Fundação é criada para conscientizar sobre doação de órgãos e debater segurança no trânsito
A Fundação Luísa, entidade sem fins lucrativos criada para difundir a conscientização sobre doação de órgãos e também debater a segurança no trânsito, será lançada nesta quarta-feira (9), através de uma live no Instagram da Fundação, às 20h.
O dia 9 de junho não foi escolhido aleatoriamente para o lançamento da entidade: neste dia, a estudante Luísa Camilo Ferreira, que motivou a criação da fundação, completaria 16 anos. A jovem foi vítima de um acidente de trânsito em novembro do ano passado, na BR-495, estrada que liga Petrópolis à Teresópolis. Atendendo ao desejo da adolescente, seus órgãos foram doados, um ato de amor que salva vidas.
Entenda o caso:
Primeiro de novembro de 2020. Um domingo, como tantos outros, em que o gerente comercial José Ricardo Ferreira saía de casa com sua família para participar da missa na Paróquia de Madame Machado, em Itaipava. O trajeto de 3,5 km pela Estrada Philúvio Cerqueira (Petrópolis-Teresópolis), feito rotineiramente pela família cristã, foi interrompido de forma trágica. O carro em que viajavam José Ricardo, a esposa Marlúcia, o filho Lucas, de 20 anos, e a filha Luísa, então com 15 anos, foi atingido brutalmente por um veículo que seguia na contramão. Tudo foi muito rápido. “Só vi o carro vindo em nossa mão no que parecia ser uma ultrapassagem”, relembra José Ricardo. Os bombeiros prestaram o primeiro atendimento e as vítimas foram levadas para um hospital de Petrópolis. Pai, mãe e filha estavam em estado grave. Luísa já chegou na unidade com a suspeita de morte encefálica. O que foi confirmado três dias após o acidente. Sua mãe, com múltiplas lesões nos órgãos vitais, também não resistiu e morreu no dia 7 de novembro. José Ricardo não pôde se despedir de ambas. Também com múltiplas lesões, ficou internado no CTI durante 15 dias. Ele e Lucas, que sofreu ferimentos graves em uma das mãos, carregam as dores de mais uma família desfeita pela violência no trânsito.
Mas a dor virou combustível para que junto com amigos iniciassem um movimento em prol da doação de órgãos e também pela segurança no trânsito. Luísa, que 15 dias antes do acidente revelou à avó materna sua vontade de ser doadora, sonhava em ser médica e se especializar em transplantes. “Isso me foi revelado pela minha sogra e foi fundamental para que autorizasse a doação”, relatou o pai.
Decisão de doar é da família
Mas para a Lei 9.434/97, que trata sobre transplantes de órgãos no Brasil, a vontade do doador não é suficiente para a retirada dos órgãos. Ou seja, mesmo sendo expresso pela pessoa em vida, quem decide a doação é a família. Dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) apontam que, entre janeiro e junho de 2020, 36% das famílias de possíveis doadores não autorizaram a retirada dos órgãos. “Uma alteração na legislação poderia mudar estes números, caso a vontade da pessoa fosse levada em consideração”, destaca José Ricardo. “O tabu sobre como ficará o corpo após a retirada dos órgãos também é um impeditivo para que muitas famílias autorizem a doação. A fundação nasce com a proposta de esclarecer questões como essas e quem sabe mudar a realidade de algumas das mais de cerca de 40 mil pessoas que estão hoje na fila de transplantes”, disse. “Nossa meta é difundir a conscientização dos jovens em relação à responsabilidade, segurança e respeito no trânsito e também estimular a discussão no seio das famílias sobre a questão da doação de órgãos”, explicou o pai de Luísa. “Hoje, os jovens são as maiores vítimas da violência no trânsito em nosso país”, ressalta.