• Grande Experiência

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  • 17/04/2017 11:30

    Certa vez, no estacionamento de um hortifrúti, tive a honra de conhecer um jovem senhor a bordo de sua motocicleta. Com quase 75 anos de vida e 50(!) anos de motociclismo, o Sr. Balbino é daquelas figuras que desejamos separar horas e horas para um bom bate-papo. Sabe aquelas pessoas que conversam sobre tudo com total segurança e propriedade? O Sr. Balbino é assim. Talvez, seu tempo de vida lhe ajudou, mas como diz o grande filósofo brasileiro Mário Sérgio Cortella, "A experiência não pode ser medida pelo tempo, mas pela intensidade da prática". E Balbino completa: "É preciso estar disposto a aprender e ouvir um pouco de tudo, pois em algum momento da vida isso irá lhe ajudar". E no motociclismo não é diferente.

    O Sr. Balbino faz questão de estar diariamente no comando de seu negócio (uma pequena fábrica de embalagens plásticas), pratica futevôlei pelo menos três vezes por semana com perfeita e invejável disposição, e claro, acelera sua moto como ato indispensável em sua vida.

    "Quando tinha 17 anos era apaixonado pela Lambreta. E como trabalhei desde novo, juntei algumas economias e decidi comprar uma. Como ainda morava com meus pais, fiz questão de comunicá-los sobre a compra, onde minha mãe não me proibiu, mas usou alguns argumentos maternos para convencer o então dono da lambreta a não me vende-la!", lembra Balbino no meio a gargalhadas. Ele continua: "Mas iniciei no mundo do motociclismo com uma CB125cc verde, modelo 1974. Depois disto, muitos foram os modelos de motos que passaram por minhas mãos, desde as pequenas até algumas grandes".

    O Sr. Balbino já viajou bastante de moto, inclusive algumas dessas viagens junto com sua esposa, a Dna. Léia: "Minha esposa sempre foi muito parceira em tudo, inclusive nos momentos em cima da moto, onde até debaixo de chuva esteva comigo".

    E falando de viagens, uma delas acabou lhe acrescentando muita experiência: "Uma vez, meu sobrinho e eu fomos de Petrópolis à São Paulo de moto, na época uma CB400, para participar de um campeonato amador de futebol. Só que no meio do caminho começou a chover muito forte, e nossa única proteção além de nossos capacetes, eram nossas jaquetas de couro, que ficaram totalmente encharcadas! Tomamos muito banho de água suja lançadas por ônibus e caminhões e também passamos muito frio. E o pior: chegando lá, a partida de futebol tinha sido cancelada!" lembra Balbino com aquela expressão de quem estivesse revivendo o passado. Mas ele tirou duas boas lições desta situação: A primeira, é que o motociclista deve se programar antes de viajar, em prol da segurança e conforto. A segunda lição é que, todo motociclista nunca pode "perder a viagem", pois naquele dia ele aproveitou para conhecer algumas cidades e estradas de São Paulo.

    Após um tempo de conversa com o Sr. Balbino, percebi que a paixão pelo motociclismo não ficou retido somente com ele. Paulo Roberto, seu filho mais novo, também acabou carregando o mundo das duas rodas em seu DNA: Paulo foi piloto e campeão de motocross no Rio de janeiro na década de 1990. Hoje, entre muitas outras coisas, Paulo administra o tempo em seu negócio junto com seu irmão Carlos Henrique (eles estão à frente de uma rede de lubrificação automotiva em Petrópolis) mas sem esquecer, é claro, dos assuntos voltados ao motociclismo. "Até hoje, meu filho Paulo e eu trocamos algumas idéias sobre moto, e também por muitas vezes, ele me passou algumas dicas de pilotagem, principalmente sobre segurança nos off-road. Mas a parte mais radical deixo pra ele que é mais corajoso", afirma o Sr. Balbino com expressão de orgulho ao falar dos filhos que tem.

    Mas, como nem sempre as estradas são bem pavimentadas, nossas vidas também nos oferecem alguns buracos e desvios. Há um tempo, Balbino foi diagnosticado com um tipo de câncer, e claro que isso o preocupou. "Mas o que fazer agora? Ficar parado ou agir?" indagou ele. E assim ele fez: Acionou o freio para algumas práticas não saudáveis; olhou no retrovisor todas as boas coisas que vivera até o momento; se vestiu de toda a proteção e apoio familiar; acelerou em busca dos tratamentos médicos, e… ufa! O Sr. Balbino demonstrou que realmente é um bom piloto, inclusive de sua vida: conseguiu vencer o câncer, e ficou curado!

    Com postura amigável, constante sorriso no olhar e muitos bons (bons mesmos!) conselhos, o Sr. Balbino me fez lembrar de uma frase: "Toda moto vem com um pacote de amigos como item de série", e ainda posso completar: "Algumas vezes com grandes professores".

    Ah! E para encerrar nosso bate-papo, segue seu último conselho: "Sei muito bem respeitar meus limites, a começar por minha idade, onde sei que meus reflexos não são mais os mesmos que antes. Mas espero que os jovens de hoje também saibam respeitar seus limites e outras coisas, como: Motos não são brinquedos; Ruas da cidade não são pistas de corridas; e respeitar o próximo não é careta, mas sim atitude de quem tem caráter".

    Muito obrigado Sr. Balbino, por disponibilizar de seu tempo para compartilhar um pouco de suas experiências. Deus te abençoe.

    Um grande abraço a todos, e boas estradas!

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    Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Jornal Tribuna de Petrópolis.

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