, Auto do Frade (1984), reconstruindo todo o episódio da execução de Frei Caneca, fuzilado no Recife em 1825, após o fracasso da chamada Confederação do Equador (1824).

    Vitimado por um sério problema de visão, Cabral deixou de escrever. Faleceu no Rio de Janeiro (1999). E o conjunto de sua obra mostra que o poeta buscou sempre o “sentimento humano” por baixo das meras manifestações epidérmicas, tomando a linguagem como coisa em si, fonte de apreensão sensível da realidade. Assim, tornou-se único e universal.

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