Jovem petropolitano morre queimado em instituição para menores infratores, no Rio
Um adolescente petropolitano, de 15 anos, morreu no último sábado, vítima de um incêndio, que atingiu o alojamento da instituição para menores infratores na Ilha do Governador, onde estava internado. O jovem chegou a ser socorrido e levado para o Hospital Souza Aguiar, mas não resistiu aos ferimentos. Segundo os agentes que trabalham na instituição, o incêndio, que atingiu o local onde ele estava, com outros oito garotos, aconteceu pela manhã e pode ter sido criminoso. Eles revelaram ainda que o garoto era um dos mais tranquilos da unidade. O adolescente foi sepultado na tarde de domingo, no Cemitério Municipal.
Um agente, que pediu para não ser identificado por medo de represália, disse que os internos colocaram um colchão na porta do alojamento, que é uma espécie de cela. A porta é de chapa até a metade e o restante de grade. Já o fogo, ele falou que foi provocado por meio de contato entre os fios, que eles retiraram de uma tomada. Foram os agentes da unidade que combateram o fogo com a ajuda de uma mangueira e socorreram os adolescentes. De acordo com ele, tudo indica que o incêndio foi criminoso e deve ter sido motivado por conta de briga entre os jovens do próprio alojamento. Ao todo, eram 13, sendo que quatro estavam em outros espaços dentro da instituição. O homem denunciou ainda a deficiência de profissionais atuando na unidade. “São mais de 400 adolescentes e uma média de 20 agentes”, revelou.
Nas redes sociais, a mãe do menino lamentou a morte do filho e culpou o Estado pela tragédia. Em seu depoimento escreveu: “Oi, queridos. Não queria usar esse espaço para noticiar a desgraça. Mas é a verdade. A mais dura que eu vou ter que enfrentar a partir de hoje.. Meu amado filho foi entregue nas mãos do Estado do Rio de Janeiro, com vida, com esperança de recomeçar de novo [sic]. E, o próprio estado, que tinha o dever de cuidar da integridade física, me entregou o meu filho morto, na pior das mortes, queimado. Hoje será o enterro às 16h30, cemitério de Petrópolis, velado na funerária Osvaldo Cruz, capela-D. Me ajudem a divulgar essa crueldade. Multipliquem, de forma que este sangue não fique oculto, em Petrópolis, Rio, no Brasil e no mundo. Preciso de ajuda para que os culpados respondam pela morte do meu filho”.
Já o presidente do Sindicato dos Servidores do Departamento Geral de Ações Socioeducativas, João Luiz Pereira Rodrigues, disse que não é possível afirmar o que gerou o incêndio. Segundo ele, os adolescentes alegam que houve um curto-circuito no local. “Mas nós acreditamos que houve um tumulto, um princípio de motim. Porém, não podemos afirmar com precisão, porque quando os agentes chegaram, o alojamento já estava em chamas”.
João Luiz chama a atenção ainda para a superlotação do espaço. “A unidade deveria abrigar 90 pessoas, segundo a legislação, mas possui 120 camas. Entretanto, no dia do incêndio, tinham 400 jovens. Se tivesse dentro da capacidade, muita coisa poderia ser evitada”, disse. Ele contou ainda que outro jovem que estava no mesmo alojamento que o petropolitano segue em estado grave, correndo risco de morte, no Hospital Pedro II, em Santa Cruz.
Sobre as deficiências da instituição, ele destaca ainda que os agentes não possuem curso de combate a incêndio e que, com esse acidente, fica visível a necessidade de um brigadista no quadro de funcionários. “Os profissionais que atuam no local precisaram ser heróis. Dois deles, inclusive, precisaram ser medicados, após socorrerem os jovens. É complicado para quem não tem preparo, curso e treinamento. Com isso, fica um alerta para o Estado, que tem que rever todas essas situações”, comentou.
A Tribuna entrou em contato com a mãe do adolescente, por meio da rede social, mas não obteve retorno até o fechamento da edição. O Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Novo Degase), também foi procurado, mas não se pronunciou.