Fumaça das queimadas na Amazônia chega a Petrópolis
O petropolitano percebeu, nos últimos dias, algo incomum no céu. O tempo parece nublado, porém, os raios de sol chegam e deixam a temperatura elevada. É que as “nuvens”, na verdade, são fumaça. É o que apontam informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), obtidas através de imagens de satélite. Nesta quarta-feira (04), a Cidade Imperial constava na rota da poluição causada pelas queimadas que assolam o Brasil, principalmente a Amazônia.
As imagens de satélite do Inpe mostram uma grande massa de fumaça sobre a América do Sul, atingindo ao menos dez países. No Sudeste brasileiro, a poluição encobre o céu nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, sul de Minas Gerais e parte do Espírito Santo. A profissional contábil Isabela Brandão, 36, trabalha no Centro de Petrópolis e ficou preocupada com a situação.
“Estou no Centro trabalhando, e comecei a ficar rouca, acredito que seja por isso. Comecei a reparar o céu e pesquisei sobre o que poderia estar acontecendo. Achei matérias falando sobre a fumaça que se espalha por várias cidades do país, que pode estar vindo da grande queimada na Amazônia, além das possíveis queimadas nas próprias cidades”, relatou na tarde desta quarta-feira (04).
O médico Mestre em Saúde Pública, coordenador do Ambulatório Escola e professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis (UNIFASE/FMP), Paulo Sá, a poluição com produtos químicos afeta mais o pulmão. Ainda assim, neste caso atual, as fuligens que chegam da Amazônia à Petrópolis são mais finas, conseguindo ir mais fundo nas vias respiratórias, o que requer atenção.
“A fuligem deposita nos pulmões, mas os pulmões reagem, produzindo bastante muco, tentando expulsar aquilo. Por isso que as pessoas que têm alergia, ou quando já têm uma mucosa previamente inflamada, porque tem rinite, alguma coisa assim, quando vem a fumaça aumenta mais ainda a secreção e a irritação nas vias respiratórias, com grande produção de muco, dando muito pigarro, às vezes tosse, a maioria das vezes tosse seca por causa da presença da fuligem”, explicou.
O aumento da secreção também é propício para desenvolvimento de vírus e bactérias, que podem afetar o pulmão e evoluir para pneumonia. “Os cuidados que se deve tomar, quando a quantidade de fuligem é muito elevada no ar, é fechar as janelas, procurar ter um ar que tenha filtro, ou seja, ter um ar-condicionado que filtre o ar. Se você tiver um lugar frio, fechar as janelas, mas quando sair, colocar, especialmente, uma máscara”, afirmou o médico, lembrando também da importância de ingerir bastante líquido.
Segundo o Ministério da Saúde, a fumaça agrava os efeitos da baixa umidade do ar. Em Petrópolis, por exemplo, a quinta-feira (05) pode ter umidade mínima de apenas 20%, bem abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 50%.
A pasta recomenda à população uma série de medidas para se proteger em casos de fumaça (veja a lista completa ao final da matéria).
O Ministério de Meio Ambiente informou que atua, desde o início da atual gestão, na prevenção e combate aos incêndios, com a Comissão Interministerial Permanente de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas (leia a nota na íntegra ao fim da matéria). O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) foi relançado em 5 de junho de 2023. Com a retomada da fiscalização ambiental, houve queda de 50% da área sob alertas de desmatamento na Amazônia no ano passado na comparação com 2022, segundo dados do sistema Deter, do Inpe.
O MMA também informou que os incêndios florestais no Brasil e em outros países da América do Sul, como Bolívia e Paraguai, são intensificados pela mudança do clima, que causa estiagens prolongadas em biomas como o Pantanal e Amazônia, onde a seca é a pior em 40 anos.
A Tribuna de Petrópolis questionou a Prefeitura sobre como os órgãos municipais monitoram a situação. Até a última atualização, não houve respostas.
