Itabuna em Poesia
Cyro de Mattos pode ser considerado um dos maiores poetas baianos de sua geração. Tal opinião está implicitamente coonestada pela publicação de Poemas da terra e do rio. É uma edição preparada pelo próprio autor, bilíngüe (português/inglês) traduzida por Fred Allison, com prefácio da professora Heloísa Prazeres. Os textos se dividem em duas partes: DeCacau e Água; e Vinte Poemas do Rio.
Natural de Itabuna, pólo cacaueito da Bahia, e onde ainda reside, Cyro de Mattos conhece de pequeno a região e sua poesia abrange experiências suas desde a infância, expressas principalmente nos dois poemas que abrem a primeira parte (‘Elogio’ e ‘Antemanhã’). Assim, os retratos da região que o poeta oferece ao leitor estão sempre marcados pela sua visão pessoal, como, p. ex., nos poemas ‘Natureza verde’, ‘Povoado’ e ‘Rumos’.
Mais adiante, o poeta vai aumentando a sua presença pessoal na descrição, especialmente em ‘Os (A)Talhos’, cuidadoso exemplo de poema bem organizado e desenvolvido , enquanto ‘Rio cachoeira’, ‘Os Rios’ e ‘Ribeirões’ já respiram uma atmosfera de maior entrosamento emotivo do poeta com a paisagem vista da infância, sobretudo em ‘Os Rios’. Daí em frente, essa emoção transborda nos sonetos, principalmente ‘Itabuna’, e vai continuando na bela definição de poesia em ‘A poesia é um pássaro’ e mais ‘Morcego’, ‘O boi’, ‘A borboleta’, etc. – onde Cyro aproveita alguns exemplos da fauna regional para construir poemas cuja carga emotiva provém de suas referências pessoais.
Esta primeira parte se encerra com dois poemas seminais: ‘Uma canção de Itabuna’ (“Vem de dentro da infância, / Nesses ventos de aventura.”) e ‘Canto a Nossa Senhora das Matas’, extraordinário cântico quase religioso, em que o poeta exprime todo o seu amor pelo exemplos da fauna e da flora de sua região natal.
Nos poemas da segunda parte encontramos logo uma espécie de programa definidor das proposições do poeta: ‘Rio definitivo’ é o seu rio modesto, o rio que lhe basta nas expressões de amor regional. A partir daqui, os principais aspectos fluviais estão sempre mesclados à sua infância, de tal modo que se constrói uma inesperada “busca do tempo perdido”, porém não à maneira de Proust. E essa construção concisa e enxuta corresponde pela eficácia poética do conjunto.