• Ibovespa descola de NY e cai sob efeito da vitória de Trump

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  • 06/nov 11:20
    Por Maria Regina Silva / Estadão

    O Ibovespa abriu em queda nesta quarta-feira, 6, a despeito da valorização firme dos índices futuros de ações norte-americanos. A baixa reflete a vitória do republicano Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos, dado o seu perfil protecionista e expansionista, que poderá resultado em mais inflação. O dólar já reage com valorização e chegou a tocar os R$ 5,8619, enquanto os juros futuros sobem, em sintonia com o avanço dos rendimentos dos Treasuries.

    Após cair 1,39%, na mínima aos 130.613,17 pontos, há pouco o Ibovespa arrefeceu o ritmo de baixa, mas ainda seguida aquém dos 130 mil pontos.

    Para Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, ainda é cedo para que os mercados tenham uma direção, embora um dólar mais alto acaba tirando liquidez mundial.

    “E o Ibovespa em dólar fica ainda mais barato”, pontua, completando que uma continuidade da depreciação cambial tende a ser benéfico para ações de empresas exportadoras, que compõem boa parte da carteira do Índice Bovespa, que tende a sofrer menos, mas não descarta um quadro de volatilidade no curtíssimo prazo. “Embora um cenário de juros mais altos por conta da inflação elevada é ruim”, completa Lourenço.

    Desta forma, a agenda de indicadores fica em segundo plano, mas não o Comitê de Política Monetária (Copom). Para a decisão em si, está dada a projeção de alta de 10,75% para 11,25% no início da noite de hoje. No entanto, devem crescer as expectativas para o comunicado do colegiado do BC.

    “O mercado está em euforia em várias partes do mundo, Trump vence as eleições e remonta o xadrez da economia global”, pontua Felipe Sant Anna, especialista em mercado da mesa proprietária Star Desk. “O Brasil, sendo emergente, não parece ter condições de surfar esse bom humor dos mercados americanos, pelo menos em primeiro momento.”

    Todo esse cenário é ruim não apenas para o Brasil, mas para todos os países emergentes, juros mais altos nos EUA significam menos fluxo de dólares para outras economias, como o Brasil, avalia Marcos Moreira, sócio da WMS Capital.

    Com a volta de Trump à Casa Branca, países emergentes como o Brasil tendem a sofrer com o novo governo, diante da expectativa de adoção de políticas protecionistas e de um mandato com viés inflacionário, pontua José Cassiolato, sócio da RGW Investimentos.

    Conforme Cassiolato, a elevação na taxa de juros americana tira liquidez por meio da desvalorização do real frente ao dólar – que já avança nesta manhã – e tem consequências para um possível encarecimento de produtos atrelados à moeda americana, com impactos na inflação.

    “Por outro lado, pressiona a curva de juros exigindo a manutenção do prêmio conhecido por Spread Over Treasury, prêmio de risco exigido pelo investidor ao deixar investimentos que rendem em moeda forte para obter ganhos em moedas locais como a brasileira”, diz o sócio da RGW Investimentos.

    Além de os investidores monitorarem os desdobramentos da vitória de Trump, também ficam atentos ao noticiário em Brasília, dada a falta de novidades sobre o iminente pacote de corte de gastos pelo governo.

    Ontem, a reunião da Junta de Execução Orçamentária (JEO) terminou sem anúncio à imprensa. O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, disse que não há “nenhum corte previsto” na pasta. O Santander Brasil estima que o pacote deve girar entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões, englobando 2025 e 2026.

    Há pouco, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avalia que a rodada de reuniões com os ministérios setoriais sobre a agenda de corte de gastos foi bem sucedida e que todos os ministros estão conscientes da necessidade de reforçar o arcabouço fiscal. Ele explicou que as pastas da Fazenda, Planejamento e Casa Civil devem reunir as impressões colhidas nesses encontros para repassar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem caberá definir a forma como o tema será encaminhado ao Congresso e também conduzir conversas prévias com a cúpula das duas Casas – uma sinalização de interesse que ele já fez.

    Aliás, por conta da ausência de anúncio de medidas fiscais, o Ibovespa fraquejou no final da sessão e fechou em alta de apenas 0,11%, aos 130.660,75 pontos.

    Às 11h16, o Ibovespa caía 0,96%, aos 129.449,07 pontos. Na máxima, cedeu 0,04% aos 130.613,17 pontos.

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