Ibovespa pega carona em NY e sobe após tombo de 3% na véspera
O Ibovespa sobe na manhã desta quinta-feira, 19, em sintonia com a elevação das bolsas em Nova York e em meio à expectativa de andamento da pauta fiscal no Congresso, mas sem empolgação. Isso porque houve desidratação em parte das medidas e atraso nas votações.
A Câmara adiou para hoje a votação em plenário da PEC e do projeto de lei complementar do pacote de ajuste fiscal por falta de votos ontem à noite, às vésperas do recesso parlamentar, a partir de segunda-feira.
Na avaliação de Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, o adiamento para hoje das votações finais das medidas fiscais na Câmara, diante da avaliação do presidente da Câmara, Arthur Lira, de que não havia votos suficientes, ainda pode deixar os mercados apreensivos. “Além disso, o pacote segue passando por mudanças que reduzem os efeitos das medidas”, diz em relatório.
Para Daiane Gubert, head de assessoria de investimentos da Melver, a alta do Índice Bovespa é apenas uma tentativa de recuperar parte do tombo da véspera, pois as incertezas fiscais persistem.
“A sensação é de que o governo está desafiando o País, levando ao limite. Não me parece haver uma ótica que irá salvar o Brasil se não pelo controle de gastos. Vemos o dólar e os juros altos por conta do risco fiscal, e empresários estão enviando dólares para o exterior não por especulação, mas por proteção”, diz Gubert, ao referir-se à afirmação feita ontem pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que indicava que o real está se depreciando por conta de ataque especulativo.
Os mercados também monitoram os leilões de dólar do Banco Central e de títulos do Tesouro Nacional, com o intuito de reduzir a volatilidade na divisa americana ante o real e nos juros futuros. Hoje o BC fez dois leilões, e após a moeda subir ante o real a R$ 6,30, virou para baixo e cedia 1,44%, a R$ 6,173 às 11h30. Já os juros futuros avançavam.
Ao mesmo tempo, avaliam o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado há pouco, que ressaltou que as condições financeiras ficaram bem mais restritivas agora do que há um trimestre, principalmente em decorrência da depreciação cambial e da elevação dos juros futuros domésticos. No RTI, o Banco Central destaca que a probabilidade de o IPCA de 2025 superar o teto da meta, de 4,5%, aumentou de 28% para 50%.
Ontem, além de adiar as votações finais para esta quinta, a Câmara aprovou o pacote fiscal que limita o bloqueio de emendas apenas às não obrigatórias e confirmou a revogação do antigo DPVAT. Analistas estimam que a economia com as medidas vai girar entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões, aquém dos R$ 71 bilhões propostos em dois anos. O ministro da Fazenda deve trabalhar durante as férias em janeiro, focando na análise de outras medidas para reforçar o arcabouço.
Conforme Gubert, da Melver, mesmo que o Haddad atue em direção a medidas para melhorar as contas públicas será insuficiente para restaurar a confiança dos investidores, dado que o Congresso estará em recesso. “Sozinho não consegue. O problema é o termômetro. A narrativa do governo é o PIB, que está crescendo, e então olha a fotografia que está boa, mas o mercado está olhando o filme, que está ruim”, avalia.
Nos Estados Unidos, os mercados tentam recuperação após reação negativa na véspera à indicação do Federal Reserve (Fed) de que haverá menos corte de juros em 2025, e à espera da divulgação de dados de atividade e de inflação dos EUA.
Ontem, o Índice Bovespa fechou com queda de 3,15%, aos 120.771,88 pontos, no menor nível desde 20 de junho (então aos 120,4 mil pontos). Foi também a maior perda diária em porcentual desde 10 de novembro de 2022 (-3,35%), em reação ainda à deterioração das incertezas fiscais.
Às 11h38 desta quinta, o Ibovespa subia 0,60%, aos 121.497,38 pontos, ante máxima aos 121.754,50 pontos, com elevação de 0,81%, e mínima aos 120.768,22 pontos (com variação zero), em manhã de sutil elevação do petróleo no exterior. O minério de ferro fechou em baixa de 1,08%, em Dalian, na China.