Funcionários do Detran cruzam os braços na hora do exame prático
Na manhã de ontem, os funcionários do Detran paralisaram por uma hora os exames para motorista que estavam sendo realizados no Quarteirão Italiano. Todos os postos do estado que realizavam as provas aderiram à greve e o motivo foi a falta de pagamento e de estrutura. A pausa dos serviços fez com que os agendamentos atrasassem por 30 minutos e às 11h os exames retomaram normalmente.
No local das provas, os candidatos estavam tranquilos e nenhum tumultuo foi identificado. De acordo com o presidente da banca, Eduardo Cruz, a paralisação foi decidida em uma assembleia com o sindicato e não causou transtornos para os candidatos. “Mesmo com a paralisação, 50% das pessoas que estavam marcadas para o período das 10h às 11h fizeram a prova. O exame estava adiantado e quem tinha compromisso com escola ou estava com crianças pequenas fez a prova antes das 10h”, afirma.
A greve dos servidores públicos é uma resistência dos profissionais contra a falta de pagamento, insumos, condições de trabalho, dentre outras. No entanto, como a questão é estadual e compete a diversos órgãos públicos, a paralisação toma uma proporção maior. Em diversas cidades do estado do Rio de Janeiro os policiais civis aderiam à “Operação Basta”. A paralisação limitará as atividades durante 72 horas. Dessa forma, do meio-dia de ontem até o meio-dia de segunda-feira os delegados das cidades que aderirem ao movimento apenas vão fazer procedimentos urgentes, como medidas protetivas, apreensão de drogas e o registro de ocorrência de crimes mais violentos, como homicídio, estupro, latrocínio, roubo e furto de veículos.
Em Petrópolis, a 105ª Delegacia de Polícia ainda não aderiu à paralisação dos serviços, mas, de acordo com o delegado titular, Alexandre Ziehe, a possibilidade de adesão para as próximas semanas não está descartada. Em carta enviada aos delegados da região, Alexandre destacou as dificuldades enfrentadas e, segundo ele, há dias como a falta de papel e tonner, fechamento dos banheiros por falta de limpeza ou mesmo manutenção de viaturas “como um simples reparo de pneu”. Ele falou ainda o porquê da unidade ainda não ter aderido. “Absurdamente, os agentes não receberam desde novembro. Essa é uma briga que deveríamos aderir.
“O pessoal da limpeza não recebe desde janeiro, está sem transporte e sem salário. Não há uma verba mínima para manutenção do prédio e/ou viaturas. O Sistema de Metas não considera os IPs com êxito, as prisões realizadas e o crescimento do tráfico de drogas. Somos cobrados por algo que, às vezes, não temos controle ou sob aspectos não considerados pelo sistema de metas. Lutamos a cada dia para atender à população, agora sem RAS, sofrendo junto com nossos companheiros que não recebem pelo justo trabalho que já foi realizado. Não posso acreditar em um movimento que aponta para uma greve às 22h e inicia ao meio-dia. Esse parece não ser o caminho, uma greve açodada, sem esclarecimento prévio à população e sem adesão de toda a instituição (delegados, agentes e peritos)”, declara.
O delegado titular da 106ª Delegacia de Polícia, Nei Loureiro, contou que os trabalhos também seguem dentro da normalidade apesar das “limitações impostas pela falta de material de insumo básico, de pagamento dos terceirizados, das horas extras dos policiais e ainda do salário mensal que não foi depositado”.
De acordo com o comandante do 15° Grupamento de Bombeiros Militar, tenente-coronel Eric Soledad, as informações de que o Corpo de Bombeiros está operando em “operação padrão” – que seria apenas o atendimento emergencial – não procede. “A informação que o comandante tem é que não procede esse boato, que é falso. Em Petrópolis não vamos aderir à paralisação. Dentro do quartel está tudo normalizado. Foi feita uma reunião recentemente para sondar como as tropas estavam e ficou decido que ainda não iríamos aderir”, afirmou o comandante, que ainda confirmou que os salários dos militares não estão atrasados.
Na tarde da última quinta-feira, os estudantes se juntaram aos professores do estado em apoio à greve que já acontece desde o dia dois deste mês. Segundo os professores, a luta não é apenas salarial, mas também contra a perda de direitos, melhores condições nas escolas e, principalmente, por uma educação pública de qualidade. A paralisação é por tempo indeterminado e, de acordo com a professora de Sociologia da E. E. Dom Pedro II, Renata Teixeira Siqueira, a greve vai contra 12 medidas apresentadas pelo governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, para reduzir a crise financeira. Uma delas implica nos direitos dos servidores públicos. No antigo Cenip, 70% dos professores aderiram à greve, sendo que o turno da tarde está fechado.
“O governo não aceita conversar e a gente não tem negociação. A nossa greve não é só salarial, mas uma resistência que luta contra a perda de direitos. A greve também é um meio pedagógico de mostrar para os estudantes que eles não têm que aceitar a condição do momento e se abaixarmos a cabeça ensinamos para eles a sujeição. Nós somos agentes da mudança”, afirma.