No ano passado, a inflação dos pets, os animais de estimação, superou a dos humanos. Os preços dos alimentos para animais domésticos subiram, em média, 23,7%, quase o triplo da alta registrada pela comida consumida no domicílio (8,24%) pelos brasileiros em igual período, de acordo com pesquisa que o IBGE faz para calcular o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do País.
No caso dos serviços, o movimento se repetiu. Tratamentos de animais em clínicas foram majorados em 6,08%, ultrapassando o reajuste dos serviços médicos e dentários, de 4,11%. Para serviços de higiene, banho e tosa, a alta atingiu 7,74% em 2021, ante 5,85% de cabeleireiros e barbeiros.
Não existe um índice que apure especificamente a inflação dos pets. Mas dados da fintech de inteligência artificial e organização financeira Olívia mostram que, em 2021, o gasto médio mensal com produtos e serviços para pets foi de R$ 208,28, com alta de 21,44% em relação ao registrado pelos usuários da plataforma no ano anterior.
Em 2021, o IPCA deu um salto e fechou em 10,06%, a maior variação em seis anos. “Em anos anteriores, tivemos esses preços de itens voltados para pets subindo menos do que a inflação geral do País”, diz o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Fábio Bentes. Ele destaca que o preço da comida para pets subiu acima da alimentação doméstica. Esse descolamento é explicado pelos aumentos de custos das matérias-primas e maiores gastos por causa da desvalorização cambial, já que as commodities são cotadas em dólar.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação, José Edson Galvão de França, a inflação no setor teria superado os 50%. Diante da pressão do preço das matérias-primas, a fabricante de ração para cães e gatos Special Dog Company, por exemplo, reajustou em 28% os preços, depois de ver custos subirem 44%, diz o diretor, Marcos Tavares.
CONSUMIDOR
As lojas sentiram o impacto desse efeito dominó. “Tivemos uma inflação em 2021, em média, de 18% dos produtos que vendemos, puxada pelo petfood”, diz Sergio Zimerman, CEO da Petz, rede voltada a animais domésticos.
O executivo conta que a maioria dos clientes não trocou a marca de ração por causa da alta de preços. “Quem trata o pet como membro da família a última coisa que fará será deixar de dar o melhor para ele.” Esse comportamento foi observado tanto nas lojas da rede localizadas em bairros nobres quanto na periferia. O que houve, segundo Zimerman, foi que o consumidor procurou compensar os aumentos de preços da comida reduzindo as compras de outros itens não essenciais, como petiscos, roupas, brinquedos, por exemplo.
ESCOLHAS
Essa foi a estratégia dos “pais” de pet Manoela Meinke e Lucas Barreto. Para garantir os cuidados básicos dos cinco animais de estimação – os cachorros Amora, Snow e Tequila, o gato Ozzy e a porquinha-da-índia Sushi -, eles gastam em média R$ 2 mil por mês com a alimentação, remédios, areia higiênica e substrato. Com a alta nos preços, o casal diz que comprar brinquedos, por exemplo, ficou mais difícil. “Compramos esses que duram mais, porque está tudo muito caro, não dá para sair dando mimo assim a todo momento”, conta Manoela.
Outra saída foi realizar as compras em maior escala na internet e estocar. “Deixamos as grandes redes e começamos a buscar esses produtos em vendedores particulares que anunciam no Mercado Livre. Um exemplo é a areia usada pelo gato, que chega a ser até 30% mais barato online”, diz.