• Joias em avião oficial, leilão e resgate de presentes; entenda investigação sobre Bolsonaro

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  • 12/08/2023 07:08
    Por Rayssa Motta / Estadão

    O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República, arrastou o ex-presidente Jair Bolsonaro para o centro de mais uma investigação criminal. A Polícia Federal (PF) investiga se presentes oficiais recebidos por Bolsonaro na qualidade de chefe de Estado, que deveriam ser incorporados ao acervo da União, foram omitidos e negociados para enriquecer o ex-presidente.

    Os investigadores detalham o modus operandi do suposto esquema em um relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que deu origem à Operação Lucas 12:2.

    Até o momento, a PF identificou a negociação de dois kits de joias da marca suíça Chopard, duas esculturas douradas e um relógio da marca Patek Philippe, mas não descarta que mais itens tenham sido apropriados indevidamente. Isso porque auxiliares do ex-presidente disseram que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro “sumiu” com joias. Ela deve ser intimada a prestar depoimento.

    A investigação aponta que os presentes teriam sido levados aos Estados Unidos em aviões oficiais, da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Presidência da República.

    Mensagens recuperadas pela Polícia Federal indicam que Mauro Cid teria contado com a ajuda do pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, para negociar as peças e repassar o dinheiro das vendas.

    “Tem vinte e cinco mil do´lares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em ‘cash’ ai´. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente. (…) E ai´ ele poderia levar. Entregaria em ma~os. Mas tambe´m pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentac¸a~o em conta, melhor, né?”, afirma Mauro Cid em uma das conversas obtidas pela PF.

    O pai do ex-ajudante de ordens aparece no reflexo da caixa de uma das esculturas enquanto fazia foto para anunciar o objeto. Certificados de autenticidade também foram digitalizados para viabilizar a venda. Ele teria visitado pessoalmente lojas especializadas no comércio e leilão de artigos em luxo em Miami, indicadas por Mauro Cid.

    Quando o Estadão revelou que uma comitiva do Ministério das Minas e Energia foi barrada pela Receita Federal no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ao tentar entrar no Brasil com presentes doados pelo regime da Arábia Saudita sem declará-los, Mauro Cid teria começado o que a PF chama de uma “verdadeira operação resgate”.

    Antevendo que a imprensa e os órgãos de investigação poderiam rastrear outros presentes negociados ilegalmente, os investigados teriam se movimentado para recuperar as joias vendidas e penhoradas. O Tribunal de Contas da União (TCU) efetivamente requisitou a entrega dos primeiros itens descobertos.

    O advogado Frederick Wassef teria sido escalado para viajar aos Estados Unidos e recomprar um relógio da marca Rolex. O próprio Mauro Cid teria pedido de volta um kit de joias que havia deixado com uma empresa de leilões e já estava anunciado na internet por U$S 120 mil. O conjunto masculino retornou pelo correio. “Ufa”, escreveu o ex-ajudante de ordens quando recebeu a confirmação de que as joias haviam chegado intactas.

    COM A PALAVRA, OS CITADOS

    Até a publicação deste texto, a reportagem buscou contato com o ex-presidente Jair Bolsonaro e os demais citados na reportagem, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestação.

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