Idosa vive reencontro emocionado com os filhos em Petrópolis após 50 anos de separação
Há 50 anos, dona Maria da Conceição Marques dos Santos esperava dia e noite pelo momento em que reencontraria seus filhos. Tirada do convívio da família e internada em um hospital psiquiátrico, a história da idosa mobilizou as equipes da residência terapêutica em Petrópolis, lar da Dona Maria da Conceição há três anos. O reencontro entre mãe e filhos aconteceu finalmente na manhã chuvosa desta terça-feira (15), com direito a bolo, parabéns, abraços apertados, sorrisos e lágrimas.
“Nunca duvidei de que ela tivesse estive viva. Sempre acreditei em Deus e que ele me daria a oportunidade de ver minha mãe de novo”, disse emocionado José Antônio da Silva, de 59 anos. Ele tinha nove anos quanto viu Dona Maria da Conceição pela última vez. “Meu pai me deixou em uma fazenda para trabalhar e não tive mais contato. Depois de um tempo, ele disse que ela tinha morrido”, contou José Antônio.
A idosa, de 79 anos, foi separada dos filhos e internada no Hospital Colônia de Barbacena, na cidade que leva o mesmo nome, em Minas Gerais, pelo marido. “A data certa em que isso aconteceu, não sabemos precisar. Como os filhos eram pequenos no momento da separação, são poucas as lembranças que eles têm”, disse a coordenadora das residências terapêuticas da cidade, Cidnea Maria Esteves Moutinho.
Também não há informação de quanto tempo ela ficou no hospital psiquiátrico de Barbacena. Segundo Cidnea, especula-se que ela fugiu da unidade e, de carona, chegou a Petrópolis. O primeiro “lar” dela na cidade foi no Núcleo de Integração Social (NIS – conhecido como Abrigão) no Alto da Serra. De lá, dona Maria da Conceição foi para o Lar José Bento Cottoleno. A unidade psquiátrica, que ficava no Siméria, sofreu intervenção do Ministério Público e ela então foi transferida para o Hospital Santa Mônica, em Corrêas.
No hospital ela viveu por muitos anos, até que a política do governo federal de desinstitucionalização fez com que as prefeituras criassem as residências terapêuticas e promovessem o retorno desses pacientes às famílias. “Quando a busquei no Santa Mônica, ela saiu apenas com uma camisa e uma calça de moletom dentro do saco plástico, e uma certidão de nascimento tardia (como ela não tinha documentos, fizeram um registro com data aproximada da idade). Ninguém conhecia sua história. Na residência terapêutica, providenciamos CPF e RG, demos entrada no pedido de Benefício de Prestação Continuada e ela passou a receber os recursos”, disse Cidnea.
Dona Maria da Conceição tem poucas lembranças do tempo em que viveu hospitalizada e parece que parou no tempo em que os filhos eram pequenos (talvez porque sejam essas as lembranças felizes da sua vida). “Minha casa era de pau a pique e as crianças são pequenas, preciso cuidar delas. Tenho saudade deles”, lembrou a idosa, que garantiu querer começar uma nova vida ao lado dos filhos. “Vou pra casa com eles”, disse.
Segundo a coordenadora das residências terapêuticas, durante todo o tempo dentro da casa (residência terapêutica) ela sempre manteve seus pertences em sacolas, dizendo que teria que ir para casa cuidar dos filhos. “Ela dizia ser de Benfica, em Juiz de Fora. Fomos lá com ela e não reconheceu o lugar. Depois de um tempo, a idosa começou a falar muito em Santos Dumont, cidade mineira perto de Barbacena, e há uns meses entrei em contato com o Cras deles, falei com a coordenadora, que entrou em contato com o Creas, o qual se interessou pela história e postou na rede social deles”, contou.
A postagens na rede social do Creas chamaram a atenção dos moradores da cidade. “Quando vi a postagem e a história, achei que poderia ser minha mãe. Entramos em contato com o telefone de Petrópolis e agora estamos aqui, juntos. Ninguém tem ideia de como foi difícil ficar sem o abraço e carinho da minha mãe por todos esses anos. Tudo o que queríamos era ver ela de novo”, disse emocionado José Antônio.
“Foi tudo rápido. Me ligaram na segunda e na terça preparamos esse reencontro. Agora ela vai voltar para casa, se assim ela quiser, e ficar ao lado do filhos. Vamos também entrar em contato com o Ministério Público de Santos Dumont, para que acompanhe a volta dela e também sabermos mais sobre sua história”, informou Cidnea.
A equipe da residência terapêutica promoveu uma grande festa para comemorar o reencontro de Dona Maria da Conceição com os filhos. Além de José Antônio, Joaquim Tadeu (53) e Marcelo Miguel da Silva (51) também vieram ao encontro da mãe. “Ela vai ficar na minha casa. Seremos uma família de novo”, comemorou Marcelo, que mora em Juiz de Fora.
Marcelo tem poucas lembranças da mãe, mas disse que todas as vezes que lembrava dela era com ternura e carinho. “A vida era muito sofrida, mas ela era uma boa mãe”, lembra. Joaquim, o terceiro filho, tinha três anos quando viu Dona Maria da Conceição pela última vez. “Quando meu pai se separou dela, cada um foi para um canto. Mas sempre mantivemos contato e sempre lembrava da minha mãe”, disse. O marido da idosa morreu em janeiro deste ano.
No total, Dona Maria da Conceição teve 10 filhos. Seis deles estavam vivos quando ela saiu de casa, mas um morreu recentemente. “Estamos agora procurando nossa irmã caçula – Maria Luzia da Silva. Ela era bebê quando nos separamos. Sabemos que ela mora em São Paulo, em um convento em Americana. Pedimos que alguém que tenha o contato dela e possa avisar que encontramos nossa mãe. Só falta ela agora e vamos encontrá-la também”, disse José Antônio.
Desde a sua internação, a família de Dona Maria da Conceição cresceu bastante. Além de reencontrar os filhos, ela vai conhecer também os nove netos e cinco bisnetos. “Estamos em festa para a chegada dela em casa”, comemorou Marcelo. Os filhos também trouxeram o único documento da mãe – uma certidão de casamento. “Ela faz aniversário o dia 22 de novembro, completa 80 anos. Vamos estar juntos agora”, completou o filho.
Veja imagens do reencontro: