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  • 23/04/2020 12:00

    FIOCRUZ

     

    Álvaro Penalva Rodrigues

    Professor de História e Membro Titular do IHP

     

                Augusto Cid Mello Perisé; Domingos Arthur Machado Filho; Fernando Braga Ubatuba; Haity Moussatché; Herman Lent; Hugo de Souza Lopes; Fernando Braga Ubatuba; Masao Goto; Moacyr Vaz de Andrade; Sebastião José de Oliveira; Tito Cavalcanti. Dez Cientistas. Dez Pesquisadores. Todos com anos de trabalho e contribuição para a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Criada na antiga Fazenda de Manguinhos , em 1900 , pelo Barão de Pedro Afonso, como Instituto Soroterápico Federal, teve Oswaldo Cruz – Prefeito de Petrópolis entre 1916 e 1917 – como seu Diretor. Através do Diário Oficial de 02 de Abril de1970 os dez cientistas tiveram seus direitos políticos suspensos por 10 anos, na forma do artigo 4 do Ato Institucional n°5, o AI-5. Qual a razão para a brutal ação? Uma alegada participação de alguns no Partido Comunista Brasileiro.

                Muitos buscaram um autoexílio no exterior, onde participaram de intensas atividades de pesquisa científica, em países como Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Venezuela, Moçambique e outros. Alguns foram lecionar em universidades particulares, impedidos de trabalhar para órgãos governamentais. Através daquele Ato não apenas os cientistas foram punidos. A ciência também foi violentamente atingida. Todo o Brasil perdeu. 

                Somente em 1986, durante o período de redemocratização vivido pelo país, foram reintegrados aos quadros de Manguinhos, na gestão de Sérgio Arouca frente à direção da Fiocruz.

                Exatamente 50 anos depois, em 17 de abril de 2020, a Fundação Oswaldo Cruz se vê novamente sob o alvo de ataques de setores obscurantistas que se voltam contra a ciência.

                Nesta mesma data, o Conselho Deliberativo da Fiocruz em nota divulgada defendeu a ciência e os pesquisadores da Instituição, e de outros institutos, pelos estudos da Covid-19.

                Pesquisadores têm sido atacados em redes sociais após a divulgação de resultados preliminares sobre o uso da cloroquina em pacientes graves com a Covid-19.

    Quando fui empossado como membro do Instituto Histórico de Petrópolis citei que Lilia Moritz Schwarcz em seu recente livro “Sobre o Autoritarismo Brasileiro”, afirma que apesar da história ser definida como uma disciplina com grande capacidade de lembrar, poucos se lembram, porém, do quanto ela é capaz de esquecer.

                Não podemos permitir que a ciência seja afrontada pelo obscurantismo e a ignorância.

                Não podemos nos esquecer do Massacre de Manguinhos.

     

    Referências: 

    LENT, Herman – O Massacre de Manguinhos. Rio de Janeiro: Edições Livres, 2019.

    SCHWARCZ, Lilia M. – Sobre o Autoritarismo Brasileiro. São Paulo. Companhia das Letras, 2019.

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