• Greve dos rodoviários mostra que crise no transporte público de Petrópolis está longe do fim

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 08/04/2022 05:00
    Por João Vitor Brum, especial para a Tribuna

    A greve dos rodoviários, que começou na madrugada de quarta-feira, 6, e chegou ao fim na tarde desta quinta, 7, expôs, mais uma vez, o quão frágil é o sistema de transporte público de Petrópolis. Com o preço da passagem caro para o consumidor, ônibus que quebram quase diariamente e o cenário de crise que as empresas enfrentam já há alguns anos, a pergunta que toma conta da população é: até que ponto dá para contar com o transporte público da cidade?

    A mais recente greve é apenas um dos exemplos das muitas fragilidades do sistema. Os quase dois dias completos de paralisação afetaram todo a rotina da cidade, evidenciando mais uma vez a importância do transporte para o funcionamento pleno dos serviços.

    Rodoviários cedem e aceitam acordo abaixo da proposta inicial

    A paralisação teve fim após o Sindicato dos Rodoviários e o Setranspetro chegarem a um acordo, com parte das reivindicações da categoria sendo atendidas. Entre as medidas anunciadas, está o reajuste salarial de 9,5% a partir de maio; o reajuste de 10% na cesta básica já a partir de abril, podendo ser concedido apenas em forma de cartão alimentação; e fim do intervalo fracionado a partir do dia 1º de maio, com jornada contínua de trabalho.

    Além disso, também foi garantido o abono indenizatório de 9,5% referente ao mês de abril de 2022, calculado sobre o salário março do mesmo ano e concedido em duas parcelas iguais e sucessivas nos dias 16 de maio e 15 de junho e supressão dos pisos diferenciados e da função do motorista júnior.

    “Estamos nesta luta desde 21 de janeiro e chegamos ao fim da negociação na tarde de hoje, por meio de muita luta. Esta luta só foi possível pois os trabalhadores rodoviários aderiram de verdade a greve. Estamos orgulhosos pois o Setranspetro, por conta de muita pressão da parte do Sind. Rodoviários, assumiu conosco formalmente o compromisso de não aplicar punição, advertência, suspensão e justa causa, aos empregados que tenham participado da paralisação de forma ordeira e pacífica, bem como não descontar dos salários as horas não trabalhadas, dos empregados que tenham participado da paralisação”, ressaltou Luis Antônio de Souza Ferreira, Vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Petrópolis.

    Já o Setranspetro, após o anúncio do fim da greve, informou que, à medida que os rodoviários fossem se apresentando nas garagens, as empresas de ônibus iniciariam a operação das linhas nesta quinta-feira (7). Porém, nas primeiras horas da noite, os coletivos ainda não estavam circulando. À meia-noite de sexta-feira (8), o serviço foi restabelecido por completo, com a operação dos “corujões”.

    Sem subsídios, passagem pode aumentar ainda mais

    A tarifa de ônibus em Petrópolis voltou ao valor de R$ 4,40 no dia 13 de fevereiro, após fim de um acordo firmado entre as empresas de ônibus e a gestão interina, no ano passado. Durante o período de vigência, foi garantido à população o desconto de 20 centavos. Mesmo que para o consumidor o valor da passagem seja considerado muito alto, o Setranspetro destaca que a tarifa ainda está defasada.

    Segundo o Sindicato que representa as empresas, o sistema permanece em absoluta crise e precisa de novas estratégias, medidas e modelos para continuar em operação. As empresas defendem que a tarifa técnica permanece completamente defasada, uma vez que a mesma foi calculada pela CPTrans com dados de junho de 2018 a maio de 2019, sem qualquer revisão ou reajuste nos últimos 28 meses.

    Agora, com os reajustes salariais definidos entre empresas e profissionais, surgem duas possibilidades para tentar reequilibrar o sistema: um novo aumento na tarifa ou o anúncio de um novo subsídio por parte do poder público. Em ambos os casos, quem cobre o rombo é o passageiro. 

    Tragédias escancaram os problemas do transporte

    Após anos de crise econômica, agravada ainda mais com a pandemia de Covid-19, as empresas de ônibus que operam na cidade começaram 2022 com sérios prejuízos, em especial após a tragédia de 15 de fevereiro, onde ônibus foram totalmente destruídos.

    Os mais emblemáticos exemplos são os dois ônibus da Petro Ita, que foram levados pela correnteza na Rua Washington Luiz. Até hoje não há uma confirmação oficial sobre o número de mortos no incidente.

    Na chuva de fevereiro, mais de 70 ônibus ficaram presos em vias da cidade e praticamente todas as linhas de ônibus não operaram. O Setranspetro estima que a primeira chuva provocou um prejuízo de pouco mais de R$ 861 mil, somente às garagens da Petro Ita e Cascatinha que foram alagadas pelo transbordamento do rio Quitandinha, na Rua Coronel Veiga. Naquele dia, à medida que o transporte foi restabelecido, os problemas com o trânsito fizeram com que até 500 viagens fossem perdidas diariamente, também impactando diretamente os usuários.

    Falta de fiscalização 

    No dia 10 de março, a CPTrans oficiou as empresas de ônibus para que retomassem 100% das frotas, sob ameaça de multa em caso de descumprimento. Na ocasião, a Companhia esclareceu à Tribuna que as empresas solicitaram um prazo de até o fim do mês (março) para cumprirem a determinação da companhia para operarem com 100% da frota, horários e veículos em operação. Passados quase um mês, as empresas de ônibus não retornaram com a frota em sua totalidade e nem mesmo a CPTrans cumpriu a promessa de fiscalização. 

    Na chuva de março, todas as linhas de ônibus tiveram a circulação interrompida como medida de segurança, com as viagens sendo restabelecidas parcialmente apenas no dia seguinte. Semanas depois da última chuva, as frotas ainda não voltaram a operar em sua totalidade.

    Últimas