• Ler para conhecer-se

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  • 26/07/2021 15:18
    Por Ataualpa Filho

    Ler para existir e resistir. Há um universo entre a realidade e a ficção no qual não pairam limites para a imaginação. A vida inspira e transpira pela criação. O humano torna-se criador e as criaturas são construídas pela linguagem. O verbo carrega o DNA da alma. Ler é navegar pelo mar que se descobre dentro de si, é ir pro-fundo. A leitura é um processo contínuo que não estabelece fronteiras entre o consciente e o inconsciente. O livro é um mundo. Abri-lo, sem medo de descobrir-se, é o desafio. Por isso que a alfabetização e o letramento são imprescindíveis na construção de uma sociedade com hierarquia de valores centrados no bem comum.

    A educação está na raiz do processo evolutivo da humanidade. Não reconhecer a importância do trabalho do educador é um ato insano. O estágio em que se encontra a civilização humana se deve a essa arte empenhada na promoção do ser.

    “Um país se faz com homens e livros”, já afirmara Monteiro Lobato. Pelo reconhecimento da importância que ele dava à leitura, principalmente na infância, foi instituído o 18 de abril como o Dia do Livro Infantil, uma alusão à data de nascimento desse escritor que criou tantos personagens que habitam o nosso imaginário.

    Quando se pretende distanciar um povo dos livros, é porque existe a nítida intenção de cercear a liberdade. Isso ocorre quando a estupidez perde a vergonha pela arrogância do poder e a violência encontra respaldo político. O homem foi criado para viver em paz consigo e com o próximo. O silêncio da leitura pacifica, transporta-nos para o mundo do equilíbrio da sensatez, alimenta a ternura.

    Abordei esse assunto para destacar a importância dos mediadores de livros e histórias. Não só a infância necessita dessa mediação, como também os adultos, pois se trata da preservação da memória do povo.  No poema “O Livro e a América”, Castro Alves já dissera: “Desta sede de saber, /Como as aves do deserto –/ As almas buscam beber…/Oh! Bendito o que semeia/Livros… livros à mão cheia…/E manda o povo pensar! /O livro caindo na alma/É germe – que faz a palma, /É chuva – que faz o mar.”

    Fico apreensivo, quando vejo a cultura em rota de colisão com a política, porque nesse conflito quem sai perdendo é a Arte. Se de um lado, afia-se a tesoura da censura; do outro, surgem manifestações estéticas sem consistência teórica, são expostas apenas pelo ímpeto da rebeldia.

    As ações equilibradas exigem ponderações, respeito mútuo e atitudes coerentes pautadas na ética, na moral. A paz é a alternativa que melhor expressa o desejo da humanidade. A guerra, embora esteja no nosso dia a dia, ninguém se depara com ela impunimente, portanto, não há como habituar-se com o medo da morte. O viver seria menos trágico se tivéssemos menos compromissos e fôssemos mais comprometidos com o amar e ser amado. O amor está mais presente na arte do que na vida.

    Concordo com Voltaire quando dissera que “a leitura engrandece a alma”, porque esta fica mais acessível pelas vias do carinho e da palavra. A alfabetização e o letramento são imprescindíveis no atual estágio da civilização humana. Temos acesso ao mundo por meio da linguagem. Francis Bacon foi quem afirmou que “a leitura traz ao homem plenitude, o discurso segurança e a escrita precisão”.

    A partir da leitura dos livros, podemos enxergar melhor a realidade, porque assim compreendemos melhor a natureza humana. Olho para uma biblioteca como se olhasse para o céu em noite enluarada, vejo muitas estrelas que brilham dentro de nós. Educar é tirar alguém da escuridão. A ignorância é usada como um cabresto político, pois assim, as pessoas se tornam mais fáceis de serem manipuladas. Educar é libertar do analfabetismo, é levar o Sol à consciência de cada cidadão.

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