
In Memoriam de Roberto Francisco, o Imperador das Trovas!
O panegírico do dia é dedicado ao querido confrade e amigo Roberto Francisco.
Faço-o em meu nome e, por extensão, dos poetas petropolitanos.
Aos 30 dias do mês de abril, se entre nós estivesse, estaria completando 94 primaveras e, não obstante decorridos 8 anos e três meses de seu retorno aos planos superiores, quando contava 86 anos sua memória prossegue viva e inarredável de nossos corações e benquerer.
A biografia de Roberto Francisco é extensa e rica, no entanto, ao discorrer, ainda que de forma tênue e perfunctória sobre o Imperador das trovas, sonetos e quadras, restam-me nuanças que o ornaram.
Exalava sensibilidade à flor da pele, onde a elegância e o lirismo fluíam fáceis e cristalinos como água no regato.

Mecenas por excelência, a começar pelo magistério, o exerceu qual verdadeiro sacerdócio em total abnegação.
Recordo-me com saudades o meu período à frente da Presidência tanto da A. P. P. Raul de Leoni, atual Academia Brasileira de Poesia, Casa de Raul de Leoni e, também, da Academia Petropolitana de Letras.
Fui alvejado por sua efetiva participação acadêmica e mais, a inestimável colaboração do insigne confrade considerando-se a trivialíssima sabença as inúmeras agruras que as instituições culturais enfrentam à realização de seus objetivos.
As despesas são inúmeras e via de regra, não se dispõe de subvenção, salvo raríssimas e honrosas exceções, como foi a contribuição de Roberto Francisco, junto ao filho Roberto Jefferson, ajudaram os Cenáculos intelectuais, por último, a valiosa contribuição à gestão também, de nosso saudoso Confrade De Cusatis na publicação de Revistas da APL e cessão do Silogeu.
Obrigado Roberto Francisco, a você, ao filho, aos Francisco, porque possuem o dom, o talento, e sabem valorizar, avaliar e reverter em prol do conhecimento.
Toda Petrópolis é testemunha da devoção e competência de Roberto Francisco.
Em minha juventude li um poema, salvo engano em homenagem à Normalista e num dos trechos dizia: “ensinar é partir os espinhos, que maus, ferem primaveras em flor, é acender em escuros caminhos, madrugadas de sonho e de amor.”
O amor de professor, filho, pai extremado, parente e a fidelidade aos amigos constituem seus principais atributos, mercê da inabalável fé e firmeza de caráter, junto ao universo vernáculo e social da Imperial Cidade.

Roberto desfruta do escrínio privilegiado entre os notáveis a povoarem a constelação do saber, sem favor algum.
Roberto Francisco, filho do comerciante, orador e poeta Ibrahim Antônio Francisco (BUZICO), nasceu em Anta, 2º Dist. Sapucaia-RJ, em 30/04/1931. Seu pai, desde cedo, ensinou aos 10 filhos, de que Roberto é o mais velho, as artes da oratória e da poesia.
Já se levantava, recitando. E obrigava os filhos, em dias de aniversários e festas, a se saudarem à mesa do café e a falarem na escola e na rua, em honra à bandeira e às datas cívicas.
É sua a quadra: “Na bandeira, cabe a pátria, por maior que a pátria for; numa hóstia, pequenina, cabe Deus, Nosso Senhor!”
Habituados a falar de improviso, os mais velhos, Roberto (Betinho) e Sara (professora em Volta Redonda) homenagearam autoridades as mais diversas.
Há uma foto de Betinho sobre a barriga do Presidente Vargas, quando o recepcionou, pela inauguração da Rio-Bahia. Concluído o primário, na Vila de Anta, Betinho discursou para o Governador Amaral Peixoto, em Areal (inauguração do Grupo Escolar Mariano Procópio) e, conforme previa seu progenitor, ganhou bolsa de estudos no internato do Colégio Plínio Leite- Petrópolis, para onde veio, em Dezembro de 1942, preparar-se no Curso de Admissão ao Ginásio.
Em 1943, venceu o concurso de oratória de seu colégio e foi disputar com Roberto Silveira o posto de orador oficial do Colégio Plínio Leite, existente em Niterói e Petrópolis.
Foi campeão de maratonas diversas, obteve prêmios do SENAC, escreveu no Acadêmico, órgão jornalístico da escola.
Sabia também de cor, mais de mil poemas diversos, que lhe ensinara seu pai e amigo. Começou a lecionar muito precocemente.
Quando cursava o 4º ano ginasial, o Professor Carlos Rebôlo, que o orientava e ajudava, deu-lhe alunos para aulas particulares de 5ª até 7ª séries. E Roberto gostou da coisa.
Em 1947, era o Orientador do Internato, estudando com seus colegas educandos de classes inferiores, aos quais ensinava todas as disciplinas.

