• Ibovespa fecha dia em alta de 0,09%, aos 131,7 mil pontos, e cede 0,71% na semana

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  • 04/out 17:57
    Por Luís Eduardo Leal / Estadão

    O Ibovespa oscilou em torno da estabilidade nesta sexta-feira, em margem restrita, de menos de 800 pontos, entre a mínima (131.156,35) e a máxima (131.935,97) da sessão, em que saiu de abertura aos 131.671,51 pontos. Ao fim, o índice da B3 mostrava leve alta de 0,09%, aos 131.791,55 pontos, com giro financeiro enfraquecido a R$ 16,3 bilhões.

    Na semana, acumulou perda de 0,71%, após recuperação de 1,27% no intervalo anterior. Nas quatro primeiras sessões de outubro, o saldo é de -0,02% para o Ibovespa, que cede 1,78% no ano.

    O dia foi misto para as ações de maior peso no índice, com os principais nomes do setor financeiro alinhados em alta no fechamento, tendo Itaú (PN +0,77%) na ponta e Banco do Brasil (ON -0,15%) como exceção. Parte do setor metálico, como Gerdau (PN +1,75%) e Usiminas (PNA +1,64%), também contornou a cautela que deu o tom à sexta-feira na B3. Entre as blue chips, a direção foi negativa para Vale (ON -0,73%) e divergente para Petrobras (ON +0,05%, PN -0,26%), mesmo com o prosseguimento da alta do petróleo pelo quarto dia seguido, em meio à tensão no Oriente Médio. Na semana, Petrobras acumulou ganho acima de 4,5% na ON e na PN.

    Na ponta ganhadora na sessão, Yduqs (+8,54%), Localiza (+3,46%) e Assaí (+3,41%), com CSN Mineração (-4,82%), Carrefour (-3,36%) e Vamos (-2,25%) no lado oposto.

    Em Nova York, os três principais índices de ações avançaram na esteira de leitura oficial sobre o mercado de trabalho americano, que mantém o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) a caminho de novo corte, provavelmente de 25 pontos-base, na taxa de juros dos Estados Unidos em novembro. Os ganhos no fechamento ficaram entre 0,81% (Dow Jones) e 1,22% (Nasdaq), com o S&P 500 também mostrando alta, de 0,90%, na sessão.

    Na avaliação de Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos, o mercado de trabalho americano trouxe “surpresas positivas generalizadas”: a geração de vagas foi a 254 mil, acima do esperado; a taxa de desemprego ficou em 4,1%, abaixo da expectativa, de 4,2%; e o ganho salarial médio avançou 0,4%, acima da previsão de 0,3%. “Poucos fatores atenuam essas surpresas, especialmente após a revisão para cima das leituras anteriores do payroll”, acrescenta Lohmann.

    Ele considera que emerge também da leitura do relatório de setembro a perspectiva de que o Federal Reserve venha a desacelerar o ritmo de corte dos juros americanos na reunião de novembro, o que tornaria “mais desafiadora a manutenção do ritmo de alta da Selic” prevista para o mesmo mês. No último dia 18, ao iniciar o ciclo de afrouxamento monetário dos EUA, o Fed optou por uma redução de 50 pontos-base – na mesma noite de setembro, a Selic foi elevada pelo BC de 10,50% para 10,75% ao ano.

    “Há fatores que ajudam o Brasil no cenário externo, como os cortes de juros pelo Fed e a perspectiva de novos estímulos monetários e fiscais na China, para além do setor imobiliário. Mas a cena interna continua a ser condicionada por percepção ruim sobre a condução do fiscal, mesmo após a elevação da nota de crédito da Moody’s nesta semana – um movimento que surpreendeu e, ainda assim, não fez o mercado ficar ‘comprado’ nessa ideia”, diz Cesar Mikail, gestor de renda variável na Western Asset, destacando o curto fôlego do Ibovespa após a atuação da Moody’s sobre o rating e a falta de reação no câmbio e na curva de juros.

    Nesse contexto, as eleições municipais podem ser consideradas, também, como um possível fator de precificação no curto prazo – mesmo após o primeiro turno, logo na segunda-feira. Embora não seja hipótese provável, eventual derrota do governo federal no primeiro turno no principal campo de batalha, a cidade de São Paulo, poderia ser lida de forma ambivalente pelo mercado: um reforço no apetite do governo por gastos públicos na metade final do mandato do presidente Lula ou a chance de fortalecimento de oposição com algum alinhamento à disciplina fiscal.

    Mikail aponta que os investidores estrangeiros começam a mostrar visão distinta sobre o efeito da elevação da Selic, no Brasil, enquanto o Federal Reserve segue adiante, ao que tudo indica, com os cortes de juros nos EUA. “Mesmo com o estímulo fiscal que tem feito o PIB andar no Brasil, chega o momento em que a atividade econômica começa a sentir os juros altos, e isso pode acontecer em 2025”, diz o gestor, observando que, a princípio, o ciclo de alta da Selic agrada aos investidores domésticos pela reiteração do compromisso do BC com o cumprimento da meta de inflação de 3%, em momento de transição de comando na autarquia.

    “Há menos temor de recessão nos Estados Unidos, o que ajuda a melhorar o apetite por risco global, mas o Ibovespa não consegue acompanhar esse movimento de alta devido a questões locais”, diz Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital, mencionando também os desafios associados às condições fiscais e ao cenário para os juros no Brasil. “A fraqueza de ações de peso, como Vale e Petrobras, contribuiu para o desempenho modesto do índice, hoje”, acrescenta o especialista.

    Ele ressalta que a falta de entrada significativa de capital externo na B3 e a relativa incerteza que ainda prevalece sobre o grau de ajuste da política monetária local mantêm o Ibovespa contido.

    Para Pedro Caldeira, sócio da One Investimentos, a “lateralização” do Ibovespa nesta sexta-feira também deve ser entendida pelo viés geopolítico, com o acirramento das tensões no Oriente Médio – que traz um grau maior de volatilidade especialmente para commodities como o petróleo, e leva os investidores a evitar risco no fim de semana.

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