Fragmentos Da Alma
A escritora Maria Aparecida Rezende Lacerda envia a esta seção seu livro de poemas Fragmentos da alma (Juiz de Fora: Gryphon, 2018). No texto introdutório ao volume, “Minhas razões…”, a autora diz que no livro, “faço uma radiografia do meu ser poético, do meu ser irrequieto, uma síntese de como sou, penso, ajo, sonho. É quase um autorretrato.” Pois é isto, este reconhecimento de sua necessidade de se achar à disposição da poesia, sem procurá-la, é o que de fato confere valor aos versos que escreve. Portanto, visto que não se considera verdadeiramente poeta na realidade, ela alcança um patamar um tanto mais alto. Claro está, porém, que sua poesia sofre altos e baixos como é natural e, ao lado de poemas de boa ou excelente realização, encontram-se textos a que falta um mínimo de cuidado na redação definitiva, tais como os dois primeiros que abrem a coletânea: “As três sementes” e “Marionete”: não é com boas intenções que se faz boa poesia. Bem melhores, no entanto, são os poemas “Intempérie”, “Cansaço”, “Sonhos”, “Sereno” (uma espécie de recordação da juventude), “Vestido vermelho”, etc. É curioso reparar que alguns poemas estão reunidos no livro de acordo com a temática, como aqueles que se debruçam sobre as misérias e malefícios da sociedade no Brasil e no mundo, sendo importante assinalar “Vale de lágrimas” (e que aborda o desastre ambiental do rio Doce em Mariana), “A Copa”, “A morte”, “Grilhões” e “O menino sírio”. Às vezes, a autora busca refletir sobre indagações existenciais, mas nem sempre o consegue. Está em excesso presa a uma dicção superficial, de quem se contenta com a primeira versão que lhe sai de um poema. Não é exatamente o seu caso, porém seu trabalho no redigir dá essa impressão. E outra coisa: por vezes ela expõe desejos, e esses desejos são uma espécie de tentativa para apaziguar o horror pela nojenta realidade que vivemos: “Momento mágico” é um típico exemplo. E, mais adiante, ajuntam-se todos os poemas de amor, sejam apenas conjugais ou francamente eróticos. São especiais os poemas “Espectros”, “Meu menino grande”, “Súplica”, “Cicatriz”, “Teus olhos”, “Casulo”, “Sonata…”, “Invasor”, “Êxtase” (todo erguido com palavras proparoxítonas), “Depois do amor”, além de outros. No final, situam-se alguns dos melhores textos do livro, cabendo ressaltar “Van Gogh”, “Fonética”, “No meu deserto”, “Brinde”, “Quando?”, “Ponto final” e principalmente “Fragmentos da alma”, excelente resumo de todas as indagações e perplexidades da autora, cuja poesia se deve estimular para que, no futuro, possamos avaliar seu aprendizado e suas melhorias. Vale a pena.