• Independência e vida

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  • 05/09/2021 08:00
    Por Ataualpa Filho

    O otimismo da população anda meio debilitado, mas ainda resiste pelos fios de esperanças. Sobreviver é preciso. O presente momento está muito delicado, estamos mergulhados em uma crise que desestruturou o país não somente no aspecto político, com as desavenças entre os poderes republicanos, mas também no aspecto econômicoe no que tange à saúde pública. O salve quem puder já ecoa como alerta para que cada indivíduo possa salvar a própria pele.

    Apesar de ter um posicionamento religioso, não sou adepto da teoria do “cada um por si e Deus por todos”. Tenho mais apreço pelo lema dos “Três Mosqueteiros”, obra de Alexandre Dumas: “um por todos, todos por um” (Unusproomnibus, omnes pro uno). Mas, caminhando de mãos dadas, seremos todos por todos em todas as situações. O “eu coletivo”, o “nós”, é mais fortalecido. A comunhão de forças evita o desânimo, combate a solidão, unifica e fortalece os passos em uma mesma direção.

    A verdade é que a “porta da esperança” está mais estreita, o pensamento distópico cresce e aborta as perspectivas de mudanças da realidade, uma vez que é grande o volume de fatos negativos. A desesperança aumenta com a disseminação do ódio que carrega o pessimismo ao lado da discórdia. Mas não podemos desistir de amar, a tenacidade da ternura é mantida pela vitalidade do Bem Supremo. Essa atmosfera depressiva vai passar, depende de nós. Inquestionavelmente a tristeza é inerente à natureza humana. A vitória está na perseverança, na tenacidade. Viver sem se render, sem se vender. E amar, apesar da dor.

    “Querer sentir a dor/ não é uma loucura/ fugir da dor é fugir da própria cura”. Esses versos da letra da música dos Titãs, com o título “Não fuja da dor”, trazem uma verdade, porque prorrogar é prolongar a dor. Há momentos em que os paliativos não funcionam. Às vezes, a realidade se manifesta como uma fratura exposta. O clamor do povo fica explícito nas filas dos hospitais, no transporte público, no desemprego. Em síntese, a extensão da dor tem a dimensão da miséria que afeta grande parcela da população.

    A desesperança que se afunda no pessimismo diminui as nossas forças. Não podemos nos derrotar. O poder de superação provém da motivação interna. Temos que acreditar que podemos construir a nossa história com as nossas próprias mãos, mesmo que, para isso, tenhamos que desafiar o destino.

    É verdade que ninguém é superior ao tempo, mas o amor pela vida dissemina o desejo da eternidade. Viver sem a noção do eterno é não saber aproveitar os instantes que antecedem a volta ao nada. Essa transitoriedade “vale a pena quando a alma não é pequena”, já afirmara Fernando Pessoa.

    A dor inerente ao viver é nutrida pelas ações humanas, principalmente pelas que afetam a alma. As ofensas morais, às vezes, doem mais do que as agressões físicas. Neste amargo cálice da humanidade, o amor é que adoça o viver. A ternura é que apascenta a alma, o carinho desarma.  A esperança alimentada pela fé nos faz acreditar em milagres. O rogar a Deus é um ato de humildade e de reconhecimento das nossas limitações. E, nesta pandemia, sei que Ele tem sido muito solicitado para interceder pelos seus filhos. Eu também estou nesta fila, pedindo pelos que lutam por um prato de comida, pelo povo do Afeganistão, principalmente pelas crianças e pelas mulheres…

    – Queremos paz, independência e vida. Liberdade para amar e ser amado. Não há como amar a pátria sem amar o povo que nela vive. Os símbolos não são superiores aos seres humanos.

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