• Há uma semana fora de casa, desabrigados do Morro da Oficina aguardam laudos para inclusão no aluguel social

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  • 23/02/2022 19:13
    Por Vinícius Ferreira

    Hoje, oito dias após a maior tragédia da história de Petrópolis, que deixou até o momento 204 mortos e 51 desaparecidos, a cidade possui 875 desabrigados. Os dados são da Prefeitura, que só contabiliza os alojados nas 13 escolas onde funcionam os pontos de apoio. No levantamento divulgado anteriormente pelo ministro da Cidadania, João Roma, em visita à cidade, mais de 1.500 famílias, cerca de 6 mil pessoas, perderam as casas ou tiveram que deixar locais ainda em risco. Há pessoas em abrigos mantidos por igrejas e também em casas de parentes. Quem está nesta situação se pergunta sobre como e quando haverá o retorno ou acesso a um lar seguro.

    Entre elas está Vanilda Cristina da Silva, de 33 anos, que trabalha no Posto de Saúde do Alto da Serra. Ela mora no Morro da Oficina, em um ponto da rua Oswero Vilaça que fica a pelo menos uns 200 metros de distância da servidão Frei Leão, local mais destruído pelo desabamento que atingiu cerca de 80 residências (segundo estimativa do Governo do Estado). De casa, ela ouviu tudo e sentiu o “morro tremer”. “A escada rachou toda, o muro de contenção construído após um deslizamento que teve ali, na chuva de 1988, também. Na nossa casa, não desabou o morro, mas houve um deslizamento que descalçou a fundação da nossa casa e a gente foi obrigado a sair de lá. Só da minha família foram 27 pessoas, são oito famílias que vivem em moradias próprias em um mesmo terreno. Isso porque teve parente que não quis sair de lá”, conta.

    Vanilda e os parentes, entre eles a mãe, o filho e uma tia, foram abrigados no Colégio Estadual Rui Barbosa, no Alto da Serra. Desde o dia da tragédia, eles mal dormem. “Cada chuva que ameaça cair a gente entra em desespero. A gente ainda não sabe o que mais tem para cair. Não sabemos se estamos seguros mesmo aqui”, relata Maria do Carmo de Souza, tia de Vanilda.

    Passados oito dias, o cenário para quem não tem para onde voltar é ainda de muita incerteza e muita confusão. “Primeiro vieram dizendo que a gente ia ter que sair daqui, porque ia funcionar como ponto de apoio só para os bombeiros que atuam no resgate. Depois, o próprio prefeito veio falar com a gente que a gente não ia sair daqui”, afirma.

    Na noite de domingo (20), o prefeito Rubens Bomtempo chegou a gravar um vídeo comunicando a transferência do ponto de apoio do estado para o Quitandinha. Ao receberem a informação, pessoas que estão abrigadas no Colégio Rui Barbosa ficaram apreensivas com a possível transferência durante a noite. A Tribuna de Petrópolis chegou a conversar com uma das pessoas abrigadas no local, que relatou que houve briga e confusão, porque não havia nenhum representante da Assistência Social ou Defesa Civil do município para orientar as famílias. E os representantes do Governo do Estado diziam que não sabiam sobre a transferência dos desabrigados.

    Em meio ao caos que vivem os desabrigados, Vanilda foi informada de que terá de voltar a trabalhar amanhã (24). A mãe, que também está no abrigo, voltou ao trabalho hoje. “As contas estão chegando e a gente precisa pagar. A nossa casa é simples, mas nós lutamos muito para construí-la. Compramos móveis, reformamos. Ainda estamos pagando as prestações”, revela.

    Ainda sem aluguel social

    Hoje, pela manhã, ela conseguiu ir até a casa onde mora (que vem sendo vigiada por vizinhos, para evitar saques) para buscar alguns pertences. O que ela não sabe ainda é se essa volta para casa poderá acontecer de forma segura ou se deverá buscar o aluguel social de R$ 1 mil anunciado pelo Estado e pelo Município (R$ 800 custeado pelo governo estadual e R$ 200 pela Prefeitura). “A Defesa Civil ainda não foi lá dar um laudo, dizer se há risco, se a gente pode voltar. A gente precisa saber se ainda é seguro morar lá ou não. Também não quero voltar para casa para ser soterrada em uma chuva no futuro. Se não for para voltar, precisamos do aluguel social e sem o laudo da Defesa Civil, a gente não consegue”, diz.

    Desabrigados “automaticamente inseridos no aluguel social”

    Na tarde de hoje, o secretário de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Estado, Matheus Quintal, informou, por meio de um vídeo divulgado nas redes sociais, que os desabrigados, que estão nos pontos de apoio, automaticamente estão inseridos no aluguel social. “Os assistentes sociais estão fazendo esse cadastramento e estão cruzando essas informações junto com o governo do Estado para que possamos atender na melhor maneira possível”, disse Quintal.

    A situação é diferente no caso dos desalojados, aqueles que tiveram que deixar temporariamente um imóvel sob risco a ser avaliado, como é o caso da Vanilda e da família dela, é necessário procurar o posto montado pelo Estado no Quitandinha, no Colégio Princesa Isabel, para que seja feito um pré-cadastro no programa. “A gente pede a compreensão para que a gente consiga manter esse fluxo e atender a todos da melhor maneira possível”, disse o secretário estadual.

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