Justos ou justiceiros?
Em tempos tão conturbados como o que vivemos, numa avaliação sobre justiça, a população, grosso – modo, tende ou não a ser mais justiceira do que justa?
Justo é aquele que dá de modo consciente a cada um aquilo que lhe pertence de direito. Justiceiro é aquele que dá de modo inflexível, aplicando rigorosamente a lei, sendo parcial, no que diz respeito aos pertences de determinada pessoa.
O primeiro fundamenta seu julgamento na verdade, revendo motivos, circunstâncias, intenções, deveres e direitos dos cidadãos envolvidos na questão. O segundo fundamenta seu julgamento em interesses pessoais ou de grupo (ou classe), sem se importar com os motivos, as circunstâncias, intenções, os deveres e direitos dos cidadãos envolvidos na questão. Este age por má-fé, extorquindo uma das partes, distorcendo fatos em proveito particular. Aquele, ao contrário, almeja ser o mais fidedigno possível, no sentido de favorecer a ambas as partes envolvidas, para o bem geral.
No tempo dos bárbaros, naturalmente, na sua rudez, os seus direitos e deveres eram defendidos e mantidos à moda justiceira. É de admirar que hoje ainda, os que advogam lancem mão de práticas humanamente inconcebíveis à sociedade desenvolvida sob a égide do Direito Canônico, surgido no seio da cristandade, onde a justiça deve ser alicerçada na veracidade dos fatos, na boa-fé, no absolutamente imparcial.
Já naquele tempo, a lei era manipulada, sem sombra de dúvidas, a favor de uns e contra outros (que pudessem colocar em risco o poder político); tudo dependia dos interesses dos que a regiam. Haja vista o julgamento, morte e crucifixão de Jesus Cristo, o Filho de Deus! Jesus Cristo amava sobremaneira os pobres puros de coração, bem como os ricos puros de coração. Ele amava e ensinava a doutrina a todos que a desejassem praticar. Lamentavelmente, o espírito de lucro (tão condenado pelos primeiros cristãos) é disseminado no seio da sociedade. Convém frisar que, tanto para o cristão da Igreja primitiva como para o de hoje, luta de classe é algo inadmissível. Cristo não foi o maior injustiçado? Por que havemos de querer outros? A queda do Império Romano é atribuída à invasão de bárbaros. Então, a barbárie continua? De fato, o juridismo romano nasceu em berço greco-romano, em contraposição a regras (desde Moisés) e ideologias da época. Retrocedemos? O cristianismo é ou não é elemento de preponderância na condução da humanidade desde sempre? E deveria evoluir e não o contrário! Afinal, o fermento da Palavra de Jesus Cristo é inextinguível. Pelo menos, para o católico que se diz praticante.
Se, hoje, a justiça limita-se, como outrora, a cumprir a Lei Mosaica, a lei praticada pelos Mestres da Lei e fariseus, a moral cristã que lhe é intrínseca passa a elemento meramente formal ou secundário. Precisamos, certamente, de juristas bem pagos, mas também conscienciosos no seu dever, não importa se agnósticos confessos ou não. Deveriam sentir-se obrigados a abrir mão de certos abusos de autoridade, bem como de regalias que lhes comprometem junto do resto da população vilipendiada em seus mínimos direitos, a maioria seguidora de princípios fundamentados na fé cristã. Que sejam justos com todos!
As tendências materialistas da sociedade consumista tornam-se verdadeiras heresias. Proliferam por via fácil: a ignorância de grande parte do povo. A justiça é feita de modo demasiadamente legalista ou, por que não dizer : burocrático. Isso dá margem a mudanças contínuas na lei, ao bel-prazer dos governantes, sobretudo as concernentes a salário! Este desmando, está comprovado, desde tempos remotos.
O Profeta Jeremias (18, 18-20) fora alvo de arbitrariedade. Os que conspiravam contra ele sabiam que o sacerdote não deixa morrer a lei; o sábio é um bom conselheiro e o profeta divulga a Palavra. Por isso, os meios usados pelos adversários de abafar esses três elementos essenciais à justiça é atacá-los com a língua e desviar a atenção às palavras que proferem.
A despeito de tudo, o justo intercede pelos inimigos, na tentativa de afastar deles a ira divina! O que resta a Jeremias, senão dizer: “…acaso pode-se retribuir o bem com o mal?” (Jr 18,20). Valendo-se de seu livre-arbítrio, Jeremias prefere o bem ao mal; ao passo que seus adversários optam pelo mal. Não obstante, a justiça de Nosso Senhor todo poderoso nunca falha! Quem separará os justos dos injustos?