• Ignorância e boçalidade

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  • 01/08/2018 13:10


    No decorrer do século XX e, principalmente neste, muitas palavras foram perdendo seu significado original, seja por falta de conhecimento ou por modismo, apesar de uma pretendida unificação com os países lusófonos (impraticável).  Assim, se considerarmos que duas palavras são mal definidas – burro e ignorante – quando “burro”, o animal, é mais inteligente que muitos homens; ignorante todos somos em diversos segmentos e já se disse John Kennedy: “quanto mais se estuda, mais ignorante se torna pelos horizontes que vão se expandindo e ampliando”. 

    Assim é a palavra “boçal”, mais ligada ao modo bronco e rude dos escravos, quando acho-a mais afinada ao fanatismo e a soberba que é a intransigência em aceitar e raciocinar, reconhecendo diferenças entre pontos de vista claros e objetivos, por mais inteligente e culto que possa ser, por pura teimosia em aceitar um raciocínio equilibrado e lógico.

    Recentemente me referi à citação de um famoso e fui contestado. Pesquisando, confirmei a referência feita e achei outra da mesma figura que demonstrava toda sua soberba – “Sou corajoso e toparia até ser presidente da República”.(isto não é coragem é soberba). É o mal que os holofotes produzem – cegam as pessoas. É misturar alhos e bugalhos, o que, para mim, transparece a “boçalidade” de cada um. E é o que mais vemos principalmente em famosos, sejam políticos ou qualquer outro segmento e, às vezes, nem precisam ser famosos mas, simplesmente, se sentirem muito sapientes e donos totais da verdade – é o suficiente para o boçal.

    E tal comportamento ou reação se explica facilmente, que uma frustração ou complexo não justifique. Tais reações só ocorrem pela ausência de bom senso  em reconhecer sua “ignorância”, afinal, o que não vem a ser nenhum desdouro e nada pejorativo – só precisamos ter controle emocional para respondermos quando agredidos com tal. Por isso escrevi o soneto “Alma Desnutrida” para tais pessoas:

    “Quando da alma se crê numa existência,/ inda há que se crer ser a vida inteira/ 

    tão frágil quanto estranha e passageira,/ para dela extrair-se toda essência.

    Da vida muitos vêem só aparência/ sem atentar que existe uma soleira / onde há, por contingência, uma urdideira/ para tecer as teias da evidência.

    Será a vida para alma um alimento,/ como organismo exige da comida,/ da qual dependerá o seu sustento.

    Prepotência, ganância desmedida,/ desprezam com desdém cada momento,/ deixando ao léu tanta alma desnutrida.” 

    E é por isto que “boçalidade” campeia.

    jrobertogullino@gmail.com


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