Fez curso de matemática, comercial e industrial, venceu concurso no SENAI e lá lecionou de 1950 a 1963, tendo sido diretor da Escola 3-1, do Bingen, de 1955 a 1963.
Ali, seu amigo Luiz Cavalcanti e ele escreviam poesias que se submetiam, reciprocamente, à apreciação e à crítica.
Em 1951, casou-se com Neusa Monteiro (filha do comerciante Djalma do Ó Monteiro), depois de um namoro iniciado em 1946.
Da união, lhes vieram sete filhos: Ângela Maria (pedagoga), Roberto Jefferson (advº e dep. federal 5 vezes eleito), Ricardo Luiz (engº e ex-vice-prefeito de Petrópolis), Elizabeth Marina (médica, res. no Rio), Neusa Maria (pedagoga), Rosane (pedagoga) e Ronaldo (advº e economista).
Deram-lhes 23 netos e 13 bisnetos.
Por isso, felizes, Roberto e Neusa: “Filhos, netos e bisnetos, com seu encanto e meiguice, quanto estrelejam de afetos nossas noites da velhice”.
Roberto fundou com os colegas Mauro Carrano, Gil Mendes, Larry Azevedo (hoje, no Princesa Isabel, no Rio) e Jésus Mendes Costa, o Educandário EPA, que funcionava em sede própria, na R. Buenos Aires, 108, e completou 30 anos de atividade, em 6/01/99.
Quatro de seus filhos (Ângela, Neuzinha, Rosane e Ronaldo), ao lado de seu genro e sócio, Ronaldo Pedreira Ayres da Motta, adm. de empresas, dirigiram o conhecido, respeitado e vitorioso educandário.
Roberto era acadêmico titular das Academias de Letras, Educação, Ciências e Poesia, em nosso Município.
Presidiu, também, há quase 30 anos, a União Brasileira de Trovadores – Seção de Petrópolis, sendo grande cultor e divulgador da arte do trovismo.
Deixemos que Roberto Francisco nos fale: “Em sete filhos, residem as forças que me sustentam e meus amores dividem, nos milagres que as aumentam”.
Betinho era carinhosamente conhecido por todos nós, foi colaborador da Tribuna de Petrópolis, do Petrópolis-Post, do Jornal de Petrópolis, da Folha de Petrópolis, da Gazeta Petropolitana, do Jornal do SINEPE-RJ, da Rev. Diálogo da PRF, falava diariamente pela Rádio Imperial às 08:10 da manhã. Pregava a afeição e a concórdia: “Quando amor e paz na terra não mais forem sonho ou mito, extintos clarins de guerra hão de ensurdar o Infinito”.
Roberto já foi, por duas vezes, Conselheiro Estadual de Educação. Presidiu, inúmeras vezes, o PTB local, e foi membro do Regional e do Nacional desta tradicional legenda, em que entrou, em 1945, pelas mãos de seu pai, então Vereador do PTB, em Sapucaia e para onde levou seus filhos, sendo que Roberto Jefferson foi o presidente regional do partido.
Roberto foi Juiz- Classista, representante dos empregadores, por aproximados seis anos. Vereador em Petrópolis, de 1963 a 1966, ali exercendo as funções de Vice-Presidente e Secretário. Foi Secretário de Fazenda, no Governo Gratacós.
Publicou o livro “Os Francisco na Poesia”, Matemática Industrial e Trigonometria Industrial. Participou também da publicação de revistas da APPRL, da APE, e de vários livros de prosa e poesia.
Após 50 anos de trabalho, aposentou-se: “Agora, me aposentado, nos “ontens”, verifiquei que, sempre a ensinar, tentando, aprendi mais que ensinei.”.
Mas, o homem não parava. Sempre o víamos nas colunas jornalísticas; nas Academias; em casamentos e exéquias; nas lutas e vitórias da família; na solidariedade aos amigos; nas demonstrações de fé; nas caminhadas pela manutenção da saúde, etc… Publico, para encerrar, seu soneto de que ele mais gostava: “Desde os primórdios, nosso amor foi tanto, que só fez aumentar tempos afora, vivendo no calor e doce encanto, qual sol fulgente na sublime aurora.
Com ele, ao findar-me o humano canto, hei de enfrentar, sem o medo que devora, a morte inexorável, e no entretanto, lhe dizer: não me assusta ou me apavora!
E serei pó somente. Mesmo assim, hás de permanecer dentro de mim, porque o amor imortal não se consome. E lá, nos vastos campos siderais, vagando ao bel-prazer dos vendavais, as minhas cinzas levarão teu nome!”.
Petrópolis foi eleita por Roberto e Familiares. Hoje ele habita os cânones celestiais e os seus entes queridos, em sua maioria, aqui vivem, trabalham, fincaram raízes profundas e sólidas.
E esta joia incrustada em meio às colinas os ama, traduzindo este sentimento em comovidos abraços e imorredoura gratidão, na certeza de que seu brilho seria menos intenso, seus canteiros menos floridos e sua história inacabada sem vocês, presenças-presente de nossa benquerença.