Funeral sem carpideiras
Ninguém chora por Dilma Rousseff, nem uma única carpideira, nem as senadoras de sua tropa de choque na Comissão de Impeachment. Insistirão no teatro da agonia, com o mantra do golpe e da violação ao estado democrático de direito, mas novamente sem nenhum sucesso.
Há em tudo isso muito jogo de cena, apenas com o propósito de pavimentar o retorno do lulopetismo às hostes da oposição. Portanto, ultrapassada a última fase do impedimento, cumpre deixar o cadáver definitivamente sepultado. É o que fazem os dirigentes do PT, que nunca se sentiram representados no governo, até porque Dilma jamais vestiu pra valer o macacão com as cores petistas.
Confesso que não consigo identificar qualquer virtude, mínima que seja, na atuação da presidente afastada. Lá sei, pelo menos alguns poucos aspectos positivos, que afastassem uma visão maniqueísta de seu governo, limitada entre o bem e o mal absolutos. Dilma tem a irrefreável tendência para o desastre político, com o despreparo pessoal levado às ultimas consequências e a imagem da desvirtude permanente.
Passada a campanha, começou a revelar-se inteira, como de fato é e sempre foi. Sem dispor dos milagres do marketing, mostra-se de improviso aos olhos da Nação, cometendo todo tipo de asneiras retiradas de seu interminável arsenal de sandices. Sem os retoques providenciais e mágicos de seu marqueteiro João Santana, preso e processado pela Lava-Jato, experimenta uma sucessão de tragédias, em suas entrevistas e pronunciamentos públicos.
É o que se vê agora com a carta que dirigiu aos senadores e ao povo brasileiro. Martela sobre o discurso de uma nota só, ao proclamar-se inocente e vítima de um golpe parlamentar. É a velha e indefensável retórica, cansativa e exasperante, compatível com a figura desagradável da presidente faltosa.
Em mais uma ação desonesta, propõe a antecipação de eleições presidenciais via consulta plebiscitária, sabendo-a inviável, pois não conta sequer com o apoio de seu partido. Posa de democrata, embora intolerante com o uso do diálogo, fazendo jus à sua vocação autoritária, tipificada no passado de guerrilheira, quando defendia a implantação no país da ditadura do proletariado. Fala que seu grande erro político foi a escolha do companheiro de chapa, subestimando o apoio que recebeu do PMDB, sem o qual jamais seria reeleita. Omite que seus graves equívocos e desregramentos sempre estiveram umbilicalmente ligados ao seu temperamento irascível, no trato da questão política e em seu relacionamento com o Congresso Nacional. Acenando com um impossível reordenamento comportamental, promete o que jamais cumprirá, porquanto a impaciência e a grosseria são indissociáveis de sua natureza. Em relação ao combate à corrupção, repete a mesma ladainha, como se fosse admissível uma posição contrária à Operação Lava-Jato, que recebe os aplausos da sociedade brasileira.
No mesmo instante em que Dilma endereçou sua defesa ao Senado, numa infeliz coincidência, o Supremo Tribunal Federal autorizou investigação contra Lula e a própria, por tentativa de obstrução da justiça, com fundamento em provas sólidas. A carta da presidente, sem nenhuma repercussão sobre o processo de impeachment, caiu no vazio. Imagine-se então o que virá com sua anunciada presença no dia do julgamento, quando de sua inquirição pelos senadores favoráveis ao impedimento. Será a crônica da morte anunciada, sem que ninguém possa derramar uma lágrima, nem seu s mais próximos auxiliares, vítimas de sua proverbial indelicadeza.
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