Irã amplia repressão e prende atrizes por retirarem o véu islâmico
Em meio à onda de protestos desencadeada pela morte da jovem Mahsa Amini, o Irã prendeu duas atrizes nacionalmente conhecidas, em uma nova sinalização de que o regime teocrático não pretende moderar a repressão contra os manifestantes.
Hengameh Ghaziani e Katayoun Riahi foram presas no domingo por retirarem seus véus em público quando milhares de pessoas também foram detidas por protestos qualificados como “distúrbios” pelas autoridades.
Hengameh foi detida por ter tirado o véu em público em um vídeo, segundo um veículo da imprensa oficial. De acordo com a agência oficial de notícias Irna, ela foi detida por incitar e apoiar os “distúrbios” e por contatar meios de comunicação da oposição. A atriz, de 52 anos, tinha dito anteriormente que havia sido intimada a comparecer aos tribunais. Em seguida, publicou um vídeo em sua conta no Instagram, no qual tira o véu de uso obrigatório no país.
Mensagem
“Talvez esta seja minha última mensagem”, escreveu no fim da noite de sábado. “A partir de agora, aconteça o que acontecer, saibam que sempre estarei com o povo iraniano até meu último suspiro”, acrescentou. No vídeo, a atriz olha para a câmera sem falar, antes de dar meia volta e prender os cabelos como fazem outras mulheres antes de participar dos protestos.
Katayoun, de 60 anos, foi presa horas depois de sua companheira de profissão. Em setembro, havia expressado sua solidariedade com as manifestações e sua oposição à obrigatoriedade de as mulheres iranianas usarem o véu islâmico, em uma entrevista concedida a uma emissora iraniana que opera a partir de Londres.
Nos últimos dias, seis pessoas foram condenadas à morte na República Islâmica por eventos ligados aos protestos. Um tribunal de Teerã condenou à morte o último deles no domingo (20). A pessoa foi considerada culpada de “sacar uma faca com a intenção de matar, semear o terror e criar insegurança na sociedade durante os distúrbios recentes”, segundo uma fonte.
A corte considerou que se tratou de um “mohareb” (“inimigo de Deus” em persa), anunciou o site Mizan Online.
As autoridades judiciais já acusaram mais de 2 mil pessoas de diversos delitos por sua participação nos protestos que pedem o fim da República Islâmica desde 24 de setembro, após a morte de Amini, uma curda de 22 anos, quando estava sob custódia da polícia da moral por “não usar adequadamente o véu islâmico”. Participam das manifestações principalmente jovens e mulheres, que queimam véus, gritam “mulher, vida e liberdade” e frases contra o regime, algo impensável não muito tempo atrás. Mais de 380 pessoas morreram desde o início das manifestações, duramente reprimidas
Curdistão
O Irã voltou, nesta segunda (21), a bombardear grupos de oposição curdos na região do Curdistão iraquiano, causando a morte de um combatente de um dos grupos dissidentes, que Teerã acusa de alimentar as manifestações que abalam a República Islâmica.
Esses ataques com mísseis e drones realizados na madrugada de ontem pela Guarda Revolucionária, braço ideológico do regime islâmico do Irã, ocorrem uma semana depois de uma onda de ações lançadas contra grupos de oposição instalados há décadas na região autônoma do Curdistão, no norte do Iraque.
O governo iraquiano disse ontem rejeitar que seu país se converta em um “território de batalhas ou de ajuste de contas”, e o governo autônomo do Curdistão condenou “as reiteradas violações iranianas da soberania do Iraque.
Ativistas defensores dos direitos humanos manifestaram no domingo o temor de que o Irã amplie a repressão em Mahabad, uma localidade curda no oeste do Irã, onde foram registrados vários protestos contra o governo nos últimos dias. Segundo os ativistas, as forças de segurança enviaram reforços à cidade para reprimir protestos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)