Guimarães Rosa: Obra E Encontros
O escritor mineiro João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo (1908) e faleceu no Rio de Janeiro (1967). Foi médico e diplomata. Porém a literatura lhe proporcionou a importância fundamental que se iniciou nos anos 1946, quando estreou com um volume de contos (Sagarana), onde se distinguem ‘A hora e vez de Augusto Matraga’, texto de grande densidade humana, ‘O duelo’, ‘O burrinho pedrês’ e ‘Sarapalha’. Em 1956, publicou as novelas, em dois volumes, de Corpo de Baile (1956), de certo modo antecipando a edição do monumental romance Grande Sertão: veredas, do mesmo ano. São obras “de riqueza e complexidade crescentes” (Paulo Rónai). Suas criações de linguagem, uma linguagem condensada, elíptica, a um tempo regional e universal, contribuíram poderosamente para alargar o alcance prosódico e sintático da língua portuguesa, e Grande Sertão: veredas ficou entre nós como símbolo marcador de uma extraordinária epopeia em prosa, um livro onde podemos observar algo de inusitado, de expressão exuberante e arrojada de extrema compreensão. A seguir, editou Primeiras estórias (1962), onde se destacam os contos ‘A terceira margem do rio’, ‘O espelho’ e ‘Substância’. Tutaméia (1967) é um curioso volume de crônicas de leitura envolvente. Póstumos, foram publicados Estas estórias (1969), Ave, palavra (1970) e um conjunto de textos antigos, Antes das primeiras estórias (2011). A obra de Guimarães Rosa é um atestado de que a literatura no Brasil ainda pode romper limites e suscitar criações de raro alcance expressivo.
Conheci Guimarães Rosa pessoalmente no Itamaraty em 1966, quando lhe fui apresentado pelo amigo, escritor e diplomata Genaro Mucciolo. Rosa me recebeu muito bem e autografou com desvelo e atenção os livros que eu lhe trouxera. E mais: em julho de 67, telefonou-me para o trabalho, dizendo que estava lançando novo livro (Tutaméia) e que fosse receber o exemplar que me destinara. Não tive dúvidas: larguei tudo e fui imediatamente ao Itamaraty pegar o livro. Quando Rosa morreu em novembro daquele ano, dias depois de tomar posse na Academia Brasileira de Letras, estive no velório e acabei desfeito em lágrimas de pura emoção, sendo abraçado e consolado por Paulo Rónai e Geraldo França de Lima. E até hoje, passados mais de cinqüenta anos, a recordação desses momentos ainda me emociona com força.