Fito Paez começa trilogia com o inspirado ‘Los Años Salvajes’
Fito Paez tem conseguido algo raro entre sua geração, um feito que o coloca, 37 anos depois do primeiro álbum, como um ponto acima do teto da música argentina de seu tempo. Mesmo tendo aparentemente esvaziado suas inspirações no notório álbum de 2020, La Conquista Del Espacio, ele volta do isolamento com o que anuncia ser o primeiro ato de uma trilogia. Los Años Salvajes, criado durante a pandemia, com dez músicas inéditas, será seguido em 2022 de um álbum instrumental, com tratamento sinfônico feito pela Orquestra Nacional Checa, e, depois, por um disco minimal, de piano e voz.
Los Años Salvajes é um álbum que a crítica argentina saudou justificadamente como um grande feito e a brasileira ignorou solenemente – nada diferente da postura histórica das “costas viradas para a vizinhança hispânica” que só nos empobrece cada vez mais. O próprio Fito diz algo sobre isso, conscientemente ou não, na abertura de Vamos a Lograrlo. “Se você só acredita nos mercados e não vê quem tem perto, você vai perder o melhor de ambos.”
Fito, 58 anos, segue em movimento, alterando rotas e reprogramando expectativas o tempo todo. Apesar de feito da mesma insatisfação social diante de uma Argentina doente, Los Años traz sensações diferentes. Vamos a Lograrlo, Lo Mejor de Nuestras Vidas, Lili and Drake e Shut Up são quentes, jovens e às vezes brutais. Já La Música de Los Sueños de Tu Juventud e Encuentros Cercanos chegam apaixonadas, saudosas e avaliativas. Caballo de Troya, Sin Mi en Vos e Los Años Salvajes, que traz muito simbolicamente a voz da superstar argentina Fabiana Cantillo, sua ex-mulher, são mais frescas, mais pop.
ELVIS COSTELLO. A crítica argentina destacou por muitas vezes a presença de Abe Laboriel Jr. em todas as faixas, o estupendo baterista que toca há mais de 15 anos com Paul McCartney (mais tempo do que Ringo Starr). Mas Laboriel também estava em La Conquista Del Espacio, de 2020, com sua caixa clara, martelada e brilhante. Elvis Costello, lembrando o quanto tem a ver com o canto de melodias sem polimento e de fios soltos de Fito desde a primeira aproximação com a gravação que o argentino fez para sua Radio Radio, surge na faixa Beer Blues. Algo mágico. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.