
Infância sem jardim
“Desafios e perspectivas atuais da Educação”. Esse foi o tema da roda de conversa realizada na segunda-feira passada (28/04) no auditório do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – Campus Petrópolis (CEFET-Petrópolis), promovida pela Academia Petropolitana de Educação (APE). A professora Maria Lucia Lara falou sobre a sua experiência na Educação Infantil. O professor Felipe Branco dissertou sobre o trabalho que realiza na gestão de uma unidade escolar da rede pública voltada para o Ensino Fundamental. O professor Daniel Caldeira abordou os desafios da atividade docente no Ensino Médio. E o professor Eduardo Klausner falou das perspectivas do Ensino Superior, destacando a formação universitária tanto no âmbito presencial, semipresencial e a distância, em que a mediação didático-pedagógica se processa por intermédio de tecnologias de informação e comunicação.
A escolha da data se fez pelo fato de que 28 de abril é considerado o Dia Mundial da Educação e também para colocar em pauta de urgência problemas que afetam o processo de ensino-aprendizagem tanto no setor público quanto privado.
A proposta de reunir educadores representando os diversos segmentos teve como objetivo destacar os principais desafios que perpassam pelos dois níveis: Ciclo Básico e Ensino Superior.
A riqueza desse encontro ficou explícita pelos relatos dos docentes que conduziram uma reflexão que requer um desdobramento mais amplo, pois a Educação efetuada na sala de aula não está dissociada dos problemas que a sociedade enfrenta diariamente.
A questão da evasão escolar foi apontada como um dos principais desafios. Esse fato, identificado em todos os segmentos, conduziu a discussão para o direito ao acesso e à permanência nos estabelecimentos de ensino. Por essa vertente, foram levantadas, pelo público presente, as diversas formas de inclusão social. E, nesse contexto, foram suscitados os laudos médicos e as ações judiciais que respaldam a permanência dos estudantes nas instituições, evidenciando o direito a um atendimento diferenciado em função dos diagnósticos e casos constatados.
Desinteresse, desmotivação, situação financeira, dificuldades para conciliar trabalho e estudo, perda da autoestima, queda no rendimento escolar, metodologias inadequadas, falta de incentivo a pesquisas científicas, em síntese, são muitos os fatores que levam à evasão escolar. Apesar das evidências das causas, as soluções ainda não chegaram a ponto de sanar os problemas. Os números, os gráficos estatísticos mostram a distância entre o que se constata na realidade e o “patamar” a que se pretende chegar.
Os desafios estão expostos e exigem uma união de forças. Nem tudo depende só das ações dos gestores públicos; o posicionamento de cada cidadão é de suma importância, pois o exercício da cidadania requer a exigência do cumprimento do direito à Educação, como também expõe o dever de somar com o exemplo de conduta ética refletida na responsabilidade social.
A dialética da vida exige uma organização social, por isso é necessário a adoção de critérios no direcionamento das nossas ações. Constituir-se como sujeito pensante requer posicionamento crítico.
A mudança de rota se faz necessária quando o destino a que se pretende chegar está voltado para o bem comum. As referências éticas são imprescindíveis. As ferramentas digitais, os dispositivos eletrônicos para facilitar a comunicação e o acesso à informação sempre serão bem-vindos. Não há como atrofiar a evolução tecnocientífica, contudo, é preciso saber usá-la positivamente para o bem de todos.
A Educação não se limita à transmissão de teorias. A produção do saber precisa ser pautada na valorização do ser humano, despertando habilidades e competências no espaço das diversidades.
As nossas escolhas podem conduzir o itinerário do nosso destino. Quando a ilustríssima professora Maria Lúcia falava sobre os primeiros anos da formação escolar de uma criança, que se chamava “Jardim de Infância”, de uma forma nostálgica, fugi do auditório. Fui a Teresina. Andei pelo jardim que havia ao lado da sala em que eu estudava no Centro Social Leão XIII. Gostava de acompanhar o desabrochar das flores. Quando voltei ao auditório, estavam falando de crianças sem jardim, mas que vivem atadas a um celular…
Confessei publicamente essa minha viagem. Acho que o meu déficit de atenção é para não ter superávit de tensão. E, nessa fenda, a Poesia surge como uma fresta de luz para alimentar a esperança e manter a ternura, unindo forças para continuar na caminhada por uma educação vivenciada, na promoção da dignidade humana.