Juanita Castro, irmã e opositora de Fidel que colaborou com a Cia, morre aos 90 anos em Miami
Juanita Castro, a irmã mais nova dos ex-líderes cubanos Fidel e Raúl, aos quais se opôs por décadas, faleceu nesta segunda-feira, 4, aos 90 anos em Miami, nos Estados Unidos, conforme informado por uma jornalista próxima à família.
“Hoje, nos deixou Juanita Castro, uma mulher excepcional, lutadora incansável pela causa de sua Cuba que tanto amava”, escreveu Maria Antonieta Collins, autora das memórias da falecida, que vivia em Miami desde a década de 60.
Juanita Castro deixou Cuba em 1964 após romper com seus irmãos Fidel – falecido em Havana em 2016 – e Raúl, devido a desacordos sobre a direção que a revolução estava tomando. Ela se exilou em Miami, de onde denunciou publicamente o trabalho de seus irmãos à frente da ilha e colaborou até com a CIA, sob o pseudônimo “Donna”, nos planos para derrubá-los, conforme ela mesma narrou. Na cidade da Flórida, a caçula dos Castro abriu uma farmácia onde trabalhou por décadas.
De acordo com a Univisión, Juanita Castro faleceu de causas naturais em um hospital de Miami. “Sua irmã Emma e sua família pedem privacidade neste momento tão doloroso. Não haverá entrevistas e, de acordo com sua vontade, seu funeral será privado”, escreveu Maria Antonieta Collins em sua publicação no Instagram.
Papel duplo
Juanita apoiou a revolução contra Fulgencio Batista, mas logo depois da vitória dos rebeldes começaram as primeiras divergências com seu irmão Fidel, como resultado do início da perseguição política àqueles que não concordavam com a ideologia do regime comunista.
Em 1961, Juanita começou seus contatos com a CIA, a agência de inteligência dos EUA, em uma viagem ao México para visitar sua outra irmã, Emma. Em seguida, ela comprou um apartamento em Havana, onde escondeu pessoas perseguidas politicamente e também ajudou freiras que foram expulsas da ilha, segundo a emissora de televisão americana em espanhol Telemundo.
Alguns anos após o triunfo da revolução cubana, em 1964, Juanita deixou a ilha rumo ao México e, alguns meses depois, exilou-se nos Estados Unidos, país do qual se tornou cidadã em 1984. Seu duplo papel de irmã dos líderes da Cuba comunista e membro do exílio na Flórida foi algo difícil de lidar, como ela contou em suas memórias, intituladas Fidel e Raúl, meus irmãos – a história secreta.
“Sem dúvida, sofri mais do que o resto do exílio porque em nenhum lugar do estreito da Flórida me dão trégua, e poucos são os que compreendem a paradoxo da minha vida”, escreveu. “Para os de Cuba, sou uma desertora porque saí e denunciei o regime estabelecido. Para muitos em Miami, sou uma pessoa ‘non grata’ por ser a irmã de Fidel e Raúl”.
Ela sempre demonstrou suas diferenças políticas com o regime de Havana e, embora em 2016 tenha lamentado a morte de Fidel Castro, disse que não planejava comparecer ao funeral. Em uma entrevista à rede hispânica Univision anos depois, ela contou que os dois estavam “separados por motivos políticos havia muitos anos”, mas que os sentimentos e os laços familiares haviam sido mantidos “com muita dor” de sua parte.