• Incêndios florestais são preocupação para os próximos meses; Defesa Civil deve reaproveitar plano inverno de 2021

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  • Especialistas apontam que incêndios florestais têm relação direta com deslizamentos de terra 

    22/05/2022 09:52
    Por João Vitor Brum

    Petrópolis ainda não se recuperou totalmente do verão de 2022, o mais letal da história da cidade. Mas, enquanto os olhos ainda estão voltados para os impactos das chuvas do início do ano, uma nova ameaça se aproxima: os incêndios florestais, que, inclusive, têm ligação direta com os escorregamentos de terra. Com a maior parte das equipes ainda direcionadas para a conclusão de laudos e avaliações de imóveis afetados em fevereiro e março, o plano da Defesa Civil é continuar com medidas adotadas em invernos anteriores. Para especialistas, uma das principais formas de evitar as queimadas é intensificar as ações educativas para a população.

    Os ciclos da natureza, em uma cidade como Petrópolis, se mostram implacáveis. Anos de ocupação desenfreada, somados às queimadas, resultam nos desastres naturais que a cidade vivencia constantemente, como explicam especialistas.

    “O solo fica extremamente prejudicado, perde camadas essenciais e fica totalmente exposto quando sofre queimadas. Isso, a longo prazo, deixa essas áreas suscetíveis a deslizamentos como os que vivenciamos aqui em Petrópolis, uma cidade historicamente devastada. Os impactos que estamos sofrendo agora são resultado de anos de queimadas e ocupação irregular. Temos terrenos devastados, comunidades mal construídas em áreas de alto risco. Os processos da natureza são essenciais para que a vida continue, então algo precisa mudar na forma que lidamos com o ambiente”, explicou o geólogo Johannes Hinrich Stein.

    De acordo com o secretário de Defesa Civil, combater os focos de incêndio durante o inverno e realizar ações educativas também são formas de evitar deslizamentos.

    “Existe uma correlação direta entre os incêndios florestais e os escorregamentos. A pessoa que queima lixo, entulho, solta balão ou algo do tipo, não tem dimensão de que isso, anos depois, pode causar um escorregamento no local afetado. Por isso, levar informação às comunidades é de extrema importância”, destacou o secretário municipal de Defesa Civil, Gil Kempers.

    De acordo com a gestora ambiental Massami Saito, a umidade do solo após as chuvas fortes do início do ano pode ajudar no combate aos incêndios, já que evita uma propagação mais rápida das chamas.

    “Após essas chuvas intensas, até é ‘bom’ o solo estar úmido, pois isso evita a propagação do fogo, que pode ser subterrâneo. Esse, inclusive, é particularmente perigoso, pois se alastra por baixo da terra e a gente não vê, queimando as árvores na raiz e só depois sobe pro tronco”, salientou Massami.

    Principais cuidados para evitar queimadas

    Entre as principais formas de evitar incêndios em vegetação, os especialistas destacam: não atirar guimbas de cigarro em qualquer lugar; não jogar latas de alumínio ou vidro, pois com a luz do Sol incidindo, podem surgir fagulhas; não provocar queimadas ao invés de capinar os campos; e não botar fogo em lixo.

    Uma outra preocupação durante o inverno, em especial com o valor do botijão de gás cada vez mais alto, é com os fogareiros caseiros, que possuem um alto potencial para iniciar incêndios de grandes proporções. 

    “O botijão de gás está caríssimo, mas as pessoas têm que evitar usar fogareiros a álcool para cozinhar ou esquentar água, pois eles são extremamente perigosos e botam fogo num barraco em 10 minutos. Em tempos de crise, inflação e desemprego, acredito que o uso dos fogareiros e fogões improvisados podem ser os grandes vilões desse inverno”, disse Massami.

    Especialistas apontam educação ambiental como peça-chave no combate às queimadas

    A principal causa de incêndios florestais, tradicionalmente, é a ação humana. Seja com a queda de um balão, a limpeza de um pasto, com um cigarro aceso jogado na beira da estrada. Por isso, o principal caminho para evitar as queimadas, de acordo com especialistas, é conscientizar a população.

    “Precisamos de Educação Ambiental nas escolas da cidade, para que as crianças sejam os multiplicadores das boas práticas. Uma criança bem informada pode mudar os hábitos negativos de sua família e se torna um adulto mais consciente. Antes do verão, temos que falar das chuvas e antes do inverno, temos que falar dos incêndios. Educação Ambiental é fundamental para a consciência coletiva e a cidadania”, disse a gestora ambiental Massami Saito.

    (Foto: João Vitor Brum)

    Uma forma para que isso aconteça, segundo o geólogo Johannes Hinrich Stein, é fazer com que as pessoas entendam a proporção do impacto das queimadas no ecossistema.

    “É importante que esse trabalho de conscientização seja feito, aproveitando todas as mídias disponíveis. A floresta é nosso oxigênio, então precisamos preservá-la, e isso só vai acontecer se as pessoas tiveram noção disso. As queimadas são o primeiro passo para a destruição do ecossistema, pois emitem gás carbónico, contribuindo para o efeito estufa; acabam com a fauna e flora do local onde acontecem; causam deslizamentos”, destacou Stein, lembrando do potencial de balões em causar incêndios de grandes proporções.

    “O balão é muito perigoso porque não se sabe em que local ele vai cair. Hoje, é possível comprar balões em qualquer lugar, sem o devido controle. Isso também é algo a ser revisto como medida de prevenção”, destacou o geólogo Johannes Stein.

