• IHP em Cena

  • 07/11/2018 08:40

                O coreto construído em 1929 na Praça Monsenhor Aquiles de Mello, de fronte à Igreja Matriz de Cascatinha, e a Praça da Liberdade, no Centro de Petrópolis, constituem, por certo, as principais testemunhas de memoráveis apresentações, ricas e variadas em repertório, da Banda 1.° de Setembro, nesses recém completados 118 (cento e dezoito) anos de existência.

                Em artigo anterior nesta Tribuna, a 19 de setembro passado, tivemos a oportunidade de anotar que ainda em meados dos anos dez da centúria passada, o grêmio de música pôde contar com a ação provedora de Gustavo de Paiva, subgerente da Companhia Petropolitana que, dentre outros méritos, fez aumentar o número de estante (componentes) de 12 para quase 40, dando-lhes emprego e meios de subsistência, conforme as habilidades de cada um, nos diversos setores da fábrica.

                Com a saída de Gustavo de Paiva da Cia. Petropolitana (e consequente mudança do 2.° Distrito), tempos após, torna-se presidente da referida indústria Joaquim de Barros Costa Pereira, que também foi morar em Cascatinha e passa a interessar-se pela vida e pelas coisas do bairro.

                Aqui, um parênteses: apesar de as unidades de produção da Cia. Petropolitana terem-se localizado em Cascatinha (conhecidas como "fábrica velha" e "fábrica nova"), a sede da empresa era estabelecida "à Rua 1.° de Março, n.°97, Corte.", dado que os recursos financeiros que custearam o empreendimento têxtil provinham da elite econômica da hoje Capital do Estado do Rio de Janeiro, conforme nos ensina o eminente confrade do IHP, professor Pedro Paulo Aiello Mesquita, em "A Formação Industrial de Petrópolis", Editora Prismas, Curitiba, 2014, citando Tinoco de Almeida.

                Costa Pereira, morador de Cascatinha e presidente da Cia. Petropolitana, era a pessoa a quem Antonio Gonçalves, que estava à frente do Clube Musical, recorria quando de uma qualquer necessidade; ele e um amigo, de nome Jorge Morano, foram os responsáveis pelo uniforme que os músicos começaram a trajar.

                Joaquim de Barros Costa Pereira passou, assim, para a história do Clube Musical 1.° de Setembro como o segundo grande benfeitor do grêmio, depois de Gustavo de Paiva.

                É de se registrar também que o então Ministro da Fazenda do Presidente Marechal Hermes da Fonseca (que governou o Brasil de 1910 a 1914 e faleceu em Petrópolis em 09 de setembro de 1923), Dr. Edwiges de Queiroz, presenteou a banda com um estandarte, quando de uma recepção em sua residência.

                Esse fato, aliás, é indicativo de que nas primeiras décadas do Séc. XX, quando a cidade ainda exercia algum protagonismo na vida nacional por conta do veraneio da Velha República (1889-1930), a Banda 1.° de Setembro se apresentava em praticamente todos os eventos cívicos ou religiosos e solenidades oficiais, no 2.° Distrito (Cascatinha) e em Petrópolis.

                O terceiro grande benfeitor do Clube Musical 1.° de Setembro dessa quadra histórica foi, sem dúvida alguma, José Soares Maciel Filho, também diretor da Cia. Petropolitana de Tecidos.

                Em 1933, sofrendo os efeitos de grave crise econômica iniciada em 1929 e que atingia as associações beneficentes de um modo geral, foi realizada assembleia extraordinária a 5 de agosto, em que os músicos deliberaram doar para o Clube todos os objetos e instrumentos que possuíam e que eram utilizados nas apresentações, exatamente para que a banda não desaparecesse.

                Nessa mesma ocasião, foi nomeada uma espécie de "comitê gestor da crise", para administrar os tempos difíceis: Joaquim Nunes da Costa – presidente; João Dias Carneiro (fundador do "Jornal de Cascatinha") – secretário; José Jacob Naliato – tesoureiro; e Guilherme Daumas Nunes, Justino do Cunto e Sebastião de O. Mello – conselheiros.

                José S. Maciel Filho, ciente das dificuldades financeiras, obteve junto da Cia. Petropolitana mais uma substanciosa colaboração pecuniária e custeou, com recursos pessoais, metade de despesa com um uniforme novo para os membros do conjunto.

                Por tudo, Maciel recebeu o título de "Presidente Honorário" da agremiação.        

                Outros dirigentes da Cia. Petropolitana, como Antonio José Pinto Ozório Jr., João Fonseca e Luiz Mendes Rodrigues, pelo muito que fizeram em prol da 1.° de Setembro, podem também ser considerados patronos do Clube.

                Em 1938, Dr. Mario Aloysio Cardoso de Miranda, prefeito de Petrópolis, cônscio da importância da Banda para o Município, ofertou recursos públicos para a manutenção da entidade.

                Em 1939 e a 15 de novembro, por ocasião dos festejos pelo 50.° aniversário da República, realizou-se na Praça da Liberdade e sob os auspícios da Prefeitura, concurso de bandas, que contou com a participação da 1.° de Setembro, que fez jus ao segundo lugar.

                Eis a relação dos músicos que se apresentaram nesse dia: Martiniano de Moraes (regente); Eriotelies Taboada, Eduardo Vieira, Antonio Moraes, Carlos Dias, Edhesio Dias, Américo Girarde, Luiz de Araújo Lopes, Joel Rodrigues Teixeira, Alencar Quadrio, Fernando Ferreira Guimarães, Emilio Piubel, João Dias Carneiro, Francisco Dias Carneiro Jr., Manoel Ferreira Soares, Aristides W. Vieira, Salvador Canato de Mello, Demerval Tavares Magalhães, Waldemar Gayer, Henrique da Cruz, Luiz Massambani, José Ferreira Soares, Justino do Cunto, Adalberto de Oliveira Mello, Luiz de Oliveira Mello, Sebastião de Oliveira Mello, Antonio Luiz Paulo, David Taboada, Salvino Antonio Morada, Mario Biazi e Francisco Jordão.     

                 Graças a esse somatório de forças, portanto, e a outros tantos benfeitores ao longo de centenária trajetória (dentre os quais mais recentemente se avultam Lester Carneiro, Odir Carneiro e, sobretudo, Clever da Costa de Castro), que até hoje, pelo menos um Domingo por mês, temos o Clube Musical 1.° de Setembro ornamentando, com sua tradicional banda, as tardes petropolitanas na mesma Praça da Liberdade, palco do concurso de 1939.

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