• Investidores em tecnologia definem aportes com base no emprego da IA

  • 23/abr 08:14
    Por Cristiane Barbieri, enviada especial / Estadão

    Em um mercado com menos liquidez e onipresença da inteligência artificial (IA), o financiamento às empresas de tecnologia vive um momento de inflexão. Ao mesmo tempo que há um mar de oportunidades, fundos de investimento tentam entender e se posicionar em relação às captações e como conseguirão retorno nesse novo cenário. Essa foi a tônica de painéis apresentados nesta terça, 22, no Brazil at Silicon Valley (BSV), evento patrocinado pelo Estadão, que começou domingo, 20, e termina nesta quarta, 23, na Califórnia.

    A comunidade ligada ao empreendedorismo de tecnologia brasileiro ouviu nomes importantes do setor no auditório do Google MP7, em Sunnyvale, na sede da gigante de tecnologia, que abordaram o futuro da mobilidade, perspectivas de venture capital (investimentos em empresas iniciais) e investimento privado.

    Na visão dos palestrantes que falaram sobre formas de financiamento, a IA deixou de ser um tema na escolha das empresas investidas: é uma obrigação. “Há alguns anos, quando a inteligência artificial ainda era algo novo, diferenciávamos empresas que eram IA das que não eram”, diz Anna Piñol, sócia do fundo especializado em empresas em estágio inicial NFX. “Hoje em dia, não há mais essa separação.”

    Para Maria Tereza Azevedo, diretora de investimentos do SoftBank para América Latina, já existe uma linha clara separando as empresas escolhidas para receber aporte e serem bem-sucedidas nessa nova demanda: “Investidores estão buscando empresas que integrem IA de forma eficaz em suas operações e em sua rede de negócios”, disse. “Para quem não tem essa clareza ou ainda continua buscando um caminho para a lucratividade, o financiamento continua sendo muito difícil.”

    Entre 2021 e 2024, o capital levantado pelos fundos de venture capital caiu 55% e o valor dos negócios recuou à metade. Por outro lado, os investimentos em IA e aprendizado de máquina caíram apenas 7% – e já representam metade do valor investido. Além disso, a América Latina atraiu US$ 4,3 bilhões desses fundos no ano passado, quase cinco vezes em relação a uma década atrás.

    Isso tem feito com que os fundos busquem empresas que deem retorno mais rapidamente e alcancem o valor de mercado estimado no momento do investimento num período mais curto. “Felizmente, graças à IA, vemos uma nova tendência surgindo de companhias formadas por equipes muito pequenas e que geram retorno”, afirma Anna. “Uma nova métrica que temos usado é o rendimento por empregado.”

    Outra métrica, segundo Mariana Moura, cofundadora da 23S Capital, é a liquidez baseada em investimentos. “É uma forma de permanecer mais tempo nas empresas, sem a necessidade de desinvestir num momento não muito interessante.”

    O fechamento do mercado para IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) tem feito com que a perspectiva de saída seja mais restrita a investidores privados. Os que tiverem liquidez viverão um momento interessante para aquisições na América Latina. “Os empreendedores da região levam vantagem frente aos demais pelo fato de estarem acostumados à volatilidade e à incerteza”, diz Maria Tereza.

    Por outro lado, na corrida pela IA, os fundos internacionais, após grandes investimentos nos EUA, buscam outras regiões. Foi o que aconteceu com o SoftBank, que liderou uma rodada de investimentos de US$ 40 bilhões na OpenAI. “Estamos muito animados com o potencial da América Latina, especialmente Brasil e México”, diz Maria Tereza.

    Avanço

    Na abertura da conferência, Michal Kosinski, professor de comportamento organizacional na Graduate School of Business (GSB) da Universidade Stanford, foi taxativo ao afirmar que “nós já ultrapassamos a inteligência artificial geral (AGI, na sigla em inglês)”. “Uma IA hoje já pode escrever um poema ou dar conselhos de relacionamento. Com certeza, há humanos fazendo isso melhor. Mas não há nenhum humano que possa fazer as duas coisas, traduzir 200 línguas ou escrever uma poesia em fração de segundos”, declarou, fazendo referência aos atuais grandes modelos de linguagem (LLM), como o ChatGPT, da Open AI, ou o LLaMa, da Meta.

    E encerrou a palestra fazendo um alerta: “Em breve, os seres humanos podem não ser os seres mais inteligentes do planeta”. (COLABOROU BRUNO CAPELAS, ESPECIAL PARA O ESTADÃO)

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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