Greves em série no Reino Unido pressionam o governo conservador de Rishi Sunak
Enfermeiros de Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales iniciaram nesta quinta-feira, 15, uma paralisação de 12 horas para cobrar do governo britânico um reajuste salarial com ganho real, em meio à crise inflacionária que tem afetado o custo de vida no Reino Unido. A greve dos enfermeiros, a primeira autorizada nos 106 anos do sindicato da categoria no país, é a mais recente de uma série de paralisações que pressionam o primeiro-ministro Rishi Sunak e afetam o cotidiano do país.
Desde o começo do mês, categorias de setores como saúde, transportes e controle de fronteiras realizaram paralisações ou aprovaram indicativos de greve, alegando falta de reajuste nos salários diante da disparada do custo de vida. O patamar de inflação do país é o maior das últimas quatro décadas, chegando a 11,1% em outubro.
No caso dos enfermeiros, o Royal College of Nursing aprovou uma primeira paralisação para esta quinta-feira, entre as 8h e às 20h (5h e 17h em Brasília), quando 100 mil enfermeiros não devem comparecer aos seus postos de trabalho, além de motoristas de ambulância e funcionários administrativos de unidades de saúde que também aderiram à greve. Uma segunda paralisação foi aprovada pelo sindicato para 20 de dezembro, caso as negociações salariais não avancem.
De acordo com o sindicato, a paralisação não vai afetar atendimentos hospitalares de emergência e nem unidades de tratamento oncológico e de terapia intensiva neonatal e pediátrica. O governo, por sua vez, discute a mobilização do Exército para atuação serviços públicos vitais.
A onda de descontentamento com o governo pelas negociações salariais tem afetado o cotidiano dos britânicos, que passaram a precisar consultar o calendário de greves para saber quais serviços estão ou não funcionando neste fim de ano.
A rede ferroviária, por exemplo, funcionou com apenas 20% de sua capacidade na terça (13) e na quarta-feira (14) desta semana, quando funcionários das ferrovias e de 14 empresas do setor realizaram uma paralisação. Novos indicativos de greve já foram aprovados para sexta e sábado, 16 e 17, e em quatro datas de janeiro.
O líder do sindicato dos ferroviários, Mick Lynch, culpou o governo pelo impasse. “Não tenho intenção de estragar o Natal das pessoas”, disse ele à emissora britânica ITV na terça-feira. “O governo está contribuindo para estragar o Natal das pessoas porque eles provocaram essas greves ao impedir que as empresas apresentassem propostas adequadas.”
Encarregado pelo governo empossado há poucos meses, Rishi Sunak nega qualquer culpa pelas paralisações. Nesta quarta-feira, ele afirmou que seu governo “falou consistentemente” com todos os sindicatos envolvidos em todas as disputas salariais. Em paralelo, secretários de seu gabinete endereçaram críticas a categorias relacionadas com suas pastas.
O secretário de Saúde, Steve Barclay, lamentou a paralisação dos enfermeiros nesta quinta e culpou o sindicato por fazer os profissionais abandonarem seus postos de trabalho. “Nossos enfermeiros são incrivelmente dedicados a seu trabalho e é lamentável que alguns membros do sindicato sigam adiante com a greve”, disse.
Já o secretário de Transportes, Mark Harper, negou que o governo tenha bloqueado qualquer oferta que aumento salarial para os trabalhadores. “Certifiquei-me de que havia uma oferta melhor na mesa”, disse ele em declaração à BBC na quarta.
Não há indicativos de que as paralisações estejam perto de terminar. No começo do mês, o sindicato dos funcionários públicos (PCS), que lidera uma série de ações em diferentes áreas, anunciou 12 dias de greve nas estradas inglesas, entre 16 de dezembro e 7 de janeiro.
Os trabalhadores dos correios do Sindicato dos Trabalhadores da Comunicação também realizaram uma nova paralisação nacional de 48 horas esta semana e têm mais dias de greve agendados antes do Natal, o que deve afetar as entregas de fim de ano. (Com agências internacionais).