• Foo Fighters traz bem mais do que um novo baterista no The Town

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  • 10/09/2023 09:00
    Por Julio Maria / Estadão

    Talvez seja a primeira vez em um festival que as atenções estivessem mais voltadas para o baterista do que para o próprio vocalista. Josh Freese: músico de estúdio, 50 anos, filho de um maestro de uma banda da Disneylândia, Freese teve seu primeiro teste diante dos brasileiros na noite deste sábado, 9, ao lado do Foo Fighters. A cadeira que ocupou é cara: ali, por 23 anos, entre 1997 e 2022, quem sentou-se foi Taylor Hawkins, um dos bateristas mais virtuosos do rock.

    A morte de Hawkins, que também tinha 50 anos, precoce, trágica e às vésperas de um show no Brasil (no Lollapalooza de 2022), deixou os fãs chocados e apreensivos. Afinal, o que seria da banda sobretudo sem a poderosa mão direita de Hawkins? Seria o mesmo Foo Fighters (que já teve na bateria o próprio líder, Dave Grohl)?

    Às 23 horas em ponto no The Town, essas perguntas começaram a ser respondidas, justamente pela bateria de Freese. Um solo estrondoso com a guitarra de Grohl para a entrada de All My Life. Muita pressão, como se derrubassem juntos uma muralha de aço.

    Em The Pretender, já era possível perceber uma espécie de reconexão com um tipo de festival que não existe mais, um rock and roll que parece perder a vez desde o surgimento de uma nova geração ligada ao rap e ao soul. Foo Fighters soa como uma redenção.

    A raiva do “gente boa” Dave Grohl traz esse alento na introdução de No Son of Mine, e ao longo de sua imensa jornada, com uma parte devastadora feita por Freese quando ele ataca o bumbo com dois pedais tempestuosos. Mas, detalhe, por que a plateia estaria tão estática? Porque não estariam sentindo? Não, mas talvez porque estivessem todos com os celulares erguidos para o alto.

    Então a noite se aquece numa memória pop de anos 90 onde nem tudo era quebradeira. Walk, Times Like These, Under You. Há um lugar que os filhos do grunge criaram e que só eles conseguem acessar. Um equilíbrio entre o doce e o grito, o melódico e o irascível, a transgressão e o mais absoluto conservadorismo. Logo depois de um riff com duas toneladas de pressão, Dave Grohl pode cantar uma melodia que faria sua filha dormir. Nada nesse mundo é muito linear.

    Ele só fala com a plateia depois da quinta ou sexta música, e leva o show para outro lado com Times Like These, com uma bela entrada feita com teclado e voz. Tudo irá pelos ares a qualquer momento, a plateia percebe, assim que Freese implodir o romantismo de Grohl.

    O espaço de pista do palco Skyline tem uma disposição ruim. Ele começa largo na beira do palco e passa a afunilar mais e mais, tornando os espaços mais distantes quase impossíveis de ser compartilhados. Sua lógica é inversa. Quem está mais longe do palco se aperta mais do que os que estão à frente. Na hora em que essa multidão precisa sair, o funil segura todo mundo.

    Mas, ao contrário dos outros shows, ninguém parecia querer sair do Skyline enquanto Grohl estivesse ali. Freese teve todo o espaço de Hawkins e talvez até um pouco mais. Ao ser apresentado por Grohl, recebeu um longo aplauso, mais que os outros integrantes.

    Era evidente que o estavam aprovando ao mesmo tempo em que aplaudiam também Taylor Hawkins. Só não foi mais comovente do que a homenagem a Hawkins, que seria feita por Grohl com Aurora.

    My Hero fez as pessoas cantarem juntas enquanto era possível, antes que chegassem coisas mais violentas como This Is a Call, The Sky Is a Neighborhood e Shame Shame. Já havia uma hora e meia de show, e a previsão era de mais nove músicas. Fechou com mais de duas horas de duração, a performance, até aqui, mais longa do festival.

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