
Gramsci já foi longe demais…
Antonio Gramsci (1891-1937) foi um filósofo marxista italiano que deu uma espécie de cavalo de pau na visão de Marx em matéria de tomada de poder pela classe trabalhadora. Para Marx, a infraestrutura econômica, o lado material do homem, era o que definia a realidade humana. Há aqui uma certa pobreza (ou será muita?) espiritual do Mouro, que era o apelido de Marx, por ter pele morena, junto a familiares e amigos próximos.
Gramscsi, por sua vez, percebeu que a superestrutura da sociedade – cultura, tradições, valores e visão de mundo tradicional –, tinha um papel fundamental na manutenção do poder da burguesia. Sem corroer este poder por dentro, seria impossível fazer a revolução. Foi em busca de uma espécie de alma da burguesia. Passa longe da ideia de que tais valores pudessem embutir algo de mais permanente na história da humanidade. Para Gramsci são mutáveis, e é preciso declarar-lhes guerra mortal.
Mas – atenção! –, esta guerra deve ser subliminar. Nada deve ser feito abertamente. A destruição da superestrutura da burguesia – instituições, escolas, universidades, sindicatos etc – deve ser tramada pelos intelectuais orgânicos da classe trabalhadora sem que os atores tradicionais que as mantêm percebam. Má-fé evidente por parte de Gramsci. É sempre aquela história de serem a vanguarda da classe trabalhadora em cujo QI não confiam. É preciso destruir a hegemonia cultural da burguesia sobre a sociedade.
(Em contraposição, vale relembrar o posicionamento de Cristo quando aqui esteve entre nós. Nada às escondidas. Tudo às claras e de boa-fé. Trazia a mensagem de amor ao próximo, a luta pela paz, mesmo que fosse necessário dar a ida por esse ideal. Ia ao extremo de amar os inimigos. Nada de luta de classe, coisa que o tinhoso adora. Enfim, é o oposto da proposta de Gramsci).
Mas o que é que esta visão de mundo subliminar tem a ver com o Brasil das últimas décadas? Muita coisa, como veremos a seguir.
De fato, os intelectuais orgânicos da classe trabalhadora vêm fazendo um trabalho de destruição dos valores cristãos que sustentam a sociedade brasileira. O trabalho número um foi a avacalhação da história do país. Ou seja, os fatos que se danem. Vamos inventar outros que nos levem ao poder.
Resumidamente, funcionou assim. D. João VI foi apenas um fujão, medroso e glutão. D. Pedro I, um fauno insaciável, que só pensava naquilo. D. Pedro II foi mais difícil de destruir. Mesmo assim, apelaram, então, para a economia, que teria ficada parada no tempo com crescimento pífio da renda real per capita. Novas pesquisas comprovam que não foi nada disso. A princesa Isabel teria sido uma bobinha, pau mandado do marido, o conde D’Eu.
Felizmente, hoje, muitos livros sérios de autores que respeitam os fatos vêm fazendo um belo trabalho a favor da verdade histórica. O escritor Paulo Rezzutti com seu livro “D. Pedro II – A História Não Contada” e o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança em seu livro “Império de Verdades” nos revelam o que realmente aconteceu ao longo do século XIX ao invés de embarcar na pobre narrativa gramsciniana. Meu livro “História da Autoestima Nacional” comprova que o Império foi um sucesso na política e na economia.
O processo de destruição da memória nacional já caminhou bastante. Tomemos o caso de nossas notas. No anverso, elas têm aquela cara da república de estômago embrulhado, coisa perfeitamente compreensível dada a desconexão entre a população e seus ditos governantes. No verso, tem uma coletânea de animais como tartaruga, garça, mico leão dourado, arara, onça, e, na de maior valor, o lobo-guará. Em países latino-americanos nossos vizinhos, o papel-dinheiro traz sempre as fotos de suas grandes figuras históricas. Idem no resto do mundo. Aqui, é o apagão proposital da memória nacional.
Tomemos as aulas de História do Brasil. Livros didáticos usados nos níveis fundamental e médio vêm fazendo um trabalho de desinformação lamentável. Um amigo advogado me relatou o seguinte episódio, que se passou com sua filha. Certa feita, ela lhe fez a seguinte pergunta: “Pai, posso mentir na prova de História para tirar boa nota?” Ele tomou um susto, e lhe perguntou: “Como assim, minha filha?”. Ela lhe explicou que o professor inventou uma narrativa diferente sobre determinado fato de nossa história, que não batia com a verdade factual.
Este mesmo advogado, alertado sobre o que vinha ocorrendo na USP, resolveu fazer alguns cursos lá para ver se as denúncias tinham fundamento. Nas áreas de filosofia e história, ele constatou que estavam completamente dominadas por uma visão de esquerda, muito na linha gramsciniana, de fazer o desmonte da narrativa tradicional e impor uma alternativa manipuladora dos fatos históricos.
Ainda me recordo do depoimento de um grande intelectual inglês em que ele nos revela a técnica usada pelos comunistas para caminhar em direção à realidade que lhes convém. O que realmente aconteceu passa a ser irrelevante. A técnica é criar uma realidade paralela ajustada ao objetivo de tomada do poder, ou seja, “fatos” inventados ao bel-prazer deles, em especial, através da manipulação dos intelectuais orgânicos seguindo a receita de Gramsci.
Nada escapou. As propostas de Gramsci penetraram fundo nas escolas e universidades, nas igrejas, nos sindicatos, na imprensa escrita e televisionada. Na área de comunicação, qualquer posição de direita é logo rotulada de extrema direita como se não existisse extrema esquerda. A insistência do (des)governo Lula em enquadrar a internet dá bem a medida do controle almejado com a típica cara de estrema esquerda.
Sempre que ouvir falar, caro(a) leitor(a), no nome de Antonio Gramsci saiba que vem enganação. Os valores tradicionais como liberdade de expressão, de pensamento e de imprensa, que nos mostram sempre os dois lados da informação que nos chega, seria apenas manipulação da classe dominante. O pensamento unidirecional de Gramsci não tem compromisso com os fatos.
**Sobre o autor: Gastão Reis é economista, palestrante e escritor.
**Contato: gastaoreis2@gmail.com