Inocente nunca fui, nem serei
Paradoxal mas semelhante, o título acima remonta há mais de 130 anos, conforme gostava de contar a madrinha de minha mãe, Lívia Catão, que fora criada na fazenda de seu pai, em Madureira, no Rio. Certa vez, enquanto sua mãe comandava as mucamas na cozinha, seu pai apareceu, batendo com chicote nas botas, cobrando a presença do cunhado para o trabalho, recebendo como resposta da esposa: “Ah, ele é jovem, deve ter dormido com alguma “donzela”. E de imediato uma delas aparteou: “Alto lá, sinhá patroa, donzela nunca fui nem nunca serei”. Assim deveriam gritar nossos políticos – “Alto lá, inocente nunca fui nem nunca serei” – mais coerentes com a realidade dos fatos e com suas declarações públicas.
Assim, diante da “pureza” de nossos políticos, eles deveriam bem saber o significado das palavras – caráter, postura e discernimento – para terem consciência que tais qualificativos não se compram em loja de departamentos e muitos menos são avaliados pelas posses de cada um, mas sim pela trajetória de vida, seja particular ou, mais ainda, profissional. Holofotes, plumas e paetês nada significam diante dos céus a quem temos que prestar contas.
Li, na ocasião, a declaração do deputado Carlos Marun, relator da CPI da JBS (ou seria imbróglio oficial?): – “Rodrigo Janot é hoje a pessoa que mais atrapalha o Brasil e que não pode investigar atos de Temer feitos antes da Presidência”. O que surpreende em suas palavras não é a avaliação sobre o procurador Janot, mas sim “que ele não pode investigar atos anteriores à gestão de Temer”. Portanto, na sua mentalidade tacanha, própria de político venal, reconhece que o passado do presidente “pode”, ou tem certeza, ser muito nebuloso, afinal, o PMDB caminhou de mãos dadas com o PT durante quinze anos e, para quem pretende ter caráter, está muito longe de alcançar. Está é a mentalidade, de um modo geral, dos integrantes do Congresso. Uma realidade nua e crua mas que o povo não enxerga nem analisa.
Na Universidade de Griffith, na Austrália, há um concurso anual sobre a definição mais apropriada para um termo contemporâneo. Este ano, o termo escolhido foi “politicamente correto” e o estudante vencedor escreveu: “Politicamente correto é uma doutrina, sustentada por uma minoria iludida e sem lógica, que foi rapidamente promovida pelos meios de comunicação e que sustenta a ideia de que é inteiramente possível pegar num pedaço de fezes pelo lado limpo.”
Vivemos um “faz de contas” com políticos de declarações desconexas, recheadas de sandices. Assisti o deputado Rodrigo Maia, como presidente interino, com pescoço duro e peito inflado, por vaidade, dizendo – “que assinava um documento para mostrar ao mundo que o Brasil é um país sério”. Cruzes! – jrobertogullino@gmail..com