Homens – servos e escravos de si mesmos
A escravidão não acabou e não acabará nunca, pois o homem é seu próprio carrasco e tirano. Escraviza-se em todos os momentos e, por tudo, trazendo-se, excessivamente, apegado ao próprio corpo físico.
É escravo? Sim, preso as correntes de fortes elos, que o fazem sucumbir por seus pesos em ferrugens múltiplas. O homem ainda não está vendo que, desde que começa a se entender e envolver-se na teia das reencarnações, urde-as com fios de fortes arames na escravidão materialista, acorrentando-se e escravizando-se sem ter uma visão mais ampla da vida e das razões de todo o seu viver. Por quê?
Não poderia deixar de dizer que o homem, embora se ache verdadeiro sábio em tudo, ainda não descobriu que se acorrenta e se prende, durante toda a sua vida. Quando percebe que está envolvido em sua própria trama e deseja quebrá-la, onera o próprio corpo e dilacera o Espírito, desgovernando-se em momentos de desespero e aflições. Nem a morte ou a sublime passagem por dimensões o trazem à tona, para enxergar os elos fortes que o imantam às fortes correntes terrestres, em manifestações e uso da materialidade.
Para que isso? Aonde quererá chegar com todas essas correntes, com as tantas falsas imagens, que o elegem astro-rei terreno?
A nenhum lugar, pois está preso a um só cômodo, a uma só cela, à casa mental, onde a tortura dos remorsos e do próprio distanciamento dos palcos ilusórios da densa materialidade torna-se o corretivo a ser trazido pela universal lei de causa e efeito.
Necessitamos saber que somos trazidos à vida para sermos livres e tentarmos alçar voos cada vez mais altos. Também precisamos saber usar nossas percepções, a compreendermos que a doação do próprio viver precisa ser honrada e respeitada, sendo necessário que façamos um trabalho íntimo a que não nos tornemos escravos de nossos hábitos e dos meios vivenciais na matéria, como, também, de nossos próprios defeitos, de roupagens luminosas e de belezas irradiadas e espelhadas em luxuosas suítes.
Somos livres, mas essa liberdade só se dará, se soubermos livrar-nos dos artifícios, dos aparatos e das inúmeras futilidades, que só nos comprazerão em vida física. Quando nos despojarmos desse corpo denso, nos veremos somente com os valores espirituais, que angariamos na temporada dessa prisão na vivência terrena e não nos restará nada mais dos acúmulos de que usufruímos, pois os aparatos materiais ficarão à mercê das traças e ferrugens, e, sendo assim, os valores serão os que exemplificamos em momentos de palavras, de compreensão, de augustas caridades e de ternura a todos, com os quais convivemos.
Portanto, não nos coloquemos como escravos de matérias, porque elas nos poderão reter por séculos e séculos, sem que consigamos libertar-nos por imposição de nossa própria mente, na incultura e ambição em que nos situamos.