FSem atuação do BC, dólar volta a subir com exterior e fecha a R$ 6,1931
Sem leilões do Banco Central (BC), o mercado de câmbio voltou a acompanhar no Brasil o movimento de valorização do dólar frente às moedas de economias emergentes. Dados fracos da indústria na China, principal destino das commodities industriais, e a alta leve nos juros pagos pelos Treasuries sustentaram mais um dia de fortalecimento da moeda americana no mundo.
Já entre as explicações domésticas ao comportamento do câmbio nesta sexta-feira, operadores citam fatores técnicos, relacionados à rolagem de contratos cambiais futuros, e remessas ao exterior de lucros e dividendos de investimentos no Brasil. A desaceleração da inflação, mostrada pela leitura de dezembro do IPCA-15, ajudou a aliviar a pressão sobre os juros no curto prazo, porém de forma contida porque a leitura qualitativa do índice segue ruim, com os serviços subjacentes avançando.
O mercado de trabalho apertado, como confirmado pela taxa de desemprego em 6,1%, o menor nível da série estatística de 12 anos, também reforçou a leitura de que o Banco Central (BC) terá de ser mesmo firme para buscar a convergência da inflação à meta. Porém, a tendência de juros mais altos no Brasil não ajudou a impulsionar o real, dado o olhar dos investidores para os riscos fiscais, agravados pela possibilidade de a crise das emendas prejudicar o andamento no Congresso da agenda econômica, que inclui o orçamento do ano que vem.
Assim, após bater a máxima de R$ 6,2154 e marcar valorização de 0,58% nos dez primeiros minutos do pregão, o dólar teve uma breve queda ainda na primeira hora da sessão. Chegou a R$ 6,1712 (-0,13%), a mínima do dia, sob a influência da primeira coleta de taxas para a formação da Ptax diária, a penúltima de 2024. No resto do pregão, no entanto, voltou ao terreno positivo, com a moeda americana marcando alta de 0,22%, a R$ 6,1931, no fechamento desta sexta-feira.
Economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa comenta que, sem injeção de liquidez do BC, o desempenho do real ficou mais próximo de seus pares emergentes. Ele observa que, à medida que a posse de Donald Trump nos Estados Unidos se aproxima, as moedas desses países tendem a refletir cada vez mais a perspectiva das tarifas prometidas pelo futuro presidente. “Além disso, a dúvida fiscal continua presente. O mercado aguarda o anúncio pelo governo de mais medidas de ajuste.”
Segundo o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o mercado, que vem mostrando forte aversão a risco, não acredita em recuperação consistente do real, dada a perspectiva de elevação da dívida pública. Ele cita uma percepção de investidores de que os juros não vão ter tanta eficácia para reduzir inflação, dado o repasse cambial, de forma que, entende, será necessário que o BC venda mais dólares.
“A dominância fiscal entrou no radar, deixando o dólar sob pressão. Sem apoio razoável no Congresso, em meio ao impasse das emendas, o governo vai ter mais dificuldade de aprovar medidas fiscais. Então, se não houver um choque fiscal muito forte, capaz de estabilizar a divida, não há razão para o dólar cair”, afirma Velho.