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  • 17/05/2020 00:01

    Homilia de Mons. José Maria Pereira – VI Domingo de Páscoa – Ano A

    Jesus Promete o Espírito

    Com este Domingo, a atenção se desloca de Cristo ao Espírito Santo, do Ressuscitado ao seu Dom.

    A Igreja celebra nos próximos dias duas grandes festas: Ascensão e Pentecostes; convida-nos a ter os olhos postos no Céu, a Pátria definitiva a que o Senhor nos chama.

    No Evangelho de hoje (Jo 14, 15-21), João define como podemos cumprir os mandamentos divinos. Agora nos ensina que o modo de viver o mandamento, provém do próprio Deus. E, nem sempre conseguimos agir como queríamos. Também nós sentimos como São Paulo: “ não faço o bem que quero,  mas faço o mal que não quero” ( Rom 7, 19 ). Por isso nos envia o Espírito Santo, por isso é Ele mesmo a falar e a agir em nós. Ele não nos deixa órfãos. A vida conquistada para o mundo por Cristo, após a sua volta ao Pai, será animada pelo Espírito Santo. Jesus não deixará órfãos os seus discípulos. Rogará ao Pai para que Ele lhes dê outro Paráclito, para que com eles permaneça para sempre o Espírito da verdade. Cristo vive e seus discípulos viverão.

    Este Espírito de Cristo fará com que seus discípulos cumpram os seus mandamentos, especialmente o mandamento do amor. Amor a Cristo e amor ao Pai. “Tarefa do cristão: afogar o mal em abundância de bem. Não se trata de campanhas negativas, nem de ser anti – nada. Pelo contrário: viver de afirmação, cheios de otimismo, com juventude, alegria e paz; ver com compreensão a todos: os que seguem a Cristo e os que O abandonam ou não O conhecem. — Mas, compreensão não significa abstencionismo nem indiferença, mas, atividade” ( São Josemaria Escrivá, Sulco, 864).

    O Senhor prometera aos seus discípulos que, passado um pouco de tempo, estaria com eles para sempre. “Ainda um pouco de tempo e o mundo já não me verá. Vós, porém, tornareis a ver-me…” (Jo 14,19-20). O Senhor cumpriu a sua promessa nos dias em que permaneceu junto dos seus após a Ressurreição, mas essa presença não terminará quando subir com o seu Corpo glorioso ao Pai, pois pela sua Paixão e Morte nos preparou um lugar na casa do Pai, “onde há muitas moradas. Voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (Jo 14,2-3).

    Os Apóstolos, que se tinham entristecido com a predição das negações de Pedro, são confortados com a esperança do Céu. A volta a que Jesus se refere inclui a sua segunda vinda no fim do mundo e o encontro com cada alma quando se separar do corpo. A nossa morte será precisamente o encontro com Cristo, a quem procuramos servir nesta vida e que nos levará à plenitude da glória. Será o encontro com Aquele com quem falamos na nossa oração, com quem dialogamos tantas vezes ao longo do dia.

    Da Oração, do trato habitual com Jesus Cristo, nasce o desejo de nos encontrarmos com Ele. A fé purifica muitas das asperezas da morte. O amor ao Senhor muda completamente o sentido desse momento final que chegará para todos.

    O pensamento do Céu nos ajudará a superar os momentos difíceis. É muito agradável a Deus que fomentemos a virtude da esperança, que está unida à fé e ao amor, e que em muitas ocasiões nos será necessária. “À hora da tentação, pensa no Amor que te espera no Céu. Fomenta a virtude da esperança, que não é falta de generosidade” (Caminho, nº 139). Devemos fomentá-la nos momentos em que a dor e a tribulação se tornarem mais fortes, quando nos custar ser fiéis ou perseverar no trabalho ou no apostolado. O prêmio é muito grande! Está no dobrar da esquina, dentro de não muito tempo.

    A meditação sobre o Céu deve também estimular-nos a ser mais generosos na nossa luta diária “porque a esperança do prêmio conforta a alma para que empreenda boas obras” ( S. Cirilo de Jerusalém). O pensamento desse encontro definitivo de amor a que fomos chamados nos ajudará a estar mais vigilantes nas nossas tarefas grandes e nas pequenas, realizando-as de um modo acabado, como se fossem as últimas antes de irmos para o Pai.

