• IPCA eleva taxas futuras curtas; vértices intermediários e longos andam de lado

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  • 10/set 18:19
    Por Arícia Martins / Estadão

    Os juros futuros com vencimentos intermediários e longos inverteram o sinal de alta observado até o início da tarde e fecharam a sessão desta quarta-feira praticamente estáveis em relação aos ajustes anteriores. A dinâmica mais comportada seguiu o alívio proporcionado pelos Estados Unidos, onde um leilão de títulos de 10 anos realizado pelo Tesouro teve forte demanda e acentuou a queda dos Treasuries, que já cediam após publicação de números mais comportados de inflação do atacado do país.

    Na ponta curta da curva, no entanto, a deflação mais fraca do que a esperada do IPCA de agosto seguiu como influência de alta sobre as taxas, e esfriou perspectivas de que a Selic seja reduzida ainda este ano.

    Encerrados os negócios, a taxa de contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 avançou de 13,957% no ajuste anterior para 14,005%. O DI para janeiro de 2029 oscilou de 13,192% no ajuste da véspera para 13,200%. O DI para janeiro de 2031 caiu para 13,455%, vindo de 13,466% no ajuste de ontem.

    Nos EUA, o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês), publicado hoje, caiu 0,1% em agosto ante julho. A previsão de analistas consultados pela Factset era de alta, de 0,4%. Segundo Otávio Oliveira, gerente da tesouraria do Banco Daycoval, o PPI tranquilizou preocupações sobre possíveis repiques inflacionários decorrentes das tarifas impostas pelos EUA, e o mercado tem como praticamente certo que há espaço para dois cortes de juros pelo Fed ainda este ano.

    “Podemos ter queda de juros mais acelerada lá fora”, diz Oliveira, para quem os números comportados do PPI foram mais importantes para a queda dos Treasuries hoje e, consequentemente, para a parte longa da curva doméstica. “Com o juro aqui se mantendo em 15%, aumenta o carry trade e teríamos possibilidade de tomada de risco por ativos brasileiros”, avalia.

    Por aqui, o IPCA de agosto reforçou a percepção de que a Selic será mantida em 15% até o fim do ano, disse Oliveira. O dado recuou 0,11%, deflação mais fraca do que a prevista pela mediana do Projeções Broadcast (-0,16%). Mais do que o número cheio, novamente economistas classificaram a parte qualitativa do índice como ruim. A difusão aumentou de 50% em julho a 57% no mês passado. Nos cálculos do BV, a média dos núcleos inflacionários acelerou na passagem mensal, de 0,27% para 0,30%, embora os serviços tenham perdido fôlego, ao subirem 0,39% no mês, ante 0,59% na leitura anterior.

    Já em 12 meses, a inflação de serviços avançou de 6% para 6,16%, observa Roberto Secemski, economista-chefe para Brasil do Barclays. “Esse grupo continua demandando atenção, como frequentemente destacado nas comunicações do Banco Central”, diz. Para Secemski, é pouco provável que haja sinalização de cortes em breve pelo Banco Central. No cenário do Barclays, o Copom vai realizar o primeiro corte na taxa básica em março de 2026.

    No campo político, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) teve mais uma sessão. Após os votos favoráveis à condenação proferidos pelos ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino ontem, o magistrado Luiz Fux teve posição dissidente e defendeu a anulação do processo no STF, que não teria competência para julgar a ação. “Ainda que possa haver alguma influência, o efeito da decisão de Fux na curva de juros e em outros ativos é limitado frente ao IPCA e ao PPI, que são dados concretos. E o julgamento ainda não acabou”, pondera Oliveira, do Daycoval.

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