Israel e Turquia anunciam retomada da relação diplomática plena após quatro anos
Após anos de troca de acusações e tensões, Israel e Turquia anunciaram nesta quarta-feira, 17, que vão retomar suas relações diplomáticas e voltarão a ter embaixadores nos dois países depois de quatro anos sem representantes. No entanto, Ancara afirmou que continuará “defendendo os direitos dos palestinos” apesar da decisão.
O primeiro-ministro interino israelense, Yair Lapid, disse que a medida representa um “importante passo para a estabilidade regional e uma notícia econômica muito importante para os cidadãos de Israel”. De acordo com o gabinete de Lapid, os dois países vão renomear, além de embaixadores, cônsules-gerais.
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, afirmou que o retorno dos embaixadores “é importante para melhorar as relações bilaterais”.
O anúncio ocorre após meses de esforços bilaterais para fortalecer os laços, com visitas recíprocas de funcionários de alto escalão. Em maio, Cavusoglu se tornou o primeiro ministro das Relações Exteriores turco a visitar Israel em 15 anos.
Do outro lado, uma visita do presidente israelense, Isaac Herzog, a Ancara em março marcou uma “virada nas relações” entre os dois países, nas palavras do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que recebeu o líder israelense com uma cerimônia de pompa.
Palestinos
A Turquia tem relações com o governo palestino da Cisjordânia ocupada e com o movimento islamita Hamas, que governa a Faixa de Gaza. Por isso, Ancara continuará “defendendo os direitos dos palestinos, de Jerusalém e de Gaza”, disse Cavusoglu nesta quarta, citando o presidente Erdogan.
As relações entre a Turquia e Israel começaram a enfraquecer em 2008, devido a uma operação militar israelense em Gaza, e foram interrompidas em 2010, com a morte de 10 civis num ataque israelense ao navio turco “Mavi Marmara”. O navio fazia parte de uma flotilha que tentava romper o bloqueio imposto por Israel a Gaza.
Em 2016, um acordo de reconciliação permitiu que os embaixadores voltassem aos seus cargos, mas isso foi deixado de lado em 2018, quando mais de 200 habitantes de Gaza foram mortos por forças israelenses durante protestos na fronteira entre a Faixa de Gaza e o território israelense, que levaram ambos os países a convocar seus representantes para consultas.
Reações
O Hamas, inimigo de Israel, reagiu com desconfiança ao anúncio desta quarta. “Esperamos que todos os países árabes, muçulmanos e amigos isolem o ocupante e o pressionem para que responda aos direitos legítimos dos palestinos”, disse à agência France-Press Basem Naim, chefe do movimento armado palestino em Gaza.
Efraim Inbar, presidente do Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém, afirmou que não deve haver “ilusões” de que as relações bilaterais serão tão boas quanto na década de 1990. “Enquanto Erdogan estiver no poder, continuará havendo certo nível de hostilidade da Turquia em relação a Israel, por causa de sua conexão com o islamismo. Por exemplo, continuará apoiando o Hamas”, disse Inbar à AFP.
Desde 2007, Israel impôs um bloqueio aos 2,3 milhões de habitantes da Faixa de Gaza. Como muitos países ocidentais, considera o Hamas uma organização terrorista.
Relação econômica
Nesta quarta-feira, o presidente israelense apontou que a restauração de relações diplomáticas completas com a Turquia “incentivarão maiores relações econômicas, o turismo mútuo e a amizade entre os povos israelense e turco”.
A Turquia enfrenta uma forte inflação e o colapso de sua moeda. Nesse contexto, Ancara “tenta normalizar suas relações com muitos países da região”, incluindo os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita, com o objetivo de “atrair investimentos estrangeiros diretos”, considera Gallia Lindenstrauss, analista do Instituto de Estudos Estratégicos (INSS) em Tel Aviv.
Apesar das disputas diplomáticas dos últimos anos, o comércio entre Turquia e Israel foi mantido e a Turquia continua sendo um destino popular para os turistas israelenses.
Alerta
As autoridades israelenses pediram a seus concidadãos que voltem para suas casas “o mais rápido possível” devido ao temor de que o Irã realize ataques em Istambul. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)