    O pensamento do Céu, agora que estamos próximos da festa da Ascensão, deve levar-nos a uma luta decidida e alegre por tirar os obstáculos que se interpõem entre nós e Cristo, deve estimular-nos a procurar sobretudo os bens que perduram e a não desejar a todo custo as consolações que acabam.

    Jesus promete aos discípulos o envio de um defensor (Jo 14, 16-17), de um intercessor, que irá animar a comunidade cristã e conduzi-la ao longo da sua história. Trata-se do Paráclito que é o nosso Consolador enquanto caminhamos neste mundo no meio de dificuldades e sob a tentação da tristeza. “Por maiores que sejam as nossas limitações, nós, homens, podemos olhar com confiança para os Céus e sentir-nos cheios de alegria: Deus ama-nos e liberta-nos dos nossos pecados. A presença e a ação do Espírito Santo na Igreja são o penhor e a antecipação da felicidade eterna, dessa alegria e dessa paz que Deus nos prepara” (Cristo que passa, nº 128). Invoquemos sempre o Espírito Santo! Ele é a força que nos anima e sustenta na caminhada cotidiana e nos revela a verdade do Pai.

    “Para avançar na vida interior e no apostolado, o necessário não é a devoção sensível; mas a disposição decidida e generosa da vontade, em face das instâncias divinas” ( Sulco, 769 ).

    O Livro dos Atos dos Apóstolos narra que, “naqueles dias, Filipe desceu a uma cidade da Samaria e anunciou-lhes o Cristo. Era grande a alegria naquela cidade” ( At 8,5.8 ). Esta expressão surpreende-nos sempre, porque, na sua essencialidade, nos comunica um sentido de esperança; como se dissesse: é possível! É possível que a humanidade conheça a verdadeira alegria, porque onde chega o Evangelho, a vida floresce; como um terreno árido que, irrigado pela chuva, imediatamente se torna verde.

    “E houve grande alegria naquela cidade”. Lendo esse trecho, é espontâneo pensar na força restabelecedora do Evangelho, que, ao longo dos séculos “irrigou”, como um rio benéfico, tantas populações. Alguns grandes Santos e Santas levaram esperança e paz a cidades inteiras – pensemos em São Francisco Xavier, São José de Anchieta, São João Paulo ll, Santa Madre Teresa de Calcutá, Santa Dulce dos Pobres; e em tantos missionários, cujos nomes são conhecidos por Deus, que deram a vida para levar o anúncio de Cristo e fazer florescer entre os homens a alegria profunda. Também hoje, a vocação da Igreja é a evangelização: quer em relação às populações que ainda não foram “irrigadas” pela água do Evangelho; quer em relação àquelas que, mesmo tendo antigas raízes cristãs, precisam de uma nova seiva para dar frutos renovados, e redescobrir a beleza e a alegria da fé.

    É urgente alimentar-nos da Palavra para sermos “servos da Palavra” no trabalho de evangelização! É preciso reacender em nós o zelo das origens, deixando-nos invadir pelo ardor da pregação apostólica que se seguiu a Pentecostes. Devemos reviver em nós o sentimento ardente de Paulo que o levava a exclamar: “Ai de mim se não evangelizar!”( 1Cor 9, 16 ).

    “Santificai em vossos corações o Senhor Jesus Cristo, e estai sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir” ( 1Pd 3, 15 ). Santificai Cristo Senhor nos vossos corações: ou seja, cultivai uma pessoal relação de amor com Ele, Amor primeiro e maior, único e totalizador, dentro do qual viver, purificar, iluminar e santificar todos os outros relacionamentos. A “vossa esperança” está ligada a esta “adoração”, a este amor de Cristo que, mediante o Espírito permanece em nós. A nossa esperança, a vossa esperança é Deus, em Jesus e no Espírito.

    A Mãe de Cristo acompanhe sempre e em toda parte o anúncio do Evangelho, para que se multipliquem e se alarguem no mundo os espaços nos quais os homens reencontrem a alegria de viver como filhos de Deus.

     

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