Gloriosa herança
Ando pesquisando as origens da minha ascendência tanto paterna quanto materna visando fechar os 2º e 3º volumes de meu livro (1981) “Os três Heleodoros”.
Sobre o tema já produzi artigos e pesquisas sobre meu pai (1888-1959), meu avô (1847-1898) e meu bisavô (….-1860), todos batizados com o mesmo nome: Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos.
Para chegar à data natalícia de meu bisavô, ainda sem confirmação (provavelmente nascido no final da década de 1810), consegui saber os nomes de seus pais, (trisavô e trisavó), residentes na cidade do Porto, em Portugal, na primeira metade do século XIX. Seus nomes: Manoel Gomes dos Santos e Ana Isabel Ermelinda Gomes dos Santos. De minha trisavó tenho a data de falecimento, em 16 de maio de 1853 na mesma cidade portuguesa, graças ao registro de testamento no arquivo do bairro de Cedofeita, processo nº 5948, aberto em 1º de junho de 1853. Preciso viajar a Portugal para pesquisar toda a documentação sobre o casal.
Quanto ao trisavô, Manoel Gomes dos Santos, consegui registros na Gazeta Oficial do Porto, nº 16, editada em 31 de maio de 1828, assinalando ter sido ele comandante do 1º Batalhão de Voluntários Reais do Sr. D. Pedro IV, na cidade do Porto, destinado a garantir a legitimidade do trono português a D. Pedro IV (nosso D. Pedro I da Independência do Brasil), usurpado por D. Miguel, refrega que gerou guerra civil sob a capitânia dos valorosos cidadãos do Porto em marcante atuação na defesa da coroa do Rei de Portugal.
Manoel Gomes dos Santos publicou na Gazeta uma Ordem do Dia, em 28 de maio de 1828, concitando os cidadãos portuenses a integrarem o batalhão de voluntários, Eis o trecho final da Ordem do Dia: “[…] Eia, pois, compatriotas meus, correi às armas, vinde unir-vos aos vossos concidadãos; eu estou pronto a receber-vos para que unidos melhor possamos conservar, e manter ileso, o trono ao melhor dos monarcas, o sr. D. Pedro IV – ou pereceremos todos”. […] “Assim mostraremos ao mundo inteiro a nossa lealdade ao rei legítimo, e que descendemos de verdadeiros e antigos portugueses”.
Terminada a guerra, vencida pelos partidários de D. Pedro IV, afastado D. Miguel e com o falecimento do rei legítimo, assumiu o trono português a filha de D. Pedro IV, a brasileira carioca Maria da Glória, sob o título de D. Maria II. Criada pelo Reino a Ordem de N. S. Da Conceição de Vila Viçosa, visando tornar cavaleiros os valorosos defensores da legitimidade e outras pessoas gradas, D. Maria II outorgou a comenda conforme assinala o Registro Geral das Mercês, livro 37, fls. 8-V a 9-V, em 9 de janeiro de 1851, “[…] tomando em consideração os bons serviços que Manoel Gomes dos Santos, negociante da praça do Porto tem prestado ao País, desde longos anos, em vários corpos de segunda linha, chegando a exercer o posto de tenente-coronel-comandante de um batalhão nacional, criado em 1828 por ocasião da reação que naquele ano teve lugar a favor da causa da liberdade […]”.
Na mesma Carta, a rainha D. Maria II declara atender ao pedido do agraciado no sentido de que a comenda passe ao filho Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos “[…] em quem também concorrem qualidades que o tornam merecedor da minha real magnificência. Hei por bem fazer mercê ao dito seu filho de o nomear Cavaleiro da Ordem de N. S da Conceição de Vila Viçosa […]”. Este filho tornou-se prestigiado empresário teatral na Corte do Rio de Janeiro e o filho deste inscreveu-se no corpo dos “Voluntários da Pátria”, cumprindo toda a campanha da Guerra do Paraguai, ascendendo na reforma ao posto de Capitão, com 4 medalhas conquistadas nos campos de luta, a maior delas, a de bravura na batalha de Tuiti.
Assim, juntando os fios da meada histórica, chego ao santo orgulho de ver meus ascendentes em luta pela justiça e pela legitimidade de um rei e de honra de um Império, deixando impressas nas linhas da história a marca de valor e compromisso, bens que herdei e que procuro honrar.