• Gratidão: no virtual e na real

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  • 12/06/2017 12:25

    Nesses dias difíceis, é bom ver crescer na internet movimentos que reforçam a gratidão. Ela é a característica ou particularidade de quem é grato ou, ainda, ação de reconhecer a alguém por uma ação ou benefício recebido. Mas, só é verdadeiramente agradecido, quem pensa no favor que recebeu e tem consciência da liberalidade do benfeitor.  

    Em São Tomás de Aquino, a gratidão tem três níveis: 1º. reconhecer o benefício recebido; 2º. louvar e dar graças e, 3º., retribuir. Nas religiões em geral, a gratidão é exercida nos dois primeiros níveis, isso porque a Deus não se agradece, se louva e não se tem como retribuir.  

    Na contemporaneidade, a gratidão é utilizada apenas no 1º. nível: reconhecer o benefício recebido, mas não necessariamente ligado à consciência da liberalidade do benfeitor. Muitas vezes, se recebe um favor e se pensa que o benfeitor o fez por obrigação e não por livre e espontânea vontade.  

    No budismo, um dos exercícios mais profundos é a “prática de gratidão”. Deve-se agradecer a todos e a tudo, todos os dias, isso porque até as situações difíceis têm um lado produtivo a ser agradecido. Inicialmente, se agradece sem saber o motivo da gratidão, mas para cumprir a prática. Se agradece forçado e, quanto mais se exercita, menos forçado o agradecimento acontece. Quanto menos forçado ele acontece, mais a pessoa se interessa em achar a razão para estar agradecendo.  Por fim, a pessoa é capaz de perceber e valorizar o lado benéfico de toda e qualquer situação ou pessoa. A mudança pode vir para quem até então valorizava apenas as situações difíceis, aquilo que perdeu ou que faltava. A prática da gratidão não desconsidera a face difícil, mas lança luz sobre a face produtiva. Toda situação ou pessoa é como uma moeda, tem cara e coroa. Isso quer dizer que existem dois lados em tudo. Assim é a vida. O exercício da gratidão nos leva não à alienação diante dos fatos, mas a enxergar e valorizar o lado bom que tudo tem. A prática faz parte da abertura do “coração de compaixão”. Porém, não se deve confundir isso com ter uma postura servil ou ser capacho e deixar o outro impune. 

    Praticar a gratidão leva à solidariedade; a solidariedade à sensibilidade; a sensibilidade à paciência; e o sofrimento compartilhado à reconstrução. Essa é a importância da gratidão.  Se hoje, #gratidão se tornou febre nas redes sociais por convicção ou por moda, o importante é que a prática da gratidão tenha tido seu início. Quem sabe é ou será isso o início da reconstrução de uma sociedade mais humana. Essa onda #gratidão é um fenômeno benéfico, por pelo menos três motivos: 1º., porque as pessoas que participam dela estão exercitando a prática da gratidão; 2º., porque estão levando outras pessoas a praticar o agradecimento e, 3º., porque todos os fenômenos nas redes sociais têm uma abrangência enorme e se espalham com velocidade máxima.  Desta forma, se a prática da gratidão leva a uma sociedade mais humana, se #gratidão está contagiando milhares de pessoas e as tornando melhor, há uma chance de reconstrução de um mundo solidário. Não se pode falar numa identidade virtual pelo fenômeno # gratidão. Podemos sim, dizer que o fenômeno está mudando o posicionamento das pessoas frente aos acontecimentos individuais e coletivos e, ainda que, #gratidão está inaugurando um novo modo de vida.

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