• Juros: mercado reforça postura defensiva com seara fiscal e taxas avançam

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  • 18/out 18:06
    Por Denise Abarca / Estadão

    Os juros futuros terminaram a semana pressionados para cima, com as taxas de médio e longo prazos bem próximas dos 13%, mais uma vez afetadas pelo temor fiscal, que também foi a tônica da semana. O noticiário não chegou hoje a trazer fatores de impacto direto, mas a cada dia sem sinal positivo sobre corte de gastos as taxas sobem por inércia. O presidente Lula teve agenda pública, mas não se manifestou a respeito da agenda de revisão de despesas, o que tem gerado apreensão no mercado. Com as contas públicas subindo no telhado e as incertezas do ambiente externo, as taxas acumularam alta na semana.

    A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 12,70%, de 12,69% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 subiu a 12,90%, de 12,85%. A taxa do DI para janeiro de 2029 marcava 12,91%, de 12,90%, com máxima a 12,99%.

    Nas cinco sessões da semana, houve queda de taxas apenas na segunda-feira, com o mercado computando na sequência uma série de notícias negativas da seara fiscal. A de que o governo pretende lançar um pacote de contenção de gastos após as eleições trouxe algum alívio na segunda, mas foi engolido depois pela leitura negativa dos projetos que pretendem excluir estatais do Orçamento e pelo fundo de aviação de R$ 4 bilhões anunciado para socorro a empresas aéreas.

    Hoje, no lançamento do programa Acredita, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou uma linha de crédito de R$ 150 milhões para empresas afetadas pelo apagão em São Paulo. Os recursos virão do Fundo Garantidor de Operações (FGO), que tinha como finalidade ajudar empreendedores gaúchos afetados pelas enchentes de abril. A medida não terá impacto nas contas públicas, pois o dinheiro tem origem em um crédito extraordinário aprovado pelo Congresso. O presidente Lula, também presente ao evento, não tocou no tema da revisão de gastos, o que poderia dar algum respiro para os ativos, a depender do que viesse.

    O sócio e diretor de investimento da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, lembra que o mercado vem sofrendo há semanas com a questão fiscal. “Nesse período, os preços têm alternado momentos de melhoras muito curtas com pioras consecutivas e contínuas, que duram dias e geram realmente mudança de nível de preço para pior”, discorreu. Mais do que fundamentos, o comportamento reflete, na sua avaliação, um “problema claro” de credibilidade. “A gente tem um governo que se comunica mal e que não consegue implementar medidas responsáveis e racionais que façam sentido de verdade para o fiscal”, resume.

    As perspectivas de curto prazo não apontam chance de alívio consistente, num momento político também que atrapalha. “A agenda do Congresso está parada por causa das eleições municipais”, afirma o diretor, citando ainda os entraves gerados pela disputa pelas presidências da Câmara e Senado no começo do ano que vem e a questão do pagamento de emendas que estão suspensas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

    O exterior também não tem contribuído, dado o aumento das incertezas vindas da eleição americana, mais especificamente o fortalecimento, ainda que moderado, das intenções de voto do ex-presidente Donald Trump nas pesquisas eleitorais. Em meio a isso, ainda tem a claudicante situação da China e a guerra no Oriente Médio, que têm afetado as commodities e ajudado a pressionar o câmbio. A moeda hoje fechou perto de R$ 5,70, a R$ 5,6989.

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