• Fora do limite tolerável

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  • 03/08/2017 12:00

    Sou delegado de Polícia do Estado do Rio há 17 anos, estando, durante todo esse tempo imune ao viés político. Vi e vivi muita coisa, mas, graças a Deus, sempre escorreito e de cabeça erguida, buscando evitar e discutir conflitos sociais que refugissem às minhas obrigações funcionais. Hoje, porém, vejo-me compelido a externar minha opinião e compartilhar com a sociedade meus pensamentos e ideias.

    A morte de, até o momento, 91 policiais militares permanece letra morta na maioria dos segmentos da sociedade em que vivemos. Parece que essas mortes nada representaram para demonstrar que os conflitos sociais passaram do limite tolerável. Estamos alheios. Estamos apáticos. Acostumamo-nos a viver com a barbárie e malversação do dinheiro público, como se isso fosse banal. Não é possível que o Legislativo, como responsável único na confecção de leis, espere a morte de um magistrado ou alto membro do Executivo para fazer uma norma de forma atabalhoada e que na verdade não alcançará os efeitos desejados. E, o que é pior, transformá-la numa norma injusta, carregada de subterfúgios jurídicos, incapaz de efetivamente servir para alguma coisa concreta.

    Simples: o cumprimento de pena em regime integralmente fechado, no caso de mortes ou com ferimentos permanentes em policiais civis e militares (inclusive das Forças Armadas) em serviço. Simples: a mesma forma de cumprimento de pena ao ser preso na posse de armas de calibre restrito ou proibido.

    Simples: a colocação de rastreadores nos carros novos, o que impediria roubos, remarcações, fraudes e desmanches. Muitas vidas deixariam de ser ceifadas e centenas de traumas psicológicos evitados! Simples: a venda de celulares somente com Imei, ou seja, celulares somente oficiais.

    A quem interessa que essas medidas não sejam adotadas imediatamente? Parece que a única resposta coerente seria: aos corruptos! Aos que auferem lucros com essa indústria? Às seguradoras? Às indústrias de armas? Temos que dar nomes aos bois, doa a quem doer! Podemos ter ainda outras formas de valorizar o policial. Basta um mínimo de vontade!

    Qual a razão de não inserir nas chamadas cotas (negros em escolas públicas), o filho do policial que dá a vida pela sociedade? Tal estudo poderia ser precedido de um rápido debate para que sejam contemplados os policiais, civis e militares, que tivessem conduta exemplar por mais de 5 ou 10 anos, por exemplo.

    Isso já seria um enorme incentivo para manter-se na linha, imune à corrupção, eis que seus filhos terão ensino fundamental, médio e superior garantidos. Será que isso é tão difícil? Ou será que não interessa a uma pequena parcela da sociedade ter um policial honesto? Imagine o policial sonhar que o filho terá chances de ser músico, engenheiro ou médico?

    Por qual razão não exasperar a pena da corrupção passiva? Por qual razão seguir e não contestar benesses aos poderes judiciário (1,3 do PIB em contraponto aos países de 1º mundo, com 0,10 do PIB), legislativo, MP e TCE, como férias em dobro e outros penduricalhos, enquanto o servidor de executivo passa fome e tem sua honra abalada (aumentando o número de suicídios) ao não cumprir seus compromissos?

    Por qual razão carros, academias, funcionários comissionados em excesso e outras benesses institucionais, como educação aos filhos, assistência mé- dica estratosférica, diárias extravagantes para transporte, auxílio-combustível, auxílio-alimentação, auxílio-moradia, correios, números estratosféricos de servidores, barbeiro e fisioterapeuta no Congresso, etc., etc., etc., quando sequer temos um plano básico de assistência ao policial militar que é baleado em serviço e deve viver de esmolas?

    A solução passa por um grupo de pessoas de bem que desejem ver nosso Estado do Rio lidar com algo diferente, profícuo, correto, e que em 20 anos, por exemplo, nos propicie colher frutos de nossa atitude. Algo que dê esperanças aos nossos filhos..

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