Orientações do Ministério da Saúde para a população:
• Aumentar a ingestão de água e líquidos ajuda a manter as membranas respiratórias úmidas e, assim, mais protegidas;
• Reduzir ao máximo o tempo de exposição, recomendando-se que se permaneça dentro de casa, em local ventilado, com ar condicionado ou purificadores de ar;
• As portas e as janelas devem permanecer fechadas durante os horários com elevadas concentrações de partículas, para reduzir a penetração da poluição externa;
• Evitar atividades físicas em horários de elevadas concentrações de poluentes do ar, e entre 12h e 16h, quando as concentrações de ozônio são mais elevadas;
• Uso de máscaras do tipo “cirúrgica”, pano, lenços ou bandanas podem reduzir a exposição às partículas grossas, especialmente para populações que residem próximas à fonte de emissão (focos de queimadas) e, portanto, melhoram o desconforto das vias aéreas superiores. Enquanto o uso de máscaras de modelos respiradores tipo N95, PFF2 ou P100 são adequadas para reduzir a inalação de partículas finas por toda a população;
• Crianças menores de 5 anos, idosos maiores de 60 anos e gestantes devem redobrar a atenção para as recomendações descritas acima para a população em geral. Além disso, devem estar atentas a sintomas respiratórios ou outras ocorrências de saúde e buscar atendimento médico o mais rapidamente possível.
Pessoas com problemas cardíacos, respiratórios, imunológicos, entre outros, devem:
• Buscar atendimento médico para atualizar seu plano de tratamento;
• Manter medicamentos e itens prescritos pelo profissional médico disponíveis para o caso de crises agudas;
• Buscar atendimento médico na ocorrência de sintomas de crises;
• Avaliar a necessidade e segurança de sair temporariamente da área impactada pela sazonalidade das queimadas.
Nota do Ministério do Meio Ambiente:
O MMA atua desde o início da atual gestão na prevenção e no combate aos incêndios com a criação da Comissão Interministerial Permanente de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas em 1º de janeiro de 2023.
O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) foi relançado em 5 de junho de 2023. Com a retomada da fiscalização ambiental, houve queda de 50% da área sob alertas de desmatamento na Amazônia em 2023 na comparação com 2022, segundo dados do sistema Deter, do Inpe.
Ibama e ICMBio têm cerca de 4,3 mil servidores na ativa, além de mais de 3 mil brigadistas em atuação neste ano, incluindo 1.468 na Amazônia. Na semana passada, foi autorizada a contratação de mais brigadas temporárias em 20 estados.
A resposta federal é coordenada pela sala de situação de ministros para ações de prevenção e controle de incêndios e secas, criada em junho e coordenada pela Casa Civil. O grupo divulga boletins semanais sobre a atuação do governo federal, que podem ser acessados aqui.
Em abril foi lançado o programa União com Municípios, que prevê investimentos de R$ 785 milhões para promover o desenvolvimento sustentável e combater o desmatamento e incêndios florestais em 70 municípios prioritários na Amazônia. Em 5 de junho, o presidente Lula assinou pacto com governadores para combate ao desmatamento e aos incêndios no Pantanal e na Amazônia.
Em julho, o presidente sancionou o Projeto de Lei n° 1.818/2022, que institui a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo. No mesmo mês, o presidente publicou Medidas Provisórias que autorizaram R$ 137 milhões para combate aos incêndios no Pantanal, incluindo R$ 72,3 milhões para o MMA, para agilizar o combate a incêndios florestais e para facilitar a atuação de aviões estrangeiros no combate ao fogo.
O Ciman, que coordena operacionalmente a atuação de órgãos federais no combate aos incêndios no país, reúne-se três vezes por semana desde junho. Pela primeira vez as reuniões do grupo começaram no primeiro semestre, com a antecipação em dois meses da temporada de incêndios no Pantanal.
Os incêndios florestais no Brasil e em outros países da América do Sul, como Bolívia e Paraguai, são intensificados pela mudança do clima, que causa estiagens prolongadas em biomas como o Pantanal e Amazônia, onde a seca é a pior em 40 anos.