• Hermogênio Silva, patrono de minha terra

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  • 01/06/2022 08:00
    Por Fernando Costa

    Em diversas oportunidades, ao conversarmos eu e a afilhada escritora e historiadora  Cinara Jorge repetimos: “saimos de Três Rios, mas Três Rios não sai da gente.” Conheci a luz em seu esplendor no dia 2 de julho de 1949,  ensolarada manhã em Hermogênio Silva, sub-sede do primeiro e único distrito de Bemposta. A algazarra de meus irmãos em laúza e matinada à época enriquecem a imaginação como se um coro de anjos desse as boas vindas ao menino recem-nascido. Edificado em raízes fortemente fervorosas se devem à minha mãe Eliza a inquebrantável devoção à Maria Mãe de Deus e nossa, mais tarde sedimentadas pelas professoras, sacerdotes, pessoas dignas, para mim, enciclopédias arquivadas no escrínio de meu coração roceiro. Por isso, não me esqueço das tardes quando nos assentávamos sob o pórtico construído com madeira de lei e ali naquelas pedras almofadadas ela nos contava histórias de cunho religioso, pedagógico e do cotidiano. Ao lado de nossa casa havia  o estabelecimento de ensino, onde cursei o primário. Chamava-se “Escola Estadual Dr. Eduardo Duvivier.” Em outubro de 2010, a Academia Petropolitana de Poesia Raul de Leoni, hoje Brasileira de Poesia, na gestão do acadêmico Sylvio Adalberto realizou a festa em homenagem aos mestres.  Fui honrado com as presenças de minhas professoras primárias Sebastiana do Carmo e Souza e Alice Maria Gac Coelho. Seguindo esse fio condutor acrescento que ao ingressar no colégio eu  já sabia ler e escrever. Filho de numerosa família, somamos ao todo em doze e àquela altura já havia 5 deles  à minha frente, portanto, o sexto, era comum  assistir minhas irmãs às voltas com os exercícios, apontamentos e tudo aquilo me fascinava. Graças a Deus minha infância e adolescência foram vividas literalmente no templo. Essa formação fundamentou minha vida. Era diário meu convívio à catequese e às Sagradas Escrituras.  A atenção se voltava em especial às Parábolas. Jesus Cristo ensinava através delas. Nesse diapasão, creio que a arte sacra serviu de supedâneo às preces, culto ao belo e ao religare celestial. No âmbito residencial uma de minhas tarefas preferidas era regar o jardim frontal de nossa casa e dali eu podia ouvir a Rádio Globo principalmente às  dezessete horas que levava ao ar a “Escolinha do Caçula”, porém, Marly gostava de programas musicais, também,  das Rádios Três Rios e Tupy. Nem sempre a mim era legado esse privilégio. Obedecia-se aos superiores. Eles me precederam e contribuíram em muito para a nossa educação.  Silenciosos  e orantes bastavam um olhar para dizer que aprovava ou reprovava nossas atitudes e peraltices. A produção visual da vivenda era da matriarca, cujo talento à costura me faz  lembrar as cortinas floridas de gorgorão, chitão ou “voile” e  que adornavam os janelões coloniais. A seguir, Eremita e Marina e depois, à Marly que a exercia com a severidade estoica dos antigos espartanos.  Adolescente, eu  via beleza num galho e folha seca,  tronco de árvore, pilão, vasos antigos,  gramofone, cortador de capim e tantos mais… Nesse pormenor a mana era conservadora e não permitia  inovações… A criança curiosa perguntava a um, a outro o que era isso, e aquilo e um dos  questionamentos era o  porquê de meu distrito, antes “Campo da Grama” e depois, “Hermogênio Silva?”  Surgiu ali a ideia de escrever uma carta ao programa da  Escolinha do Caçula, da Rádio Globo; certamente elucidaria minha dúvida em se considerando a ausência de biblioteca local e  menino não possuir tirocínio às pesquisas haja vista sua  tenra idade. Lápis e papel em mãos uma carta foi escrita ao “Professor Sabe Tudo” interpretado por Moysés Veltman, com quem por várias vezes já havia me comunicado pedindo músicas a exemplo de “Jesus Alegria dos Homens” executada pela Banda do Corpo de Bombeiros da cidade do Rio de Janeiro, “Cidade Maravilhosa”, “Valsa de uma Cidade”, dentre outras. Corri até Dna. Hilda Teixeira Pinto, a chefe postal do correio local e enviei a cartinha e fiquei a aguardar. O tempo transcorreu e quando menos esperei, num raro dia em que ouvi a rádio, meu nome foi mencionado e o professor entrou no ar ao me dizer: “querido Fernando Antônio, você reside num local cujo nome era o de um ilustre brasileiro. Hermogênio Pereira da Silva, mais conhecido como Hermogênio Silva, nasceu em  São Gonçalo aos  7 de janeiro de 1848 e faleceu em Petrópolis em  5 de maio de 1915. Era médico, político e jornalista. Foi senador eleito pelo Rio de Janeiro na legislatura 1909, mas não chegou a ocupar o cargo. Também foi deputado estadual para a legislatura iniciada em 1892 e terceiro vice-presidente do estado do Rio de Janeiro entre 1895 a 1897. Ocupou o executivo municipal de Petrópolis (RJ) nos períodos de 1889-1890, 1891-1894, 1896-1897, 1901-1904 e 1908-1910.” Claro, mais tarde, compulsei os alfarrábios da Biblioteca Municipal e jornais ali arquivados, inclusive, ao conversar com minha conterrânea e afilhada Cinara  confreira do I.H.P. e da A.P.L. enveredamos pelo tema e explanações outras foram rememoradas “exempli gratia” de que ao criar as estações da Leopoldina, nomes ilustres a elas foram dadas. Assim, conheci o patrono de minha terra, homem de prestígio, ornado em cultura, virtudes  e realizações, inclusive vários de seus descendentes, residente na Imperial Cidade de Pedro possuem seus nomes em edifícios, ruas e hermas espalhados em praças locais.

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