• Jogo de empurra: empresa da merenda nega que alimentos tenham sido entregues impróprios para o consumo

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  • 08/03/2021 19:46
    Por Luana Motta

    A empresa Barra do Turvo, responsável pelo fornecimento dos pacotes de feijão e macarrão que foram jogados no lixo no último sábado, pela Secretaria de Educação, nega que os alimentos tenham sido entregues com bichos, e que o mau armazenamento dos pacotes pode ter sido o causador da contaminação. A Prefeitura descartou 15 toneladas de alimentos que estavam no galpão da Merenda Escolar contaminados por carunchos, aqueles bichinhos que aparecem em alimentos mau condicionados.

    Empresa diz que Prefeitura só mandou ofício em novembro, e números sobre alimentos com problemas não batem

    A empresa afirma que os alimentos foram entregues ainda no primeiro semestre de 2020, um pouco antes do cancelamento do contrato com a Prefeitura, em abril. A Barra do Turvo disse à Tribuna que, meses depois, nos dias 3 e 4 de novembro de 2020, recebeu duas notificações da Prefeitura pedindo a substituição de 2.230 quilos de macarrão espaguete, 1,9 tonelada de feijão carioca e 1,8 tonelada de feijão preto, quantidades muito inferiores ao que foi informado pela Prefeitura.

    Para a Tribuna, um representante da Barra do Turvo disse estranhar somente agora a Prefeitura pedir esclarecimentos. “Até onde nós sabemos, se tivesse sido recebido com problema, com afetação de praga ou qualquer coisa assim, já teria sido motivo de reclamação na hora. A entrega do feijão foi muito antes da notificação. A contaminação só poderia ter ocorrido, pelo tempo de vida do bicho que eles dizem que está dentro do feijão, dentro do depósito”, disse o representante da empresa.

    A Barra do Turvo disse que está respondendo as notificações e os devidos trâmites do processo. “Mas também sabemos que o alimento foi entregue sadio, próprio para consumo. E que a questão do eventual, como diz na nota (da prefeitura), que o feijão ficou bichado, essa questão só veio a surgir muito depois da entrega. Em tese, para empresa, e que nos não temos nem como provar dentro do estoque da prefeitura, porque isso é algo que não temos controle, mas para empresa isso (os bichos) cresceu em estoque em decorrência do município pelas condições de armazenamento”, informou a empresa.

    Caso foi revelado após vídeo viralizar nas redes sociais

    Neste domingo (7), a Prefeitura emitiu uma nota esclarecendo um vídeo que circula pelas redes sociais, gravado no galpão da merenda escolar no momento em que os alimentos eram descartados. Sacos e mais sacos de feijão e macarrão jogados na caçamba de um caminhão por funcionários. Na versão da Prefeitura, os alimentos foram entregues já contaminados, no primeiro semestre do ano passado, e logo após a entrega a empresa foi oficiada sobre o problema. Mas o caso só veio à tona neste fim de semana, após o vídeo ter viralizado.

    A Vigilância Sanitária fez laudos somente neste ano, em janeiro e fevereiro, atestando o problema. Após todos os trâmites administrativos, que dependem de um laudo do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e envolvem a contratação de uma empresa especializada e credenciada pelo Inea para o transporte dos pacotes, é que foi feito o descarte.

    Prefeitura diz que pedido de substituição foi feito em julho de 2020

    Já nesta segunda-feira (8), a Prefeitura contestou a versão dada pela empresa. E disse a Tribuna que na apuração do caso, verificou contato da antiga gestão com a empresa em 1ª de julho de 2020, com pedido de substituição dos itens em função da verificação de bichos nos pacotes. Na época, o quantitativo informado era de quase 20 toneladas.

    Na comunicação há referência à data de entrega dos pacotes, em janeiro e março de 2020 e pedido de substituição dos itens em função da “grande quantidade de carunchos visivelmente nas pilhas e ambos os lotes que foram entregues encontram-se dentro do prazo de validade”.

    De acordo com a Prefeitura, embora a empresa tenha sido notificada sobre 20 toneladas no ano passado, em 2021, foram encontrados no depósito cerca de 15 toneladas dos alimentos citados (macarrão e feijão) com bichos e o atual governo, então, deu início aos trâmites legais para o devido descarte e apuração de responsabilidades.

    O município alega ter formalizado todos os trâmites necessários – inclusive com nova comunicação à empresa – e fez o descarte correto, conforme determina a legislação, no último sábado. Foi aberta uma de contas para apurar a responsabilização pelo dano ao erário provocado no município.

    Na época do ocorrido, durante a gestão do ex-prefeito Bernardo Rossi (PL), a secretaria de educação estava sob a coordenação de Márcia Palma, que continuou no governo interino de Hingo Hammes (DEM).

    Os questionamentos sobre a merenda escolar não param por aí: a carne comprada para abastecer as escolas e Centros de Educação Infantil são objeto de investigação do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, que abriu um procedimento sigiloso para apurar suas condições de armazenamento e distribuição.

    Como foi noticiado pela coluna Les Partisans no início do mês passado, já houve denúncias dando conta de que o feijão armazenado no galpão da merenda, que hoje está localizado no Quissamã, estava próximo do fim da validade. A coluna ainda adiantou que esse galpão deve ser transferido para o Bingen.

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