Lições de uma crise
O esforço coletivo para a busca de soluções construtivas resultou finalmente no plano que recolocará em ordem as finanças do Rio. Os detalhes do plano já foram amplamente expostos pela imprensa e pela comunicação oficial e chegam a R$ 63 bilhões. Em resumo, o Rio decidiu enfrentar responsavelmente as dificuldades, com a decisiva participação dos Três Poderes da República e do estado, cujos parlamentares e demais representantes compreenderam o momento difícil pelo qual passamos e, juntos, buscaram a solução.
Há muitas lições a tirar desse difícil período, do qual, finalmente, estamos saindo. A primeira delas, e não vamos fugir da autocrítica, é que a gestão pública nos tempos de vacas gordas deve sempre levar em conta a possibilidade real de vir adiante um período de vacas magras. Não só no Rio, mas no Brasil todo, estivemos nos últimos anos habituados ao crescimento constante das receitas, e projetamos despesas sempre crescentes. Isso está muito errado.
A segunda lição: na hora da grande dificuldade, devemos seguir o velho conselho de que é melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão. Procurar responsáveis pelos problemas é sempre necessário, e cada um deve responder pelos seus atos, mas crises agudas e muito graves exigem em primeiro lugar providências para evitar o pior.
Terceira lição: o limite da disputa política é o sofrimento da população. As diferenças políticas são saudáveis numa democracia, mas, quando o povo sofre por causa da guerra entre os políticos, alguma coisa está errada. Felizmente, mesmo num ambiente de grande tensão política, o Rio reuniu forças para fazer o que precisava ser feito. E a todos que ajudaram nessa construção vai aqui meu agradecimento pessoal. Quero também deixar registrado um pedido de desculpas aos servidores e pensionistas. Sei os transtornos que esse período de dificuldade provocou na vida dos que oferecem ou ofereceram serviços de qualidade à população.
Quarta lição: em crises assim não há como resolver o problema se cada um pensa apenas em si. Ou salvam-se todos ou afundam todos. Não existe, principalmente, como manter privilégios particulares em épocas de crise coletiva. Em situação de desastre, a sabedoria manda reunir forças e buscar soluções que resolvam os problemas do conjunto.
Quinta lição: a política acaba submetendo-se à aritmética, por bem ou por mal. Se falta dinheiro, ou cortam-se despesas ou aumentam-se as receitas. Ou ambas, que foi a saída decidida para o Rio. No setor público, sempre que se tenta esquecer a aritmética, ela reage com violência, por meio da inflação e do colapso.
E sexta e última lição, talvez a mais importante: políticos são eleitos para enfrentar desafios, nunca para fugir deles, escondendo-se atrás de justificativas. O governante é o capitão do barco. Sua missão é levar todos a um lugar seguro. Neste momento, minha missão era levar o Rio até terra firme. Foi o que procurei fazer. Acredito que consegui cumprir a missão, com a ajuda de Deus.