Juros: mercado digere reajustes da Petrobras e taxas encerram com viés de baixa
Os juros futuros encerraram a segunda-feira perto da estabilidade, com viés de baixa, após uma manhã em alta moderada. A melhora espelhou o alívio no mercado de Treasuries e de câmbio, se sobrepondo à reação negativa ao novo aumento das medianas de inflação na pesquisa Focus que respondeu pelo avanço das taxas na parte de manhã. O anúncio de reajuste nos preços de combustíveis pela Petrobras, mesmo com impacto importante na inflação, foi recebido sem sustos, dada a leitura de que reduz a percepção de ingerência política sobre a estatal.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,575%, de 10,596% no ajuste de sexta-feira e a do DI para janeiro de 2026, a 11,21%, de 11,24% no último ajuste. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,51% (11,55% na sexta-feira) e a do DI para janeiro de 2029 passava de 11,93% para 11,90%.
O mercado começou o dia ensaiando uma realização de lucros acumulados na semana passada, quando a curva devolveu prêmios pela melhora da percepção fiscal e pelo ambiente externo mais propício ao risco.
As taxas subiam a despeito do IGP-DI de junho, de 0,50%, ter desacelerado mais do que a mediana das estimativas indicava (0,58%), pressionadas pelo Boletim Focus. A mediana para o IPCA de 2024 avançou de 4% para 4,02% e para 2025, horizonte relevante da política monetária, subiu de 3,87% para 3,88%. Para 2026, permaneceu em 3,60%. “Apesar do Copom hawkish, com manutenção da Selic e sem indicação de mais cortes à frente, as expectativas ainda não se estabilizaram, desancoradas em relação à meta de 3%”, observam os economistas do Citi.
Para o sócio e estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, a piora nas expectativa de inflação foi determinante para o comportamento das taxas pela manhã, juntamente com o ligeiro aumento nos retornos dos títulos do Tesouro dos EUA. “Mais tarde, houve um alívio nos Treasuries, favorecendo o câmbio e a curva local”, disse. O dólar, naquele momento, zerou a alta e voltou a rodar perto de R$ 5,45, após ter se aproximado novamente de R$ 5,50 nas máximas da manhã. No fechamento, era cotado em R$ 5,4766.
No começo da segunda etapa, veio o anúncio do reajuste nos preços de combustíveis, mas as taxas não reagiram. Mais que isso, zeraram a alta e bateram mínimas da sessão. Os aumentos de R$ 0,20 no litro da gasolina e de R$ 3,10 no botijão de GLP vão vigorar a partir de amanhã, com impacto calculado entre 16 e 21 pontos-base no IPCA, entre julho e agosto.
Com isso, várias casas revisaram para cima sua estimativa de inflação para 2024, como a Quantitas Asset, que elevou sua projeção de 4,1% para 4,3%, o que deve contratar nova deterioração nas medianas de IPCA nas próximas pesquisas Focus.
Por outro lado, a decisão sugere que, apesar do impacto inflacionário, a política de preços da Petrobras está acompanhando as forças de mercado, o que impulsionou as ações da companhia e neutralizou o efeito nocivo sobre a curva. O ajuste na gasolina é visto como necessário para suavizar parte da defasagem, em torno de 18%, em relação aos preços internacionais, e não cobre totalmente essa diferença. “Caso a Petrobras venha a zerar a defasagem da gasolina, o impacto no IPCA será de 25 pontos-base”, afirma o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.