    Defesa Civil terá uma nova equipe destinada ao combate de incêndios

    Desde fevereiro, a Defesa Civil já emitiu mais de 11 mil laudos, quantidade próxima aos registros do órgão em toda a última década. Com as equipes voltadas à resposta aos desastres, parte dos planos para o inverno ficaram em segundo plano. Entre as novidades previstas pela Defesa Civil para a estação mais seca do ano, uma nova equipe, voltada apenas ao combate de incêndios florestais, foi criada para garantir um trabalho eficiente.

    “Como continuamos nas operações de desastre, não temos como alocar muito recurso nisso (Plano Inverno). As ações foram repaginadas e vamos ter mais uma equipe, voltada especificamente para o combate a incêndios florestais, além de manter as medidas que deram certo no último inverno”, disse o secretário de Defesa Civil.

    Agora, o órgão terá quatro equipes de pronto atendimento: uma equipe operacional de primeiro atendimento; uma de primeiro atendimento com assistentes sociais, voltada para um atendimento humanizado; uma de primeiro atendimento com engenheiro, para agilizar o processo de avaliação e interdição, em casos de ocorrências envolvendo estruturas de imóveis; e agora uma equipe especializada no combate a incêndios florestais, formada por agentes que, no cotidiano, atuam em ações rotineiras, mas neste momento ficam focados nas queimadas. 

    Além disso, o trabalho em parceria com outros órgãos também é essencial para que os focos de incêndio sejam combatidos com eficiência.

    “Em algumas cidades, cada órgão cuida da área que é delimitada a ele. Por exemplo, o Parnaso é responsabilidade do ICMBio. Em caso de incêndio, o Corpo de Bombeiros não precisaria ir. Mas aqui em Petrópolis, não é assim. Todos os órgãos se apoiam e enviam equipes independente do lugar, o que ajuda no combate mais eficiente dos focos de incêndio. Todos se envolvem para ajudar”, destacou Kempers.

    No caso de voluntários atuando em focos de incêndio, a gestora ambiental lembra da necessidade de capacitá-los, para evitar acidentes.

    “É importante contratar brigadistas de incêndio, mesmo que temporariamente (tipo frentes) e preparar voluntários para isso, mas com seleção criteriosa e treinamento prévio. Se não selecionar bem e treinar, podemos pôr a vida deles em risco. A contenção do fogo na mata é feito com abafadores, equipamentos pesados e que exigem treinamento. O voluntário precisa estar em perfeitas condições de saúde, principalmente respiratórias e cardíacas. Deve ter bom preparo físico e controle de pânico”, disse Massami Saito, membro da Rede Serra.

    Ações do Plano Inverno 2021 devem ser retomadas

    Sem um novo Plano Inverno ou previsão de lançamento de um, a ideia da Defesa Civil para 2022 é retomar iniciativas de anos anteriores. Entre as ações, o secretário destaca que as mais eficientes são as rondas preventivas e a Operação Abafa, que acontece em parceria com e outros órgãos envolvidos no combate a incêndio.

    A primeira medida apresentada pelo secretário são os boletins meteorológicos especiais, que contam com a análise de uma série de características importantes para cruzar informação e classificar condição de risco. 

    A segunda são as rondas preventivas, realizadas diariamente por uma equipe operacional do órgão. As rondas acontecem duas vezes por dia, passando por todas as regiões afetadas por queimadas, levando em consideração estatísticas dos Bombeiros e da Defesa Civil. Em um momento das rondas, a equipe passa pela BR-040, com o objetivo de identificar focos de incêndio desde o princípio.

    “Muitos incêndios começam na estrada e se alastram por áreas grandes de vegetação. Se a equipe estiver sempre passando, consegue acompanhar e combater os incêndios já no início, o que evita que o foco tome proporções grandes, dificultando o combate”, explicou Kempers.

    A terceira medida listada pelo secretário é o Plano de Ação, com atuação em conjunto das quatro brigadas. Em caso de ocorrência, as equipes são acionadas para retornar à base e dar apoio aos Bombeiros, Inea, ICMBio ou qualquer outro órgão que estiver responsável por aquela área de incêndio.

    Combate a incêndio florestal no Bonfim. (Foto: João Vitor Brum)

    Depois, vêm as ações educativas. De acordo com a Defesa Civi, filmes estão sendo produzidos em parceria com o Instituto de Cultura para serem veiculados em redes sociais e veículos de comunicação, tendo as queimadas como assunto principal. Podcasts também foram criados e, juntos, serão disseminados em grupos de WhatsApp e outras plafatormas.

    A quinta e maior ação é em conjunto com o MPF, Corpo de Bombeiros, PM, ICMBio, Inea, GCM, Defesa Civil, Rebio Araras, Rebio Estrela e Sec. Meio Ambiente. Em outros anos, a medida recebeu o nome de Operação Abafa. 

    “Nessa ação, dividimos os órgãos por área e vamos para as localidades notificar o morador. Já encontramos pessoas queimando lixo, por exemplo, e as encaminhamos para a delegacia, e vamos levando informação. Toda vez que começamos uma operação como essa (são necessárias pelo menos três por inverno), nas semanas seguintes, a estatística de incêndio florestal nessa região cai. Tem efeito imediato”, salientou o secretário de Defesa Civil, explicando, ainda, que muitas vezes os moradores iniciam incêndios por falta de informação.  

    “Na maioria das vezes, a pessoa diz que está queimando lixo porque a Comdep não tira o lixo verde, e então damos o número para pedir a remoção. Vemos que a estatística de coleta de lixo verde é baixa, e após essas ações, aumentam as solicitações e cai o número de incêndios. Vemos que é totalmente relacionado”, concluiu Kempers.

    Para entrar em contato com a Comdep, basta ligar para os telefones (24) 2243-7822 ou (24) 2292-9500.

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